“Todos os dias, jovens me procuram para mostrar suas cicatrizes e pedir ajuda. Eu mesma cheguei a cometer automutilação quando tinha 13 anos. Lembro que me cortei em um momento de desespero. Então, sei que cada um que se corta está passando por momentos difíceis. E a última coisa que precisam é de pessoas que os julguem, ou digam que isso é coisa de ‘quem quer chamar a atenção’ ou de fraco”.
Vanessa Bencz conseguiu superar essa fase de sua vida, tornou-se jornalista e escreveu o livro “A menina distraída”, que conta a história de uma menina vítima de bullying na escola que é salva por uma super-heroína. Hoje, tornou-se uma ativista social em busca de paz nas escolas e desde 2012 realiza palestras sobre empatia de norte a sul do país. Agora seu projeto é de publicar o livro “Por enquanto”, que conta a história de uma menina que pratica automutilação.
“Resolvi fazer um livro para que a questão da automutilação seja debatida nas escolas – e para que os leitores encontrem conforto e superação. Tenho interesse também que pais e mães tenham acesso a este material para ficarem atentos”, contou Vanessa ao Lunetas. O Brasil não tem estatísticas oficiais, mas todos os estudos internacionais chegam ao mesmo número e indicam que 20% dos jovens praticam a automutilação.
De acordo com a jornalista, devemos ficar atentos, pois a a automutilação começa já na infância. “Ouvi relatos de crianças de oito anos”. Seja com arranhões nos próprios braços, barriga ou pernas; seja com pequenos cortes pelo corpo; seja arrancando cabelos e cílios.
Na maioria dos casos, as crianças cometem a automutilação quando o sofrimento delas já saiu do controle. “Muitas crianças são fechadas e realmente não chegam a solicitar atenção – mas, em muitos casos, elas já pediram atenção aos pais (talvez de uma forma pouco óbvia) e não foram ouvidas. Isso porque somos uma cultura que dá nomes pejorativos a esses pedidos de ajuda: manha e chilique são alguns deles”.
A criança, como qualquer ser humano, precisa ser ouvida e respeitada.
O projeto “Por enquanto”
A história em quadrinhos “Por Enquanto”foi produzida por Vanessa em parceria com a desenhista Yasmin Moraes. A obra tem como protagonista Ana, de 16 anos, que usa um canivete para lidar com suas dores. Trata-se do spin-off da história em quadrinhos “A menina distraída”. Para financiar a publicação do livro, a dupla abriu uma campanha de financiamento colaborativo na Plataforma Cartase. Clique aqui para apoiar.
A automutilação ou cutting é o ato de machucar o próprio corpo por querer, causando dor física para que isso, de alguma forma, diminua a dor emocional. Pequenos cortes pelo corpo e a tentativa de escondê-los dos pais são os principais sintomas da condição que é reconhecida como um transtorno mental desde 2013.