Elas estão de volta na cerimônia mais esperada do cinema mundial, o Oscar 2022. Diferente de como eram retratadas anos atrás, hoje, elas inspiram uma geração de meninas que não aceitam mais terem suas vidas narradas apenas pela estética cor-de-rosa dos contos de fadas. Estamos falando de personagens femininas do cinema que não precisam traçar um caminho linear, ser reconhecidas pelo padrão de beleza ou ter um comportamento considerado ideal.
Segundo estudos da Fundação Prix Jeunesse, personagens femininas raramente aparecem como líderes. E, em linhas gerais, são sempre secundárias em relação aos papéis masculinos. É preciso “produzir discursos que questionem esses estereótipos”, defendeu Cielo Salviolo, pesquisadora e produtora especializada em conteúdos e formatos audiovisuais infantis, em artigo para a ComKids. O caminho para isso seria colocar as meninas em situações de igualdade, que não estejam associadas aos tradicionais papéis de gênero. Respeitando a individualidade de cada pessoa e ampliando suas formas de ser e estar no mundo.
Sejam elas corajosas ou tímidas, frágeis ou aventureiras, suas histórias as tornam mais à vontade para serem como são. Com isso, crianças podem se inspirar e vibrar com suas trajetórias nem sempre vitoriosas, mas certamente emocionantes.
Personagens femininas do cinema
Se engana quem acredita que Mirabel não tem poderes. Mesmo sem ter recebido, quando criança, a magia ofertada aos demais integrantes da família Madrigal, a menina tem dom de protagonista na animação “Encanto”. Talvez a persistência em ter seu valor reconhecido a tenha feito conquistar o coração dos pequenos espectadores. Ou talvez tenha sido a criatividade e o otimismo que a tornaram peça-chave para a resolução de problemas e mistérios no enredo do lar ameaçado. Uma menina colorida de esperança, com cabelos cacheados e óculos redondos, que se tornam mais do que meros acessórios. Mas lentes que a fazem enxergar o mundo por outras perspectivas.
Assim como as montanhas colombianas de “Encanto”, Kumandra também apresenta ao mundo uma nova protagonista. Ela se chama Raya e possui nada menos do que a missão de salvar o mundo do retorno de uma força obscura, restaurando a paz entre povos que há tempos estão em disputa. Desconfiada, ela embarca numa aventura que exige responsabilidade: rastrear o último dragão, guardião de sabedoria e ancestralidade. Aquilo que poderia ser um caminho solitário acaba se tornando um trabalho em equipe e uma superação para a própria personagem, que mostra como é possível resgatar a confiança nas pessoas.
Seu nome é Giulia Marcovaldo e seus cabelos de fogo não passam despercebidos. Mesmo debaixo do gorro azul. Ela tira férias na casa do pai, em Portorosso, a pequena cidade na Riviera italiana, onde se alia a Luca e Alberto, contra o valentão Ercole Viscont. Afinal, “os excluídos têm sempre que se ajudar”, diz aos novos amigos. Embora não seja a protagonista da história do filme “Luca”, é ela quem domina perspicácia e confiança. Tornando-se uma inspiração aventureira para os meninos, que também desejam competir no triatlo da Copa Potorosso. “Gosto da Giulia, porque ela ajuda o pai a vender peixe, ama o espaço sideral e come muito macarrão”, comenta Tulasi, 9 anos.
Jeans rasgados, um óculos bem quadrado e um broche com a bandeira LGBTQIA+ preso na jaqueta vermelha. Essa é a aparência de Katie Mitchell. Uma jovem de 17 anos, apaixonada por filmagem. Sim, o mundo da tecnologia também é lugar de garotas. Por isso, Katie quer conquistar seu espaço na escola de cinema de seus sonhos. Apesar da proximidade com as máquinas, Katie sabe que elas jamais conseguirão alcançar a profundidade da conexão humana. Tema que aparece com centralidade para a família Mitchell, especialmente em sua relação com o pai, Rick. Uma adolescente imperfeita e cheia de dúvidas, em sua transição para a vida adulta, mas que incorpora suas habilidades criativas na elaboração de um plano contra a revolta das máquinas.
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