O que fazer com aquele monte de folhas de caderno que fica sem uso porque o ano acabou e as páginas sobraram? E as canetinhas, massinhas, lápis de cor e até papéis coloridos que voltaram na mochila no último dia de aula? A resposta pode até ser simples para a maioria dos pais: reaproveitar tudo no ano seguinte!
No entanto, a opção de reutilizar ou trocar o material escolar é complexo para algumas crianças e adolescentes. Tudo porque eles podem ter a sensação de que não terão materiais novos ou da moda, com personagens e marcas que despertam o desejo de consumir cada vez mais.
Por isso, é importante estimular desde cedo a prática de reutilizar o que sobrou e até passar adiante o que não será mais usado, como um uniforme que não cabe mais ou um livro paradidático, por exemplo.
Assim, para fugir do alto custo das listas pedidas nas escolas, as famílias optam pela reutilização ou troca de materiais didáticos. Isso pode acontecer entre estudantes da mesma turma ou do mesmo círculo social.
Troca de livros e até de uniformes ajuda nas despesas familiares
Atualmente, as escolas também começaram a incluir iniciativas de reaproveitamento de materiais. “O primeiro motivo foi o custo”, admite Luciana Fevorini, diretora do colégio Equipe, em São Paulo. Lá, existe um programa de doação de livros didáticos e literários que estiverem em bom estado.
“Os pais sempre reclamam do alto custo dos livros didáticos”, explica Fevorini. Ela conta ainda que já havia uma grande troca dos livros de maneira informal entre os integrantes da escola. “Nós entramos para tentar botar ordem naquilo que já existia”, conta.
Do mesmo modo que a prática da troca de livros continua existindo extra-oficialmente, o programa tem mais um objetivo. Segundo a diretora, é justamente incentivar os estudantes a cuidarem de seus materiais e a praticarem a doação. Além disso, ela afirma que as famílias apoiam e isso não causa nenhum percalço maior no dia a dia das aulas.
Já no colégio Nossa Senhora das Graças, em São Paulo, estudantes, pais e educadores se mobilizaram para fazer o “Varal solidário”. Ou seja, um projeto em que os uniformes usados chegam até outros estudantes para que reutilizem no ano seguinte.
Incentivar o reaproveitamento e fazer com que esse movimento seja aceito por todos na escola é um caminho para evitar desperdícios. Para a diretora do Equipe, a iniciativa evita discussões ou problemas de relacionamento que podem acontecer nesses momentos de troca.
Reutilizar é uma forma de ensinar sobre sustentabilidade
Luciana Fevorini explica que a demanda não é só sobre quem pode pagar ou não. Na verdade, é principalmente sobre a necessidade de implementar uma cultura de troca na escola. Portanto, não é um fator unicamente financeiro, já que a diretora afirma que a maioria dos pais que fazem parte de sua escola teria condições de pagar por materiais novos.
Além da troca de livro ser uma opção mais barata para as famílias, a prática dialoga com a sustentabilidade. “É tudo uma coisa só”, afirma. Desse modo, há também quem compartilhe uniformes utilizados no ano anterior e, posteriormente, pode ser passado para a frente. A prática incentiva os estudantes a se acostumarem com o conceito de preservação.
No caso dos materiais escolares, a diretora do Equipe explica que eles sabem que outros colegas vão utilizar os itens doados. Por isso, automaticamente esse entendimento ajuda os alunos a desenvolverem um senso de responsabilidade e de maior cuidado com o material de hoje.
Atenção para o que está na lista de material escolar
Nesta conta de reutilizar e comprar novos itens, os pais se veem no desafio de completar a lista anualmente. As escolas particulares, por exemplo, costumam ter listas extensas e, muitas vezes, caras. Além disso, podem sugerir a compra de determinadas marcas, o que a lei proíbe, assim como indicar o local para realizar a compra.
Catharina Berino, professora do curso de Direito da Faculdade Presbiteriana Mackenzie de Brasília, explica o que diz o Código de Defesa do Consumidor. “É proibido exigir a compra de materiais de determinadas marcas ou em estabelecimentos específicos, salvo justificativa técnica devidamente apresentada pela escola”, ressalta.
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Entretanto, não há como fugir da alta dos preços desses itens nesta época do ano. É a lei da oferta e da procura, que faz os valores mudarem um pouco antes da volta às aulas. Por causa disso, algumas famílias optam por nem mesmo levar os filhos para as compras.
“Para garantir que os preços estejam de acordo com o mercado, o consumidor pode comparar valores em diferentes estabelecimentos e plataformas digitais”, sugere Berino. Ela enfatiza que a lei reforça “o direito de acesso a informações claras e precisas sobre preços e condições de pagamento”.
Dicas para um consumo sustentável
- Defina com a criança o que é realmente necessário: será que é muito essencial ter um estojo de marca ou a borracha mais colorida de todas?
- Evite itens descartáveis: procure lapiseiras e canetas recarregáveis, mochilas e lancheiras duráveis.
- Customize: com criatividade é possível criar uma capa nova para um caderno que foi pouco usado ou aplicar algo divertido na mochila, como bottons, retalhos, desenhos com canetas permanentes.
- Guarde o que sobrou do ano anterior: o que estiver em bom estado pode ser doado ou reaproveitado para outras atividades ao longo do ano.
- Mobilize o grupo de pais: pergunte quem gostaria de fazer trocas tanto de materiais como uniformes, organize compras em grupo para garantir desconto e divisão de itens que podem ser compartilhados.
Fonte: B2 Mamy
Como funciona?
O estudante que aceita doar seus livros recebe um vale-troca a cada fim de ano letivo. Nessa dinâmica, a escola repensou a quantidade de vezes que é possível trocar um mesmo livro. “Atualmente, a troca acontece quando há uma mudança grande de conteúdo ou de currículo”, diz a diretora. Segundo ela, cada exemplar pode ser reutilizado até quatro vezes.