Que tipo de escola queremos construir? Como seria um ambiente escolar adequado para as necessidades das crianças – brincar, mexer com terra e ter liberdade para experimentar e descobrir o mundo? Para Thereza “Therezita” Soares Pagani, a convicção de que brincar é condição essencial para que as crianças possam absorver e criar conhecimento e cultura a levou a fundar a Te-Arte, em 1975, escola de educação infantil no Butantã, zona oeste de São Paulo.
A existência da Te-Arte é pautada por um princípio: “é brincando que se aprende”. Em entrevista para o Jornal da Universidade de São Paulo (USP), em outubro de 2006, a educadora explica que as crianças vão para a escola “para viver, se conhecer e conhecer aquela possibilidade que elas têm de se alfabetizar pelo tato, pelo cheiro, pelo ouvido, pela visão e pelos sentidos”, em uma perspectiva pedagógica que valoriza a natureza, a arte, a simplicidade e a cultura popular. Para Therezita, o brincar é capaz de preparar a criança para qualquer lugar do mundo.
“Notei a importância de a criança se bastar, porque ela se bastando na brincadeira, se conhecendo melhor, ela tem interesse pela parte intelectual” – Therezita Pagani, em entrevista para o Jornal da USP.
“A Therezita organizava um microcosmos social, onde as crianças encontravam elementos para o seu fazer, seu brincar, sua imaginação, sem estar organizado de uma forma pensada pelo adulto. Um espaço de liberdade, onde a rotina seguia o ritmo da criança”, conta Ana Cláudia “Cacau” Leite, consultora de educação e infância no Instituto Alana. Para ela, a educadora trazia a urgência de priorizar o cuidado das crianças e de não terceirizar a educação dos filhos, além de “ser um exemplo muito forte do que todo educador deve desenvolver em si: entusiasmo, alegria, inteligência, acolhimento, mas também a capacidade de trazer um limite, de forma clara e amorosa”.
Do chão da escola para as telinhas
Da experiência na Te-Arte nasceu o filme “Sementes do nosso quintal” (2012), um filme dedicado “à criança universal”. O documentário, de Fernanda Heinz Figueiredo, retrata o cotidiano na escola das crianças de diferentes faixas etárias que convivem diariamente, sem separação de classes.
Em entrevista realizada durante o Festival Ciranda de Filmes, em 2015, Therezita comenta a valorização da autonomia infantil e de espaço para a experimentação, pois os pequenos “têm como essência a necessidade de pesquisa manual, corporal e sensorial o tempo inteiro”, justificando o contato com a natureza, a música e a arte no dia a dia.
“As crianças são nossos melhores instrutores. É só estarmos atentos!” – Therezita Pagani, em artigo para a Folha de S.Paulo, em setembro de 2004.
* Nascida em Colatina (ES), Therezita Pagani faleceu hoje (12), aos 91 anos, e deixa um rico legado voltado à educação para a primeira infância e a importância do brincar para o desenvolvimento infantil.
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