Quando nasce um filho, nasce a culpa? Quando se é mãe, a busca pela maternidade perfeita causa mil motivos para se sentir culpada e ter suas experiências invalidadas e questionadas. No artigo “The intergenerational transmission of self-compassion” (em tradução livre, “A transmissão intergeracional da autocompaixão”), 246 pares de mães e filhos participaram de um estudo sobre autocompaixão, onde desenvolver o sentimento se mostra uma saída para evitar a culpa materna e emoções como frustração, exaustão e raiva durante a maternagem.
Realizado pela mestra em psicologia positiva Adriana Drulla, o estudo nasceu como uma inquietação pessoal da sua própria experiência com a maternidade. “Sempre fui uma pessoa bastante perfeccionista e autocrítica, e quando me tornei mãe, há 12 anos, levei isso pra maternidade. Apesar das ‘bulas’ de maternidade perfeita, percebi que minha filha estava ficando igual a mim, e foi quando comecei a me questionar”, conta a pesquisadora.
O que diz o estudo?
- Quando as mães se cobram menos, os filhos se beneficiam mais;
- A expectativa da mãe perfeita, o julgamento social em cima da maternidade alheia, excesso de informações, conselhos e boas práticas aprisionam as mulheres a padrões impossíveis que geram sentimentos ruins;
- Mães autocompassivas têm filhos mais autocompassivos, e se sentem mais competentes no seu papel de mãe;
- Autocompaixão significa olhar para as dificuldades com realismo, onde adotar uma postura gentil consigo mesma e pedir ajuda são atos de autocuidado.
Por mais que a culpa seja uma emoção não positiva, na maioria das vezes, ela é importante para o funcionamento humano: o desconforto nos ajuda a reparar danos e escolher melhores comportamentos no futuro, mais alinhados com nossas expectativas e valores. Porém, na maternidade, acompanhado da culpa também deve vir o perdão.
“A autocompaixão ajuda que as mães sigam em frente, tenham menos medo de errar, e tenham maior facilidade para persistir e tentar novos caminhos”
A pesquisadora explica que, quando se abre mão da expectativa de se tornar uma mãe perfeita, fica mais fácil aceitar que os filhos também terão defeitos – ninguém é perfeito! “A criança que se sente aceita por quem ela é, que não acha que precisa mudar para receber amor, desenvolve um autoconceito mais positivo e maior autocompaixão”, explica Adriana. Quando há dificuldade em lidar com os próprios erros, também aumenta a tendência de desenvolver problemas emocionais com maior frequência, sendo importante endossar que nenhuma técnica de orientação parental funciona se você estiver se sentindo inferior. Se acolher é colocar em prática a sua humanidade.
Leia mais