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Livros de terror para explorar o ‘território do medo’ na infância

Imagem de capa de matéria sobre livros de terror para crianças mostra ilustração do livro Coraline, com o desenho de uma menina e um gato preto.

Quem nunca levou um susto com um fantasma ou se impressionou com a risada da bruxa? O “frio na barriga” não precisa ser evitado. Especialistas defendem que, com mediação e escolhas adequadas à idade, a literatura de terror pode estimular a leitura, ajudar a nomear emoções e fortalecer a autonomia das crianças.

Portanto, a psicanalista Ninfa Parreira, escritora e autora de livros infantis,
como “O mergulho no espelho” (Maralto) e “Coisas que chegam, coisas que partem” (Cortez), recomenda narrativas com linguagem e ilustrações apropriadas. A ideia é que o livro ofereça uma porta de entrada e de saída do “território do medo”. Isto é, a criança entende que é faz de conta, visita esse lugar e volta com recursos novos para lidar com os medos, interpretar a história e ter noção de bem e mal.

Para ela, ter contato com livros de terror adequados à faixa etária é positivo, principalmente quando trazem ludicidade com fantasia, imaginação e seres encantados da cultura local. É o caso, por exemplo, do livro “Visagens e assombrações de Belém”, de Walcyr Monteiro, que se tornou um clássico da literatura local e que apresenta personagens de lendas da região amazônica.

“Visagens e assombrações de Belém”, Walcyr Monteiro (Paka-Tatu)

Na Amazônia urbana, quando as noites chuvosas banham a cidade, as visagens aparecem nas praças vazias ou pedem carona em um táxi qualquer. A reunião de contos com as histórias populares mais conhecidas em Belém é recomendada para adolescentes. A leitura pode estimular as sensações, imaginar os cenários e lembrar dos causos que com certeza já passaram pela boca de mães, pais, avós e bisavós.


Já o escritor e ilustrador americano Greg Ruth reforça que “algumas crianças se beneficiam do susto, outras podem se sentir realmente abaladas”. Ou seja, cada uma vai reagir de uma forma, de acordo com “diferenças como desenvolvimento emocional, níveis de sensibilidade e resiliência.”

Greg defendeu seis motivos pelos quais as histórias de terror infantis são positivas:

  1. Treinar enfrentamento: a criança cria coragem de acompanhar a história e descobrir o final.
  2. Autonomia para lidar com pequenos medos: ela aprende o que sentir e o que fazer quando leva um susto ou quando a história muda.
  3. Identificação com personagens: o leitor torce pelo protagonista que supera dificuldades.
  4. Reforçar os vínculos afetivos: possibilidade de compartilhar com amigos e familiares sobre o que leu e como se sentiu.
  5. Autocontrole diante de medos imaginários: entender que os riscos não são reais.

O terror e os monstros pedem um passo de cada vez

Por causa da necessidade de saber até onde vai a maturidade leitora da criança e o entendimento do real e da ficção, Ninfa Parreiras recomenda alguns cuidados.

“Tudo bem histórias com bruxos e monstros dentro do contexto, assim como um conto maravilhoso de fadas que conversa com a estrutura emocional das crianças pequenas com algumas metáforas”, diz. Mas é importante que as famílias atuem como mediadoras dessas leituras, para criar a oportunidade de conversar sobre os personagens e entender os sentimentos que a história desperta.

Uma boa opção, segundo Ninfa, é investir em “histórias literárias”, como são os contos dos irmãos Grimm (Chapeuzinho vermelho, Branca de Neve, João e Maria) e as obras de Marina Colasanti, por exemplo.

Livros de zumbis, vampiros ou sagas, conforme explica, são mais voltados para adolescentes. “O terror em si não deveria ser introduzido na infância, pois algumas histórias estão mais associadas às mudanças e às transformações dos adolescentes, inclusive físicas e fisiológicas.”

6 livros de terror para leitores curiosos

Confira uma lista de indicações de Ninfa Parreiras e do Lunetas com personagens de terror para cada fase da infância.

Para crianças pequenas

“Quem tem medo de monstro?”, Ruth Rocha (Salamandra)

Em uma noite em que as sombras e os rangidos das portas assustam, os monstros aparecem como seres terríveis, mas não tanto. Na verdade, eles são mesmo atrapalhados e engraçados. Ruth Rocha guia o leitor por uma viagem onde o medo é desmistificado e pode ser fruto da imaginação. Por isso, enfrentá-lo pode ser libertador e até divertido.

 

 

“Sete histórias para sacudir o esqueleto”, Angela-Lago (Companhia das Letrinhas)

Esqueletos, fantasmas e outras criaturas se juntam em sete contos que vão do susto à comédia. A autora prova que até os temas mais horripilantes podem ser contados de forma criativa e leve para o universo infantil. Cada aventura se volta a um personagem peculiar: um esqueleto, uma voz da noite, uma assombração. Todos passam por um desafio específico e deixam lições de afeto e coragem.

Para crianças maiores

“Mortina”, Barbara Cantini (Companhia das Letrinhas)

Mortina vive em uma mansão sombria com sua tia. Lá, o silêncio pesa e o que ela mais quer é sair para brincar com as outras crianças. Mas Mortina é uma menina zumbi. Então, como revelar isso para a turminha? Nesta narrativa, a personagem lida com os conflitos do pertencimento e da aparência, mas reforça os laços de amizade quando é aceita do jeitinho que é: meio sobrenatural, meio curiosa.

 

“O pequeno vampiro”, Angela Sommer-Bodenburg (WMF Martins Fontes)

Anton, um menino de nove anos, conhece Rudiger, um pequeno vampiro que visita sua casa durante a noite. Entre os sustos, os esconderijos e os medos de serem descobertos, a amizade se desenrola em uma clássica aventura que já soma 16 livros. É um convite para sair do comum e aceitar o diferente entre os amigos.

Para adolescentes

“Coraline”, Neil Gaiman (Intrínseca)

Coraline é curiosa e destemida. Ao se mudar para uma casa velha, encontra uma porta secreta que a leva para ver sua vida em outra versão. O medo da família, a vizinhança sombria, os conflitos mais profundos da formação de uma identidade em meio ao processo de aprender a crescer. Um livro com camadas de reflexão e aventura que podem assustar, mas levam o leitor a valorizar as relações afetuosas sem precisar de algo em troca.

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