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Crianças e filhotes de animais, como os primatas, manifestam comportamentos semelhantes desde chamar para brincar, ficar perto da mãe e pedir ajuda para comer algum alimento.

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Os filhotes de cangurus correm para a bolsa de suas mães, chamada de marsúpio, quando estão com medo. Entre os bebês, o choro é um pedido por colo e proteção.

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5 paralelos entre a infância humana e a dos bichos 

Crianças e animais: imagem mostra uma menina segurando um gato filhote

Entre os povos originários, como as crianças brincam na natureza com os animais, logo aprendem a imitar sons de passarinho e a correr como uma cotia. “Brincávamos nas poças de lama, correndo e rindo juntos, e também mergulhávamos no rio, onde nadávamos imitando o movimento do boto”, lembra Márcia Kambeba, professora e escritora indígena, que passou a infância na aldeia Belém do Solimões, no Amazonas.

Ela conta que, na comunidade, as crianças ainda mergulham no rio como botos, sobem em árvores como macacos, se penduram nos galhos como morcegos ficando de cabeça para baixo e imitam os cantos dos pássaros. “Brincar, para nós, é também um ato de fortalecer a memória e a identidade, porque reafirma a relação profunda entre corpo e território.”

Enquanto as crianças que convivem com bichos os imitam e brincam juntos, aquelas que não têm contato direto também manifestam comportamentos parecidos com os do mundo animal. Afinal, todos são ou foram filhotes.

“Crianças e animais demonstram uma alegria genuína quando estão brincando, explorando ou apenas em companhia uns dos outros. Eles se aproximam de forma espontânea, sem preconceitos, guiados pela curiosidade e pelo desejo de partilha.” – Márcia Kambeba

Na ciência, pesquisadores vêm documentando que, em muitas espécies, a infância é uma fase de apego, exploração e brincadeiras. Além disso, afirmam que existem várias semelhanças entre o comportamento de crianças e filhotes. Nesta matéria, explicamos cinco paralelos do início da vida de humanos e animais para que famílias e escolas se inspirem em propor mais conexão entre as duas infâncias.

1. Dependência

No início da vida, todos os bebês são totalmente dependentes. Entre os mamíferos, a primeira semelhança mais evidente é a busca pelo peito. E se os bebês pedem colo com choro ou apontando os braços para a mãe, entre os cangurus, o colo vira bolsa, onde eles vão agarradinhos na mamãe canguru. Essa bolsa se chama marsúpio e é, na verdade, uma estrutura de proteção e de amamentação, onde os filhotes ficam escondidinhos crescendo nas primeiras semanas de vida e onde buscam proteção quando se sentem ameaçados. Por ali ficam mais quentinhos e protegidos, assim como um bebê nos braços dos pais ou de outros cuidadores.

Já os cachorros, principalmente os domésticos, tiveram seus traços de persistência e independência comparados aos de crianças pequenas. Pesquisadores da Universidade de Helsinque, na Finlândia, observaram que a raça dos pastores-belga era persistente em executar uma tarefa tal qual uma criança quando tenta montar um brinquedo, por exemplo. Se não conseguisse concluir, o cão procurava e pedia ajuda ao seu tutor. Seria como chamar: “mãããe, me ajuda!”

2. Fome

Quando os bebês estão com fome, as primeiras manifestações aparecem com choro e inquietação. À medida que crescem, as crianças passam a nomear a sensação (“tô com fome”) e a buscar sozinhas algo para comer — vasculhando geladeira e armários atrás de um lanche, por exemplo. Entre felinos domésticos, sinais parecidos também podem ser notados: miados repetidos, aproximação insistente e aquele “seguir o tutor” até a cozinha costumam funcionar como pedido claro por comida. Achou parecido?

