As crianças aprendem com tudo o que vivenciam, observam, escutam e, principalmente, com os comportamentos que absorvem dos adultos. Então, é de importância fundamental discutir de que forma os pequenos desenvolvem a relação com o seu corpo e o corpo do outro. A erotização infantil e a sexualização precoce atravessa as etapas de desenvolvimento da criança e antecipa seus aprendizados, o que pode ser bastante nocivo.
O que é sexualização precoce?
Antes de mais nada, é preciso atentar para o fato de que sexualidade é diferente de sexualização. A primeira é inata ao ser humano e deve ser estimulada de maneira saudável. De modo que a criança tenha familiaridade com seu próprio corpo, saiba identificar onde dói para ajudar os pais e cuidadores a tomar conta de sua saúde. E também possa se instrumentalizar para estabelecer os limites entre carinho e abuso.
Já a segunda acontece de fora para dentro, ou seja, não é um processo natural da criança. E sim uma manobra que adultiza a criança, muitas vezes é encabeçada pela publicidade infantil. O Toda Criança Pode Aprender aborda o assunto no texto “Sobre os riscos da erotização precoce na infância”.
“Ilustremos com uma situação relativamente comum nos dias de hoje: se um menino ou uma menina, ainda pequenos, são apresentados a uma cena de sexo explícito, seja ela televisionada ou assistida ao vivo. Muito provavelmente eles, além de não entenderem completamente do que se trata, serão invadidos por uma gama de sentimentos e fantasias a respeito do ato, que pode gerar desde uma excitação exacerbada que provoca ansiedade. Até sentir medo por acharem que se trata de algo violento, que machuca, gera dor.
Em ambas as situações – ou em quaisquer outras possíveis impressões que os pequenos possam vir a ter em relação ao que viram – o impacto dessa apresentação tão adiantada em suas vidas acaba por trazer interpretações equivocadas, deixando marcas importantes nesse processo”, diz a publicação.
O papel dos adultos
O texto fala sobre a importância de os adultos atentarem para as referências que apresentam às crianças, evitando colocá-las em contato com conteúdos inapropriados, como cenas eróticas em filmes e novelas. Mas, além disso, o texto chama a atenção para o quanto incentivamos beijos e abraços em crianças, muitas vezes de forma nociva para sua individualidade, como quando estimulamos interação com desconhecidos.
“Não é raro vermos adultos incentivando as crianças, seja com perguntas ou como forma de entretenimento, a ter comportamentos que fazem parte do mundo maduro, como namoros e beijos na boca”
“Uma linha bastante tênue passa por esse território, que se justifica tratando do assunto como uma simples brincadeira. O mesmo pode se dar em cenários que parecem ainda mais inofensivos. Como quando estimulamos que cantem e dancem utilizando-se de gestos impróprios, usem maquiagens, salto alto e se vistam como ‘gente grande’.”
Isso não quer dizer que as crianças não possam ter curiosidade a respeito do mundo adulto. E queiram satisfazer esse interesse pelo que observam, por meio da interpretação lúdica desses papeis. Mas é fundamental que tenham clareza dos limites que existem entre o brincar e a realidade. O que pode ser compartilhado e o que invade os limites do outro. Esse norte será dado sempre pelos adultos, por isso sua participação decisiva nessa condução.
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