No mito bororo “O xibae e iari” (“As araras e seu ninho”), conhecemos a história da vingança empreendida pelo pai de um jovem indígena de 11 anos prestes a começar um ritual de iniciação. O pai faz com que o filho passe por vários desafios com risco de morte, chegando a largá-lo no alto de uma encosta, mas o menino supera todos os desafios e consegue voltar para sua aldeia. Com base nesta narrativa, educadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) criaram o jogo “Jeriguigui e o jaguar na terra dos bororos”, para ser usado em salas de aula de educação infantil e do ensino fundamental I.
Conforme as fases do jogo avançam, o jogador se depara com elementos da narrativa bororo e vivencia os desafios propostos pelo pai e enfrentados pelo protagonista Jeriguigui, como capturar ararinhas na encosta de uma montanha diante da ameaça de animais como o gavião-de-cabeça-vermelha, o jaguar e a onça-pintada.
O jaguar é oriundo do mito kayapó-gorotiré sobre a origem do fogo, que também aparece na construção do jogo. Em nota, Maria Sílvia Cintra Martins, coordenadora do projeto e docente da UFSCar, conta que “as narrativas míticas dos povos indígenas brasileiros funcionam muitas vezes de forma complementar, de modo que podemos encontrar num mito elementos que completam o outro e que também fazem parte dessa outra cultura”.
“Jeriguigui e o jaguar na terra” está disponível para Windows – para computadores, notebooks e tablets – no site do Leetra. Há a previsão de lançamento das versões iOS e Android até setembro de 2022. A educadora Maria Silvia sugere que os professores interessados em utilizar o jogo em sala de aula baixem também um texto de sua autoria, que traz orientações e sugestões para projetos de letramento interdisciplinares.
* Criado pelo grupo de pesquisa Leetra (Linguagens em Tradução da UFSCar), o jogo é um dos diversos projetos do grupo voltados à população indígena e tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Leia mais
No mito kayapó-gorotíre, o fogo surge a partir da ingratidão de um homem chamado Botoque. Após ser adotado por um jaguar, treinado e alimentado pelo felino, flecha sua nova madrasta que não nutria afeto nenhum por ele e foge, levando consigo “tanto o fogo como o segredo do arco e da flecha”, como escreve Horace Banner em “Mitos dos índios Kayapó”.