Em primatas, há um componente extra de aprendizagem. No zoológico nacional de Washington (EUA), primatólogas (cientistas que estudam o comportamento dos primatas) perceberam que as fêmeas de macacos-prego compartilhavam alimentos com seus filhotes — sobretudo quando eles ainda não conseguem abrir, descascar, quebrar ou mesmo localizar a comida. “Muito frequentemente, é a mãe passando para o filhote”, afirma Carson Murray, primatóloga e professora de antropologia, em entrevista ao The Washington Post. Especialista nas relações mãe-filho e laços femininos entre primatas, Carson afirma que as semelhanças entre humanos e macacos também giram em torno da parentalidade. Ou seja, esses animais desenvolvem formas diferentes de lidar com seus filhotes: algumas mais rígidas, outras mais carinhosas.

3. Aconchego

Bom, ainda no zoológico de Washington, os chimpanzés correm para confortar os menores quando se machucam. Mas sempre tem uma ou outra mamãe chimpanzé que deixa o filhote lidar sozinho, levantar e seguir em frente. Será que com alguns pais e mães de crianças acontece da mesma forma? Algumas teorias de desenvolvimento na primeira infância, como a pedagogia Pinkler, reforçam a importância de crianças conquistarem a autonomia diante de pequenos conflitos com menos intervenção possível de adultos.
O aconchego também se dá quando os chimpanzés se sentem seguros entre seus companheiros e relaxam a ponto de tirarem uma soneca encostados em quem estiver do lado. Márcia Kambeba lembra que, assim como os filhotes de animais buscam aconchego, proteção e brincadeira no grupo, as crianças também encontram na companhia uma forma de aprender a viver. “Essa energia vital é um chamado para estar junto, para criar vínculos afetivos que não precisam de palavras, mas que se manifestam nos gestos, nos olhares e na vontade de estar em contato.”

4. Comunicação

Choro, gritinhos e primeiras palavras. Talvez seja essa a sequência mais lógica para a comunicação verbal das crianças. Elas também aprendem pelos sons que ouvem, assim como os corvos. Sim, os corvos possuem habilidades de comunicação a partir dos grasnidos.

No laboratório de fisiologia animal da Universidade de Tübingen, na Alemanha, pesquisadores estão treinando essas aves para associar números com a quantidade de grasnido em um sistema de contagem vocálica. Ou seja, eles fazem barulho de acordo com o número apresentado. Para os pesquisadores, a habilidade matemática dos corvos pode ser comparada a de uma criança de até quatro anos.

Ainda entre as aves na Alemanha, os tentilhões passam por uma fase de balbuciar os primeiros sons antes de aprenderem a cantar. É como um “ma-ma” e “pa-pa”. Já as baleias se comunicam a partir de “cantos”, que podem ser curtos, como um assobio, ou mais longos, como gemidos para chamar os filhotes ou para que os filhotes chamem suas mães e ambos se encontrem entre as águas. Esses sons também alertam para alguma ameaça próxima, como um grito de “cuidado”.

5. Brincadeiras

Pandas dão cambalhotas quando se sentem livres, elefantes se esbaldam na água para se refrescar e os cachorros sempre convidam seus donos para brincar com saltos e abanando o rabo. É praticamente universal: filhotes e crianças necessitam de brincadeira. Já viu um gatinho pulando em cima do outro para chamar para brincar? Pois é, biólogos dizem que é porque a infância dos animais também é cheia de energia e curiosidade.

Quem tem criança em casa sabe que elas chamam também pulando, se pendurando ou balançando. É bem parecido com os primatas observados no zoológico pela antropóloga Carson Murray. “Essa postura pendente, de se balançar, é um convite: brinca comigo, me nota.”

Além disso, os chimpanzés observam os lagartos e os esquilos, tentando imitar os movimentos e até sorriem. Não por acaso, crianças quando convivem com animais também observam e os imitam. É a essência do brincar, ação fundamental para o desenvolvimento físico e emocional delas.

Então, que tal estimular as crianças a estarem mais perto dos bichos e a explorarem suas semelhanças com brincadeiras?

“Há uma linguagem silenciosa e ancestral que une os pequenos e os animais, como se ambos lembrassem que fazem parte de uma mesma rede de vida.” – Márcia Kambeba

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