
“A solução vem da tradição”, diz João Victor, 16 anos, mais conhecido como João do Clima. Morador do distrito de Outeiro, dentro da ilha de Caratateua, uma das 42 da região insular de Belém (PA), ele participa da COP30 (Conferência da ONU sobre Mudanças Climática) como conselheiro jovem do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Em meio a uma agenda de reuniões e eventos culturais, João falou ao Minuto Lunetas sobre a importância do ativismo juvenil. Neste quadro especial, os entrevistados respondem questões que permeiam a infância. A pergunta da vez é também um convite e um manifesto: como curar o planeta?
João foi direto ao ponto: “temos que colocar em prática o que as comunidades tradicionais, ribeirinhas e insulares faziam.”
Para ele, o conhecimento vindo dos avós e bisavós sobre a vivência com a mata, os rios e os bichos não pode ser apagado. “Os povos indígenas preservam a floresta há muito tempo. Precisamos colocar em prática esse modo de vida sustentável, solidário e justo.”
Enquanto os adultos da COP30 se reúnem em salas fechadas, debatem em cúpulas e firmam acordos em documentos, João lembra que as respostas mais profundas estão no olhar mais simples para quem vive e compõe a Amazônia.
“Às vezes, não precisamos criar soluções tão complexas, mas sim retomar as práticas da tradição dos povos da floresta.”
Crianças na linha de frente da crise climática
A rotina urbana e ribeirinha no meio da Amazônia fez João entender que cuidar da natureza é urgente. “Temos que ocupar espaços para debater e ser escutados.”
Ele compreende que o futuro é agora e que as soluções são urgentes. Isso porque as crianças e os adolescentes são os mais afetados pela crise climática. Segundo um relatório do Unicef, 40 milhões de meninas e meninos estão expostos a mais de um risco climático ou ambiental no Brasil.
Vítima de enchentes como a do Rio grande do Sul, das queimadas no Pantanal, ou da contaminação dos rios pelo garimpo ilegal na Amazônia, a nova geração tem os direitos fundamentais afetados diretamete. No ano passado, pelo menos 1,17 milhão de crianças interromperam os estudos por causa de eventos climáticos extremos no país.
“Nossos corpos estão na linha de frente da crise climática. Por isso, precisamos estar nesses espaços de discussão.”
O adolescente viu sua ilha ficar mais quente e os rios de sua cidade secarem a cada ano. Por isso, afirma a necessidade de entender desde cedo que o planeta precisa de soluções. Para João, que adotou o Clima como sobrenome, a “cura” mistura passado e presente.
“Nos espaços de negociações, quando as pessoas falam sobre salvar e preservar o planeta para o futuro, elas falam de nós mesmos. E o que chamam de solução eu chamo de tradição, de olhar o que há muito tempo os povos da floresta fazem.”
