“O Renascimento do Parto 1″ foi lançado em em 2013 sendo o primeiro filme brasileiro só sobre o assunto assistência ao parto no cinema. A produção tornou-se o documentário nacional com a segunda maior bilheteria nos cinemas do país passando por 50 cidades, durante 22 semanas de exibição. Em maio deste ano, foi lançado o Renascimento do Parto 2, abordando o tema da violência obstétrica, e agora está para ser lançado “O Renascimento do parto 3, fechando a trilogia. Uma informação importante: todos exibidos com financiamento coletivo.
“Quem colaborou com as campanhas foram ativistas, mães, famílias, pais, pessoas que de uma certa forma convivem com uma realidade uma obstétrica que têm vontade de mudar. É muito impressionante fazer acontecer com a força do coletivo. O cinema é uma arte coletiva e chegar ao cinema de uma maneira coletiva foi muito importante”.
Um outro movimento bacana é que esses grupos fizeram o filme chegar em diferentes cidades do Brasil, batendo na porta dos cinemas para pedir o filme e alertar para a importância do debate para o interesse público. Este efeito multiplicador é incrível, de uma satisfação gigante, faz muita diferença”, disse o diretor Eduardo Chauvet, em entrevista ao Lunetas.
O poder de mobilização do filme se dá pela sensibilidade e urgência do tema. Para quem pensa que este é uma questão restrita a um pequeno grupos, está enganado. A cada ano, o nascimento influencia uma parcela significativa da população brasileira. São cerca de três milhões de nascimentos por ano. Sendo assim, podemos dizer que são pelos menos seis milhões de pessoas, ou seja, as mães e os seus filhos, sem contar o meio social que a gestante está envolvida.
O diretor acredita que o cinema dá a possibilidade do público assimilar o tema por meio das sensações. “A experiência multisensorial que é o cinema, dá a oportunidade do público rever uma série de conceitos, inclusive que tipo de educação nós tivemos na escola, na família, na sociedade”, defende.
O Renascimento do Parto 1 foi selecionado para festivais dentro e fora do país, como o Los Angeles Brazilian Film Festival. Houve sessão especial no Palácio do Planalto, no Fórum Mundial de Direitos Humanos e no Fórum Social Mundial.
Esta mudança de percepção também precisa ser cultural, além das políticas públicas. Se, por um lado, o avanço da medicina e obstetrícia contribuiu com a melhoria dos indicadores de morbidade e mortalidade materna e infantil, por outro permitiu a efetivação de um modelo que considera a gravidez, o parto e o nascimento como doenças e não como expressões de saúde e eventos fisiológicos, expondo mães e bebês a altas taxas de intervenções, que deveriam ser utilizadas apenas em situações de necessidade, e não como rotineiras.
O Brasil vive uma epidemia de cesarianas, chegando a quase 90 % na rede privada, enquanto a OMS – Organização Mundial de Saúde – preconiza que sejam 15 %. O documento “Diretrizes Nacionais de Assistência ao parto” indica que a episiotomia e o uso de ocitocina são intervenções que devem ser usadas com parcimônia.
Os filmes se propõem a fazer estes estes questionamentos e convidar o público para discutir. “Fazemos isso sem dinheiro, sem patrocínio, sem edital, porque amamos a causa. Passei oito anos da minha vida dedicando muito tempo a isso, é visceral”, compartilha Chauvet.
“Aí está minha contribuição com cineasta, produtor e roteirista: levar o assunto parto e nascimento para o debate mundial”.
Temas abordados
Para o terceiro filme, a atuação do SUS – Sistema Único de Saúde – é um dos destaques, mostrando a experiência da Casa Angela, centro de parto normal localizado na zona sul da cidade de São Paulo. Também chamada de Casa de Parto, a Casa Angela atende gratuitamente mulheres moradoras do entorno, no período de gestação, parto e pós-parto. Lá, as gestantes recebem acompanhamento de uma equipe especializada em atendimento humanizado para vivenciarem a experiência do parto com autonomia, amor, liberdade e respeito.
Em 2011 o governo brasileiro instituiu a Rede Cegonha no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde), visando a assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como à criança o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e ao desenvolvimento saudáveis.
Entre os objetivos da Rede Cegonha está o de “fomentar a implementação de novo modelo de atenção à saúde da mulher e à saúde da criança com foco na atenção ao parto, ao nascimento, ao crescimento e ao desenvolvimento da criança de zero aos vinte e quatro meses”.
Além disso, o filme vai trazer experiências internacionais de assistência ao parto mostrando Holanda, Nova Zelândia e Camboja. O cineasta explica que escolheu o Camboja depois de constatar com os profissionais que lidam com a assistência obstétrica em diferentes países, que existe um processo grande de medicalização do parto até nas nações mais pobres.
“Inclusive com procedimentos que não tem embasamento científico, não tem respaldo na medicina baseada em evidências: restrição de água, comida, amarra, tricotomia, episiotomia”.
Outro conteúdo tabu e polêmico que será apresentado é o parto orgásmico. Debra Pascali Bonaro, autora documentário Orgasmic Birth é quem falará sobre o assunto que gera muita curiosidade. O longa também vai desmistificar a máxima “uma vez cesárea, sempre cesárea, mostrando experiências de VBAC (sigla para Vaginal Birth After Cesarean ou parto vaginal após cesárea).
No Brasil, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) deu recentemente um primeiro passo na direção do aumento de partos normais. Uma das resoluções para estimular o parto normal e reduzir as cesarianas na rede privada (que atende hoje 23,7 milhões de brasileiras) prevê que as mulheres possam solicitar aos planos de saúde os percentuais de cirurgias cesáreas e de partos normais por estabelecimento de saúde e por médico.
“Mesmo depois de uma trilogia a gente percebe que não consegue tratar de tudo, de todos os grupos, de todas as classes sociais, de todas as demandas, ofertas e necessidades de uma sociedade tão complexa e ampla como a brasileira”, pontua o diretor.
O Renascimento do Parto 1 está disponível na Netflix, no Google Play e Now. A obra está sendo apresentada e replicada em diversos espaços que tem contato com o tema justamente para sensibilizar e suscitar o debate . “É uma ferramenta de transformação e eu acredito, como produtor de audiovisual, que possa ter contribuído com todo o processo”, celebra Eduardo.
A foto que abre a matéria é de © Monet Nicole, Birthing Stories www.monetnicole.com
O Renascimento do Parto 3 está com uma campanha de financiamento coletivo na plataforma Benfeitoria. Você tem até o dia 6 de junho para contribuir com valores a partir de R$ 30”.