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Número de cesáreas cresce, mas acesso desigual persiste, diz OMS

Foto de uma médica segurando a mãe da paciente no leito do hospital para ilustrar matéria sobre número de cesáreas

Cesarianas são procedimentos cirúrgicos essenciais para salvar vidas em situações em que partos vaginais representam riscos, há trabalho de parto prolongado ou obstruído, sofrimento fetal ou porque o bebê não está em uma posição normal. 

Como em toda cirurgia, podem apresentar riscos, incluindo potencial de sangramento intenso ou infecção, tempo de recuperação mais lento após o parto, atrasos no estabelecimento da amamentação e do contato pele a pele, e maior probabilidade de complicações em gestações futuras. Procedimentos cirúrgicos, quando realizados sem um bom motivo médico, podem ser prejudiciais tanto para a mulher quanto para seu bebê.

É por isso que os sistemas de saúde devem garantir o acesso oportuno para todas as mulheres para os casos em que são necessários, mas não devem usar esse recurso em excesso. 

Em todo o mundo, 21% das mulheres deram à luz por cesariana, o que corresponde a um em cada cinco partos. Na década de 1990, as taxas mundiais de cesarianas eram de cerca de 7%. Apesar disso, há discrepâncias significativas no acesso de uma mulher às cesarianas, dependendo de onde ela mora. As médias variam de 5% na África Subsaariana – o que indica subutilização ou uma falta preocupante de acesso a essa cirurgia – a 42,8% na América Latina e Caribe, ou seja, quatro em cada 10 – o que sugere uso excessivo. Em cinco países (República Dominicana, Brasil, Chipre, Egito e Turquia), as cesarianas superam os partos normais. Os achados fazem parte do estudo “Tendências e projeções das taxas de cesariana: estimativas globais e regionais“, recém-publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). 

A comunidade médica internacional considera entre 10% e 15% a taxa ideal de cesárea.

Além de apontar que as taxas de cesárea seguem em crescimento pelo mundo, o estudo aventa que o alto uso de cesarianas varia amplamente entre os países e dentro deles, podendo significar políticas e financiamento do setor de saúde; normas culturais; percepções, práticas, opiniões e crenças dos profissionais de saúde; conveniência; remuneração; taxas de nascimentos prematuros; qualidade da atenção à saúde; e preferências de mulheres e famílias.

A OMS ressalta a importância de focar nas necessidades exclusivas de cada mulher durante a gestação e o parto. “É importante que todas as mulheres possam conversar com os profissionais de saúde e participar da tomada de decisão sobre o seu parto, recebendo informações adequadas, incluindo os riscos e benefícios. O apoio emocional é um aspecto fundamental do atendimento de qualidade durante a gravidez e o parto”, afirma, em nota oficial, Ana Pilar Betran, médica da OMS e HRP.

Projeções para o futuro

O estudo indica ainda que este número tende a aumentar na próxima década, com quase um terço (29%) das mulheres em todo o mundo que darão à luz por cesárea até 2030 – 38 milhões de partos por cesariana anuais. As taxas mais altas provavelmente serão na Ásia Oriental (63%), América Latina e Caribe (54%), Ásia Ocidental (50%), Norte da África (48%), Sul da Europa (47%), Austrália e Nova Zelândia (45%).

“As tendências e projeções do uso de cesáreas em todo o mundo revelam que as sociedades atuais estão continuamente se movendo em direção à medicalização e supermedicalização do parto”, conclui.

Recomendações não clínicas que podem reduzir o uso desnecessário de cesarianas:

  • Intervenções educacionais que envolvem as mulheres ativamente no planejamento do parto, como oficinas de preparação para o parto; programas de relaxamento e apoio psicossocial quando desejado, para aquelas com medo da dor ou ansiedade, incluindo monitoramento e avaliação contínuos.
  • Uso de diretrizes clínicas baseadas em evidências, realização de auditorias regulares de práticas de cesariana em unidades de saúde e fornecimento de feedback oportuno aos profissionais de saúde sobre os resultados.
  • Exigência de uma segunda opinião médica para uma decisão de cesariana em locais onde isso for possível.
  • Um modelo de atendimento parteira-obstetra colaborativo, para o qual o atendimento é fornecido principalmente por parteiras, com apoio de 24 horas de obstetra dedicada.
  • Estratégias financeiras que equalizem as taxas cobradas para partos vaginais e cesarianas.

* O estudo “Trends and projections of caesarean section rates: global and regional estimates” é baseado em dados nacionalmente representativos de 154 países em todo o mundo de 1990 a 2018, retirados de relatórios de sistemas de informação de saúde de rotina e pesquisas domiciliares de suas bases populacionais, representando 94,5% dos nascidos vivos no mundo em 2018. Ele atualiza pesquisas publicadas em 2016 e, pela primeira vez, inclui projeções de tendências futuras, até 2030.

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