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‘Lá vem história’: por que é saudável ler para crianças?

Imagem de um menino e uma menina com sua mãe deitados no chão do quarto. Eles estão lendo um livro embaixo de uma barraca armada no quarto infantil.

Aprender pela escuta, pegando carona na voz de alguém que é conduzido por olhos atentos às páginas de um livro. Ler para as crianças não é só um exercício que desperta o encantamento, mas um diálogo que auxilia o desenvolvimento da linguagem na primeira infância e o estabelecimento de vínculos afetivos.

O artigo “Aprender a partir da leitura em voz alta dos adultos”, publicado pelas pesquisadoras Ana Teberosky e Angelica Sepúlveda, da Universidade de Barcelona, na Espanha, confirma a riqueza de aprendizados gerados a partir da leitura de histórias, seja para a formação do corpo, do pensamento ou das emoções entre zero e seis anos. Essas informações são trazidas pelo nosso parceiro Laboratório de Educação, no post do dia 11 de fevereiro.

Ampliando a “leitura”

Segundo a pesquisa, ao escutar e se relacionar com as palavras do outro, que ganham vida por meio de livros, poemas, notícias, canções e outros textos, as crianças são capazes de ampliar o conhecimento em relação à linguagem oral e escrita, construindo significados a sua própria maneira.

“É um processo que alimenta as potencialidades desse princípio da vida e que estimula uma concepção ampliada de “leitura”

No estudo, a leitura do adulto pode ser entendida também como a leitura da própria criança, tanto no sentido da substituição da ação, quanto no sentido metafórico. “O sentido vicário acontece quando a criança participa da leitura por meio do outro que lê, ao escutar, apontar, olhar, nomear, perguntar e comentar aquilo que é lido”, afirma.

Por outro lado, o sentido metafórico “deriva de um ‘como se’: como se lesse as leituras que são compartilhas, quando participa dela”, pois ela compreende o que está sendo dito. A leitura dos adultos, sejam eles pais, mães, cuidadores ou professores, prepara a aprendizagem infantil para o desenvolvimento da linguagem, uma espécie de primeiro passo da formação de leitores autônomos e com melhor desempenho escolar.

O trabalho realizado por Ana Teberosky e Angelica Sepúlveda buscou analisar a prática da leitura em voz alta para as crianças, seus benefícios, explorando a escolha dos livros e maneiras de ler. As autoras defendem que essa escuta leva a construção de um vocabulário mais rico e ao desenvolvimento de uma linguagem mais complexa e elaborada pelos pequenos.

Para os bebês, por exemplo, pode ser uma boa oportunidade de interação com uma linguagem diferente da cotidiana apresentada pelos adultos, o que favorece a ampliação do repertório de palavras conhecidas. Aos poucos, os pequenos leitores vão identificando o livro, enquanto um objeto que possui palavras, ordem e estrutura narrativa que compõe uma história.

Como ler histórias para crianças?

Ler histórias que estão escritas é diferente de reproduzi-las oralmente. Nosso parceiro Laboratório de Educação explora esse assunto em um conteúdo sobre a importância de escutar a leitura de textos, apontando comportamentos de diferentes idades na primeira infância durante a escuta.

“Cria-se uma relação afetiva quando estamos lendo para as crianças – por exemplo, quando permitimos que se aconcheguem e se aproximem ao compartilhar as emoções da história. Esse tipo de vínculo favorece o desenvolvimento emocional das crianças e suas relações sociais com os outros”, aponta o post.

Mesmo quando a leitura passa a ser solitária e silenciosa, transformação que geralmente acontece quando as crianças ficam mais velhas e aprendem a ler, o estudo aponta que a verbalização dos textos pelos adultos segue sendo importante durante toda a escolaridade. Isso acontece, pois elas têm a oportunidade de observar um leitor mais experiente e aprender a partir de uma interação de qualidade.

Entrar em contato com situações e sentimentos que aparecem nas histórias pode ser também uma oportunidade de conversar sobre assuntos difíceis como perdas, mortes e medos em geral.

“A leitura em voz alta se compara a uma peça de teatro, onde a audiência participa e entra, imaginativamente, nos espaços fictícios e narrativos da cena”, descreve.

Outro formato possível de ser explorado é a poesia, um convite para  interagir com ritmo e musicalidade, contribuindo para a formação do imaginário, do jogo simbólico e da criatividade. O lunetas reuniu 15 livros de poemas infantis para presentear as crianças com poesia.

Possibilidades criadas pela literatura

A literatura infantil é um assunto bastante explorado por aqui. Uma das reflexões trazidas ao Lunetas pela professora e crítica literária Cristiane Tavares, é que os livros destinados ao público infantil não se resumem a funções utilitárias. Ou seja, embora sejam muitas vezes transformados em objeto de consumo ou reduzidos a uma utilidade específica, como, por exemplo, à exploração do conteúdo escolar, os livros podem ser fonte de fantasia.

“É estranhamento, provocação para os sentidos, encontro de vozes plurais”

Seja com foco nos benefícios gerados às crianças ou simplesmente pelo puro prazer da ação, a leitura em voz alta pode ser, no fundo, uma ferramenta, mas também um território aberto de possibilidades. O que as autoras da pesquisa indicam é que essas experiências sejam naturais e tenham diversidade, criando oportunidades variadas de contato com as produções textuais, e que possam iniciar de um jeitinho que não parece algo obrigatório a se fazer ou seja desagradável para as crianças.

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