Na mata, quem entra sem pedir licença pode cair em armadilhas, se perder no caminho ou ouvir um assobio chamando na direção contrária. Os encantados protegem a floresta contra quem chega para destruir ou caçar. Esses seres da cultura originária estão há gerações presentes nas histórias orais e nas cosmologias indígenas, ribeirinhas e tradicionais.
Na Amazônia, maior floresta tropical do mundo, entre os muitos seres, o curupira desponta como o guardião da mata e dos bichos. Diferente do que muita gente pensa, ele não faz maldade, mas, sim, confunde os caçadores com as pegadas de seus pés virados. O curupira guarda a natureza como sua casa.
Para apresentar melhor quem é essa figura que virou mascote da COP30, conferência mundial sobre o meio ambiente, que este ano será em Belém (PA), Lunetas investigou quem é o curupira e qual a importância dos encantados para a cultura brasileira
Para responder, convidamos o professor e escritor indígena Daniel Munduruku, vencedor do prêmio Jabuti de literatura, que contou como foi ver curupira quando era criança. Além disso, a pesquisadora Gracinea Araújo, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), explica o que ouviu de moradores de comunidades do interior da Amazônia para seu estudo sobre o curupira. Segundo ela, quem conhece o encantado afirma: é preciso obedecê-lo. “Os ribeirinhos do interior da floresta são conscientes do papel que a curupira exerce em seu cotidiano e, ao mesmo tempo, são testemunhas do poder que esse ser sobrenatural possui”, registra no artigo.
“Eu já vi o curupira”
“Os encantados são parte da floresta”
Para saber mais sobre o curupira
Falar do curupira e dos encantados para as crianças pode parecer simples, mas ainda existe o risco de cair em estereótipos. Então, antes de tentar explicar, é interessante pesquisar fontes confiáveis e apropriadas, como aponta Aiyra Tomé, educadora indígena puri. “Um bom caminho é começar lendo autores indígenas”, diz.
Idealizadora do projeto Kurumi Educação, que dispõe materiais educativos e livros sobre a história e a cultura indígena para o letramento de professores e famílias, Aiyra sugere outros caminhos para as crianças. “As leituras podem ser exploradas em rodas de histórias, glossários de línguas indígenas e mapas para ver onde vivem os encantados”. Outra opção é propor brincadeiras como recriar sons da floresta e circuitos educativos como, por exemplo, uma corrida seguindo as pegadas do curupira, trilhas com jogos de perguntas e respostas, jogo da memória ou desenhar mapas. Confira as sugestões da educadora:
Tuim passeia pela floresta em busca de um amigo. curupira também. Entre os desafios de aprender a crescer e a proteger a natureza, os dois se encontram e aprendem sobre respeito, cuidado e amizade.
No primeiro livro, saci mostra que é mais do que um ser encantado que faz travessuras. Com a sabedoria das matas e seu humor característico, ajuda o menino indígena Vera com seu desejo de estudar. Já o segundo título apresenta Jaxy Jaterê, o protetor das florestas e das pessoas. Registro de histórias orais dos povos originários, o livro esclarece quem é o saci na leitura indígena.
A onça Iauaretê cruza caminhos com jabuti, arara e outros bichos falantes. Em cada encontro, um conflito para refletir com a sabedoria de cada ser da natureza. As fábulas são acompanhadas por desenhos de Sawara, filha do autor, quando tinha 11 anos.
Para ouvir:
Podcast “Pavulagem – contos da floresta”
A cada episódio, uma história sobre os encantados da Amazônia contada pelos ribeirinhos e indígenas da região.

