A arte que é produzida para a infância – a chamada literatura infantil – é um dos buracos de fechadura por onde podemos vislumbrar outros mundos possíveis, e é nela que as crianças aprendem que é possível ser pirata, princesa, pescador, astronauta, cientista ou presidente. As crianças podem ser o que elas quiserem. Nessa retrospectiva literária, nós celebramos as muitas publicações infantis e infantojuvenis que estabelecem pontes potentes na jornada de formação de crianças e jovens, ao mesmo tempo em que dialogam com leitores de todas as idades. A essas histórias – e também a tantas outras lançadas neste ano que não aparecem aqui -, as infâncias (das crianças de zero a cem anos) só têm a agradecer.
Retrospectiva literária
Tem livro que conta como é crescer longe de casa, outro que percorre o país de norte a sul para visitar múltiplas infâncias, outro que convida a (re)pensar a diversidade e a diferença, e outro ainda que se interessa por estreitar a nossa intimidade com os mitos originários das culturas tradicionais. Nessa retrospectiva (limitada, sim, como toda lista inevitavelmente é), o Lunetas propõe um passeio por parte da literatura que passou por este ano, focando nos livros escritos por autores nacionais, a fim de contribuir com uma formação de leitura que conhece e valoriza a cultura brasileira.
Esses livros (e muitos outros, para a sorte dos leitores) povoaram as estantes dos pequenos e encantaram também os adultos que leem com eles. Ao ampliar o olhar sobre um determinado tema, estes livros nos lembram que a escritora e pesquisadora María Teresa Andruetto só poderia estar certa quando afirmou que “a escrita é como um território para compreender e ser compreendida, como uma imersão em nós mesmos para nos conhecermos e conhecer algo da sociedade da qual fazemos parte” (a citação está no livro “A leitura, outra revolução”, Edições Sesc São Paulo).
Lembrou de algum livro afetivo para você ou para a sua cria que não está nessa lista? Conta pra gente!
12 livros para a infância publicados em 2019
Vencedor do prêmio Jabuti na categoria Infantil, o livro tece, com a ternura do ponto de vista de uma criança, a relação com uma avó cheia de manias e singularidades afetivas. “Este livro não é sobre a Avó Azul (embora ela também dormisse sem boca). Ele também não é sobre a sua avó (porque eu nem sei qual é a cor dela) Ele é sobre a minha Avó Amarela (de quem, às vezes, fico roxa de saudade).” (Ozé)
“Um convite a dar um novo sentido para a natureza que nos cerca. Inspirada nos haicais japoneses, Lúcia Hiratsuka pesca sons, imagens e sensações guardados bem lá no fundo da memória e, com a naturalidade e a delicadeza das pinceladas em tinta sumi, faz surgir a poesia que está na simplicidade do cotidiano.” (Zahar)
“Bia e o elefante são inseparáveis e completamente diferentes. Bia gosta de brincar lá fora, e o elefante prefere ficar dentro de casa. Um gosta de correr, outro de andar devagar. Mas todas essas oposições não os impede de serem grandes amigos. Uma narrativa delicada e divertida sobre diversidade e afeto” (Jujuba). O livro integra a coleção “Literatura de colo“, que publica livros pensados para a primeiríssima infância, período que vai da gestação aos 3 anos.
“Quase ninguém viu” – Aline Abreu (Jujuba Editora)
“De onde viemos? Quem são nossos pares, família, que estarão sempre com a gente? Aline Abreu, escritora e ilustradora deste já premiado livro (vencedor do Prêmio João-de-Barro de Livro Ilustrado 2016), traz esta e outras questões que permeiam nossa existência pela voz de um girino, que se perde de sua família e vive em busca de sua essência. Poeticamente, a autora nos mostra que, quando juntos, somamos nossas diferenças e compartilhamos nossos melhores afetos.” (Jujuba)
“Os autores deste livro conheceram o Brasil, conectando-se com as crianças das beiradas de rios, dos grandes centros urbanos, de comunidades quilombolas e povos indígenas – regiões algumas vezes próximas, outras bem distantes. Os registros dessa longa viagem – que se iniciou em 2011, em textos, vídeos e fotos -, estão reunidos aqui, permeando saberes, narrativas e vivências compartilhadas com crianças em seus quintais.” (Peirópolis)
O livro explora diálogos e possibilidades com o espelho. O que ele vê? E se ele pudesse ser um outro alguém? Quem ele seria? Para o Pinóquio de Alexandre Rampazo, dois desafios são lançados: a descoberta da identidade e a aceitação de si. Clique aqui para ler a resenha do livro publicada no Lunetas.
“A coisa brutamontes escrito por Renata Penzani (repórter do Lunetas), e ilustrado por Renato Alarcão, conversa sobre a morte com a naturalidade do ponto de vista da criança. Como o personagem percebe a morte na infância? Como ele vê os adultos que fogem do assunto? A linguagem do livro mistura elementos do imaginário e da realidade, e não faz concessões ao nomear os sentimentos difíceis, como o luto e a tristeza. Clique aqui para ler a resenha do livro publicada no .
“O menino morava no lago. Sozinho”, assim começa este livro-objeto que (sem spoilers!) guarda uma surpresa no final. No abrir das páginas sanfonadas, o lago vai se ampliando e crescendo em extensão. O leitor, então, é convidado a se perguntar: “que lago é esse? será que eu o conheço?”. Um livro para com crianças de todas as idades sobre nascimento, identidade e afeto. Para saber mais sobre o livro, entre em contato com o projeto Biblioteca Amarela.
O livro traz um compilado de mitos de origem – aqueles que narram como nasceram as coisas, que costumam fazem tanto sucesso com as crianças -, histórias de amor, fábulas e muitas outras formas de narrar o mundo e o cotidiano nas aldeias pelo ponto de vista de quem tem mais familiaridade com eles. Clique aqui para ler a entrevista com Maurício Negro publicada no Lunetas.
O narrador deste livro narra cada coisa, pessoa e animal que vê da sua janela em uma favela do Rio de Janeiro. Dela ele vê cores, traços, gestos, objetos e bichos cujas vidas podem ser parecidas ou diferentes da sua, mas com certeza têm algo a ensinar. “Com uma narrativa sensível e ilustrações cheias de vida e movimento, “Da minha janela” é um convite a todos os leitores para olharem para as vidas que nos cercam mas, muitas vezes, passam despercebidas.”
Para apresentar aos pequenos leitores mulheres pioneiras de diversas profissões, o livro compõe um abecedário ilustrado do trabalho feminino. O resultado é um divertido acervo afetivo de mulheres que transformaram realidades ao redor do mundo, e uma forma de transmitir às crianças o valor da História que foi escrita antes de nós. Clique aqui para ler a nossa entrevista com a autora do livro, Janaina Tokitaka.
O livro é inspirado na trajetória de crianças que vivem situações de refúgio e que são obrigadas a deixar seus países e famílias. Na história, Amal é uma menina que viaja sozinha da Síria até a Itália para fugir da guerra. Ela enfrenta viagens de carona até a Turquia, chegando de barco até a Grécia e embarcando novamente até a Itália para encontrar um tio distante chamado Malik. Com mais coragem do que anos de vida, a menina encara a jornada como nos seus contos preferidos, os de Simbad, que “fez sete grandes viagens pelo mundo, enfrentando monstros e tempestades de areia.” Leia a matéria do Lunetas sobre o livro.
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