Com referências estéticas das narrativas clássicas de aventura, “Mundo estranho”, a mais nova animação da Disney, conta a história de três gerações dos Clades, uma lendária família de exploradores. Por não ter os mesmos objetivos do pai, Searcher Clade, filho do explorador Jaeger Clade, resolve abandonar a missão para descobrir o que está além das montanhas que cercam o território de Avalonia.
“Eu não sou você, pai!”, diz Searcher Clade.
A história de ‘Mundo estanho’
Ao voltar para casa, Searcher – que leva a paixão pela pesquisa no nome – passa a cultivar uma planta chamada “pando”, cujos frutos elétricos irão revolucionar sua comunidade e se tornarão a principal fonte de energia do país.
Seguindo o fluxo da história de família, 25 anos depois, algo ameaça o cultivo desta planta, levando Searcher e seu filho Ethan a partir em uma expedição rumo ao subterrâneo. Nessas jornadas, os personagens precisam superar conflitos familiares, enquanto descobrem as maravilhas desconhecidas de um mundo extraordinário.
Representatividade e o olhar da nova geração
Ao tratar da relação entre pais e filhos, o filme dirigido por Don Hall integra um esforço dos grandes estúdios em apresentar novas perspectivas sobre a paternidade. Para o psicólogo e doutor em Ciências da Educação, Alessandro Marimpietri, “uma geração criada com amor, segurança e pluralidade produz efeitos sobre o mundo”. Daí a importância de mostrar pais sensíveis que assumam seus filhos e se interessam genuinamente pelo universos das crianças, e não apenas apoiam as mães.
Segundo ele, apesar do filme contribuir para desconstruir alguns estereótipos, revendo os conceitos ligados à paternidade e à masculinidade, “ainda estamos longe de desmontar a influência do machismo estrutural em nossa sociedade”, opina.
“Que os pais possam ser referência de uma masculinidade mais plural e, portanto, atual”
Também é possível refletir, a partir do filme, sobre sonhos individuais e expectativas projetadas. Quem nos conduz a olhar para essas questões é o personagem Ethan, um jovem negro que se tornou o primeiro protagonista abertamente LGBTQIA+ dos estúdios Disney, “sem que essas questões gerem qualquer tipo de conflito na história; elas são tratadas com naturalidade”, comenta Caio Freire, o dublador brasileiro da animação.
“Ethan é um adolescente como outro qualquer, que quer se aventurar. Ele tem medo, mas tenta se convencer de que também é corajoso. Essas são mensagens importantes sobre representatividade para a audiência infantojuvenil”, pontua.
Além disso, o povo de Avalonia é composto por diferentes etnias. O núcleo familiar principal, por exemplo, é uma das poucas famílias inter-raciais em toda a Disney. Essa pluralidade presente nas telas provoca uma forte conexão com o público.
Conflito de gerações
“Amamos a animação. É uma aventura superfamília, que trata do conflito de gerações, principalmente da relação de pais e filhos. O filme também traz a questão da sexualidade de forma natural e tranquila”, opina Gabriela, mãe de Álvaro, 10, Inácio, 10, e Clarice, 6, que saíram entusiasmados da sessão em Pindamonhangaba, interior de São Paulo. Para as crianças, o personagem favorito é Splash!, o mascote responsável pela ponte entre os mundos.
Ao tratar das demandas da nova geração por se ver representada na tela, com suas identidades, conflitos e inquietações, o filme incentiva, de forma sensível, que os espectadores possam imaginar outras formas de ser e estar no mundo.
Um legado para o futuro
“Mundo estranho” não é apenas uma história sobre explorar um novo território ou resolver conflitos familiares. No plano de fundo, o filme também trata de escolhas que impactam o meio ambiente e as gerações futuras.
“O melhor legado que podemos deixar é construir um presente que valerá a pena no futuro”, afirma Ethan Clade.
Em um determinado momento, os Clade descobrem que o “pando” está sendo responsável pela morte de um ecossistema. Ao entenderem os efeitos nocivos da sua principal fonte de energia, eles decidem repensar a forma como se organizam em sociedade.
“O objetivo não é destruir monstros, é viver em harmonia. Precisamos construir uma sociedade funcional com os recursos disponíveis”
Para o advogado de Direitos Humanos e Socioambientais, Gabriel Mantelli, o filme traz a necessidade de promover uma transição energética que seja justa, inclusiva e que garanta a sustentabilidade do nosso planeta a partir dos recursos já existentes, que é a ideia defendida por Ethan no final do filme. “Já estamos vivendo no contexto das mudanças climáticas, qual resposta nós vamos dar pra isso?”, provoca Mantelli a partir das reflexões propostas na telona.
Ao perceber que o “mundo estranho” é, na verdade, um ser vivo, Matheus, 4, ficou empolgado: “É uma criatura, papai! É uma criatura, papai!”. Inácio, 10, comenta que achou fascinante “o momento que aparecem os olhos dele!”, também em referência à revelação do “mundo estranho” ser o interior de uma criatura.
A mãe Gabriela observou como “as crianças ficaram felizes ao fazer conexões do filme com o que estão aprendendo na matéria de Ciências na escola” e o especialista em direito socioambiental nos lembra de uma teoria da ecologia chamada “Gaia”, segundo a qual tudo no planeta estaria conectado, como um grande organismo vivo, como traz o desfecho do filme.
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