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Racismo na escola: ‘ele não ia brincar comigo porque sou marrom’

Uma criança negra está deitada no colo da mãe, com o rosto triste. A mãe passa as mãos em seus cabelos, fazendo carinho.

Luciana Bento é mãe e escreve sobre maternidade, negritude e literatura afro. Conhecida nas redes pelo blog A Mãe Preta, ela é colunista do Lunetas, e escreveu um texto que explica de forma didática como o racismo acontece na prática dentro das escolas, e como ele se constrói e se perpetua nas referências das crianças. Não por acaso, o texto se chama “Como nasce o racismo”, e narra uma situação viva pela filha, de três anos.

“Mamãe, o menino falou que não ia brincar comigo porque os amigos dele são brancos e eu sou marrom. Ele disse que não gosta de marrom.”
“E o que você disse filha?”
“Eu disse que eu gosto de marrom, e que às vezes as famílias são marrom. E toda a minha família é marrom e eu sou linda!”
” Ah é filha? E ele?”
” Ele disse que só brinca com os amiguinhos brancos.”

Por que uma criança diz algo assim? De onde vem a referência de que é preciso rejeitar alguém pela cor da pele?

São as perguntas que Luciana se faz, antes até de se preocupar com a filha, que, pelo que indica sua resposta, está bem amparada e consciente da beleza de suas raízes.

No texto, Bento chama a atenção para a complexidade do racismo estrutural, uma vez que não basta conscientizar os de filhos sobre a questão, mas sim trabalhar o assunto em larga escala, na comunidade escolar, juntos aos professores, à direção e envolvendo as famílias não negras na discussão. Afinal, toda situação como a narrada acima envolve pelo menos duas partes, e para evitar que ela não se repita, é preciso muito mais do que empoderar a criança que sofre o preconceito.

“Eu posso até informar a escola o que minha filha me contou essa manhã. Mas nada me garante que o meu bilhete na agenda será observado. Nada garante que as professoras olharão com mais cuidado para as interações entre as crianças e perceberão essas situações a ponto de intervir. Nada me garante que a escola tomará atitudes para que as crianças vejam as diferenças de forma positiva”, observa.

“Nada me garante que a família do menino será informada, para que também possa se dedicar a uma educação para conviver e respeitar as diferenças”

Assim, ela pondera o que talvez seja a questão principal do racismo na sociedade: ele precisa ser urgentemente encarado como um problema comum a todos. Somente amparada por uma família, escola e adultos sensíveis à importância dessas reflexões é que a criança poderá aprender desde cedo a valorizar as diferenças.

“Nosso trabalho de formiguinha só vai resolver uma parte do problema, a parte que os afeta”

“Minha filha contou isso com naturalidade, como se fosse mais um fato corriqueiro da escola e sorriu quando me contou a sua resposta para o menino. Eu posso trabalhar para que ela entenda que é o menino que sai perdendo com essa atitude, mas e a outra parte? Quem trabalha pra ensinar o menino a conviver e respeitar as diferenças?”, , questiona.

“Quem ensina pra essa criança que essa atitude é racismo? Quem percebe logo na primeira infância as raízes dessa atitude e procura combatê-la?”

Ela ressaltou, em entrevista ao Lunetas, ela afirma que “o racismo de criança para criança é um reflexo do que a sociedade faz”. Leia a publicação na íntegra.

 

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