Quando minha filha entrou na segunda série do primário, já estava claro que ela tinha dificuldades para ler. Para mim não fazia muito sentido, já que ela era claramente muito inteligente. Aos dois anos ela decorava os livros que eu lia para ela, e inventava suas próprias histórias. Na verdade, quando sentia dificuldades para ler, ela simplesmente inventava a história enquanto insistia que sabia ler.
Após alguns testes ela foi diagnosticada com dislexia, um termo genérico que se refere a dificuldades para interpretar palavras, letras e símbolos, mas que também admite que essa incapacidade não é refletida na inteligência. Uma vez que o problema da minha filha foi identificado, começaram as aulas particulares. Ela recebeu aulas durante anos, e por professores com uma variedade de abordagens. Ela até chegou a memorizar as regras fonéticas, mas ainda não conseguia aplicá-las.
Infelizmente, minha filha chegou até a quinta série ainda com dificuldades para ler. Claro que a ausência dessa importante habilidade afetou toda a sua trajetória educacional, assim como a sua vida social na escola. Em casa, eu continuava lendo para ela. O amor dela por livros e as dádivas que eles oferecem só crescia. Ao mesmo tempo, eu continuava procurando soluções. Isso era no meio dos anos oitenta, quando dificuldades de aprendizagem ainda não eram tão reconhecidas como são hoje.
Eu implorei aos diretores de várias escolas particulares da região para que aceitassem a matrícula da minha filha, mas nenhum deles estava preparado para lidar com uma menina com dislexia extrema. De fato, havia uma escola dedicada a ajudar meninos com dificuldades de aprendizagem, mas eles não estavam dispostos a fazer mudanças. Tudo que eu tentava terminava em fracasso. O ensino em casa era uma opção, mas eu não me sentia preparada para gerenciar a minha vida profissional e educar a minha filha ao mesmo tempo, apesar de que quinze anos antes eu havia participado em uma ação judicial que ajudou a legalizar o ensino em casa no nosso estado.
Até que um dia eu recebi um telefonema enquanto meus filhos estavam em um acampamento de verão. Uma voz desconhecida no outro lado da linha falou: “Olá, meu nome é Elizabeth Verrill. Eu me mudei para sua região recentemente e ouvi dizer que você está procurando ajuda para a sua filha. Posso ir até a sua casa e conversar com você sobre a minha abordagem com crianças?” É claro que eu estava curiosa e esperançosa. Convidei a Elizabeth para vir tomar um chá no dia seguinte.
Elizabeth Verrill trabalha com crianças com dificuldades de aprendizagem há décadas. Porém, ela explicou que após ter aprendido o Método Tomatis, nunca mais utilizou outra abordagem para crianças. Ela explicou que Alfred Tomatis era um otorrino francês cujo pai era cantor de ópera. Enquanto Tomatis observava os cantores, ele desenvolveu a teoria de que as pessoas só conseguem cantar aquilo que conseguem ouvir. Ele inventou um dispositivo chamado o Ouvido Eletrônico para expandir a capacidade de ouvir. Diziam que ele conseguia fazer um cantor ter uma afinação perfeita.
Tomatis também notou que crianças com dificuldades de aprendizagem muitas vezes cantavam desafinado. Quando ele começou a usar o ouvido eletrônico para melhorar o canto das crianças, seus problemas de aprendizagem também melhoravam ou sumiam. Em 1989, quando Elizabeth Verrill começou a trabalhar com a minha filha, ela era uma das poucas pessoas que praticavam esse método nos Estados Unidos. Tivemos muita sorte dela ter nos encontrado.
Elizabeth nos ensinou que a audição de todo mundo deve ser dominada pelo ouvido direito e apoiada pelo ouvido esquerdo. Esse padrão se desenvolve porque as pessoas normalmente falam pelo lado direito da boca, levando o ouvido direito a ouvir uma voz mais alta. Alfred Tomatis descobriu que crianças com dificuldades de aprendizagem tinham o ouvido esquerdo dominante em algumas frequências sonoras. Portanto, quando minha filha usava o ouvido eletrônico, ela tinha um fone com o volume do lado direito um pouco mais alto que o esquerdo para corrigir esse desequilíbrio. Tocavam Mozart e Cantos Gregorianos, mas com as frequências mais baixas retiradas da música. Essa parte do protocolo tem a ver com o fato de que bebês em formação no útero da mãe só ouvem sons em frequências mais altas. Tomatis descobriu que reverter aos sons de frequências altas ajudava a sanar traumas emocionais e do parto. Além disso, ele defendia que os ouvidos são a porta do cérebro, e que com a ajuda do ouvido eletrônico o cérebro poderia fazer exercícios para reforçar o seu funcionamento.
Quanto mais eu aprendia sobre Tomatis, mais convencida eu estava de que era o método necessário para a minha filha. Eu tirei ela da escola e deixei a Elizabeth Verrill dar aulas para ela todas as manhãs da semana por um ano. Logo no começo, Elizabeth deu o livro Uma Dobra no Tempo, de Madeleine L’Engle, para minha filha e pediu que ela lesse as primeiras páginas. Como sempre, minha filha olhou o livro com confiança e inventou uma história, fingindo estar lendo. Elizabeth gravou essa demonstração, agradeceu a minha filha, e elas começaram os trabalhos. Às vezes minha filha tricotava enquanto ouvia a frequências mais altas de Mozart. Outras vezes ela fazia brincadeiras de matemática ou folheava livros enquanto a música filtrada tocava nos seus ouvidos. Entre as sessões de Tomatis, Elizabeth dava aulas básicas de leitura e escrita.
Já no meio desse ano, Elizabeth mais uma vez pegou a cópia de Uma Dobra no Tempo e pediu para minha filha ler as primeiras páginas em voz alta. Desta vez ela leu algumas das palavras e rapidamente inventou o resto. Elizabeth agradeceu e guardou o livro. No final do ano, ela deu o livro para minha filha de novo. Desta vez ela leu todas as palavras sem nenhum erro. Elizabeth havia gravado as três leituras e, genialmente, tocou elas para a minha filha. Minha filha respondeu: “Como você fez para não rir?”
Após um ano de mudanças drásticas, minha filha foi matriculada em uma das escolas mais exigentes da nossa região. Não há dúvidas de que o Método Tomatis foi responsável pela jornada da minha filha, dos tempos em que ela era chamada de burra no ensino primário até o início da sua longa carreira acadêmica.
Já o meu filho teve uma história diferente. Ele não tinha dificuldades de aprendizagem, mas na terceira série já estava claro que ele não ia bem na escola. Elizabeth recomendou que ele fizesse duas sessões de Tomatis por semana, depois da escola. No final do ano letivo, a professora do meu filho comentou que ele havia tido o maior salto intelectual, social e emocional entre todos os alunos da série. Mais uma vez, o crédito vai para o Método Tomatis.
Já se passaram mais de trinta anos desde que Elizabeth Verrill e o Método Tomatis mudou a vida dos meus filhos para melhor. Felizmente, o trabalho de Alfred Tomatis tem tido mais reconhecimento. Hoje o seu método para ajudar crianças está disponível no mundo inteiro.