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Especialistas respondem seis perguntas sobre o desfralde

Perguntas sobre desfralde: foto mostra menino sentado em pinico verde claro.

Assim como outras conquistas do desenvolvimento infantil, o desfralde é uma fase importante na vida das crianças e dos pais. Está relacionado ao ganho de autonomia e pode acontecer mais cedo para alguns e mais tarde para outros. Portanto, precisa ser respeitado de acordo com o perfil e ritmo de cada um, para que ninguém seja desestimulado durante esse processo. Conversamos com especialistas e famílias a respeito de algumas perguntas sobre o desfralde.

“O assunto não é muito científico. Ele passa pela maturidade da criança e pela disposição e atitude do cuidador”, afirma o intensivista pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe, Luiz Renato Valério.

Perguntas comuns sobre o desfralde

A observação de alguns especialistas apontam para uma idade em torno de dois anos a dois anos e três meses. Mas não existe um momento definitivo. Algumas crianças tem mais facilidade, outras não. “Essa é uma evolução individual”, afirma o pediatra Luiz Renato Valério. Mais do que a idade em si, é preciso considerar um conjunto de características no desenvolvimento do controle esfincteriano. A psicóloga Daniela Carla Prestes explica que a criança precisa estar pronta do ponto de vista neurológico e psicomotor, ou seja, conhecer minimamente as partes do corpo e sentir como funcionam, para perceber como as mudanças estão acontecendo em seu organismo.

“Também faz parte do processo ter capacidade de concentração, paciência e o mínimo de compreensão sobre o que se faz em espaços públicos e privados”, diz. Na opinião da psicóloga, o desfralde não pode ser brusco, mas como qualquer outra etapa do desenvolvimento, requer o estímulo dos cuidadores. Portanto, famílias devem ficar atentas quando essas pré-condições mencionadas forem alcançadas.

Amanhecer com fraldas secas e, pela manhã, ter diurese abundante, de acordo com o pediatra, é uma indicação de que a criança já possui certo grau de controle do esfíncter. Ele também destaca a atitude de pedir para ir ao banheiro, de se sentar no vaso sanitário ou penico.

A coordenadora pedagógica do Centro de Educação Infantil do Hospital Pequeno Príncipe, Ariela Fernanda Oliveira, descreve o primeiro passo: observar a linguagem da criança, se ela já sabe distinguir quando fez xixi ou cocô e se comunica isso ao adulto. Outro sinal é demonstrar incômodo por estar com a fralda. “É preciso observar a maturidade e a autonomia da criança”, reforça.

Parece não haver uma diferença significativa, de acordo com os especialistas, mas depender mais da motivação que recebem. A pedagoga destaca que o desfralde varia e não está essencialmente ligado ao fato da criança ser menino ou menina, mas sim à atitude da família e, principalmente, à individualidade da criança. “Insegurança e ansiedade interferem no diálogo e na preparação da criança”, atenta. Ísis, de cinco anos, começou o processo do desfralde por incentivo da família com um ano e seis meses. Naquele momento ela ainda não estava completamente preparada. “Ela tinha medo de cair no vaso sanitário, então passamos a utilizar um penico”, conta a mãe, Roberta Silva Lopes. Foram várias tentativas até Ísis ganhar segurança e se concentrar na tarefa, evitando escapes.

Mas ela só ficou totalmente desprendida da fralda com dois anos e alguns meses, quando entrou para uma creche pública. Já Márcia Ghisi, mãe do Valentin, conta que ele deu adeus às fraldas com um ano e dez meses, após apresentar por conta própria sinais de que estava incomodado. “Quando ele estava brincando, acabava esquecendo e fazia xixi”, lembra. E quando isso acontecia, a família agia com naturalidade para não constrangê-lo. Essa atitude, como defende Luiz Renato Valério, é essencial para não desestimular a criança. Ao contrário, os “bons resultados” devem ser comemorados ou criança deve ser cumprimentada pela evolução.

As opiniões variam. Mais uma vez, exige diálogo e observação das características de cada criança. Nos casos em que escolas e famílias optam pelo desfralde coletivo, a pedagoga Ariela de Oliveira explica que é mais adequado que se faça com crianças que estejam na mesma faixa etária e é essencial que famílias acompanhem o processo.

“Quando há mais de uma criança, a gente nota que o medo e as inseguranças são mais trabalhadas, pois uma motiva a outra, por exemplo, a ir ao banheiro”. Apesar de algumas críticas por parte das famílias e outros pontos positivos destacados por especialistas, a psicóloga Daniela Prestes avalia que, assim como outros aspectos do desenvolvimento, seria mais adequado que o processo do desfralde fosse feito de forma individualizada, pois cada criança possui seu ritmo.

O desfralde é uma etapa importante do desenvolvimento da criança. Assim como o desmame, aprender a andar ou falar. No processo de construção psíquica, o abandono das fraldas está ligado à conquista de independência e autonomia em relação ao corpo. “É um momento da quebra de um vínculo, do afastamento entre a criança e a pessoa que está responsável pela função de higiene”, explica a psicóloga.

É quando crianças já possuem todo o conjunto de características para o controle esfincteriano e ainda sim se mantêm nas fraldas, por diversos motivos. “Pode estar relacionado tanto a uma atitude dos pais ou a uma questão individual da criança, cujo sintoma se expressa dessa maneira”, explica Daniela Prestes. Sobre o assunto, o pediatra Luiz Renato Valério insiste: “Uma parte do desfraldar tarde vem da criança, mas outra de quem está responsável pelos cuidados dela. Todos os bebês têm suas individualidades, mas precisam ser estimulados.”

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