Um bolo quentinho saindo do forno feito pela vovó, uma bicicleta que ficou pequena ou uma ida à praia pela primeira vez. Se estas situações te deixaram com uma sensação gostosa de nostalgia da infância, talvez seja uma boa ideia recuperar essas lembranças em momentos de dores de baixa intensidade. Publicado na revista científica “Jneurosci”, o estudo “Thalamocortical Mechanisms for Nostalgia-Induced Analgesia” (mecanismos talamocorticais para analgesia induzida por nostalgia, em tradução livre), realizado pelo Instituto de psicologia da Academia Chinesa de Ciências, mostrou que a nostalgia teve efeito analgésico nos participantes, monitorados por aparelhos de ressonância magnética.
Causada por cheiros, cores, imagens ou sons, a nostalgia foi induzida no estudo por meio de 26 imagens, como uma bicicleta usada na infância, doces e desenhos antigos. Se contrapondo à nostalgia, os participantes também foram expostos a 26 imagens de controle, com objetos ou cenas da vida moderna. Enquanto apresentados às imagens, aparelhos de ressonância magnética registravam a atividade cerebral dos participantes, que eram estimulados à dor por aparelhos de calor.
Os resultados revelaram uma correlação entre menos dor e mais nostalgia, sugerindo que quanto maior a nostalgia sentida, maior o efeito analgésico, além de gerar sensações agradáveis nos participantes. Já a exposição às imagens de controle não causava sensações agradáveis, sugerindo a nostalgia como uma emoção positiva e seu despertar como um gatilho para o prazer. Vale ressaltar que o efeito analgésico foi provocado diretamente pela nostalgia sentida, e não pelo prazer induzido pelos estímulos visuais das imagens.
Apesar dos resultados positivos, o estudo sugere que a nostalgia é eficaz quando a intensidade da dor é baixa devido a duas possíveis razões: sentir dores intensas demanda mais recursos cognitivos e enfraquece os efeitos nostálgicos; ou pelo efeito da nostalgia ser prolongado quando a dor é menor.
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E o que faz tudo isso funcionar?
Antes das sensibilidades chegarem ao cérebro, o tálamo é responsável por gerenciá-las, com exceção da olfativa. A estrutura também está relacionada à memória, sistemas motores e emoções. O estudo descobriu que o tálamo desempenhou um papel fundamental entre a relação de nostalgia e dor, sugerindo que a estrutura funciona como um mecanismo capaz de modular a resposta do corpo à dor quando estimulado a efeitos nostálgicos.