A desromantização da maternidade é uma pauta urgente, e deve cada vez mais ser problematizada e discutida, a fim de construir uma sociedade mais consciente da necessidade de garantir à mulher a sua liberdade de escolha por ser a mãe que desejar ser, da maneira que for possível em seu contexto social, econômico, familiar e afetivo. Quando uma pessoa pública se posiciona sobre essa questão, não há dúvida de que o ganho é imenso, afinal, é do diálogo aberto que surgem a reflexão e os caminhos possíveis para uma mudança de mentalidade coletiva.
Em entrevista à Folha neste último domingo, 4 de junho, a cantora Pitty – que é mãe da pequena Madalena, de nove meses, – deu um depoimento sobre as dificuldades do pós-parto e sua relação direta com a idealização do que é ser mãe. Ela ressaltou a necessidade de diálogo aberto e franco sobre tudo o que a mulher passa durante a gestação, sem filtros nem falsas expectativas.
“A maternidade é tão idealizada, tão associada a um negócio divino, sagrado, como se a mulher virasse meio santa quando está grávida, que eu acho que as pessoas esquecem que tem uma pessoa real ali passando por isso”, problematiza.
A cantora chama a atenção para os tabus de falar sobre o lado real do puerpério, que não é nada parecido com o que costuma aparecer na publicidade e consequentemente na expectativa de muitas mães de primeira viagem:
“O puerpério é uma coisa sobre a qual ninguém fala. Não é fácil, é foda. Você está sem dormir, seu corpo está diferente, num tsunami hormonal. Ao mesmo tempo você está fascinada e apaixonada por aquela pessoa ali com você”
Leia alguns trechos da entrevista
“O dia que o leite desce é o mais louco… Eu não me reconhecia, olhava no espelho e não sabia quem era aquela pessoa. É uma abnegação enorme. E passei por isso com estrutura, sendo bem cuidada, com meu marido ao lado. Imagina as pessoas que não têm estrutura? A gente precisa pensar em dar um suporte melhor para essas mulheres.”
“A maternidade é um negócio incrível, estou amando, mas eu quis! A vida não se resume a isso, tem gente que não quer. Faço questão de falar isso porque sei como é estar no lugar de ser cobrada. Não acho justo botar essa carga em cima das mulheres”
“Nós mulheres somos sempre cobradas. Seja por uma coisa ou por outra. Ah, não teve filho! Ah, teve filho muito tarde. Ah, só vai ter um? Filho único não é bom… Cara! Dá um tempo! Deixa a gente viver!”