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Clarice Lispector para crianças: os 5 livros infantis da autora

Foto em preto e branco da escritora Clarice Lispector num fundo vermelho com intervenções de arte imitando rabiscos

Em homenagem à Clarice Lispector (1920-1977), um dos principais nomes da literatura brasileira, o Lunetas revisita sua obra voltada para o público infantil.

Como e por que Clarice começou a escrever para crianças?

Mãe de dois filhos, Pedro Lispector Valente e Paulo Lispector Valente, Clarice começou a escrever para atender ao pedido, na verdade uma “ordem”, de Paulo, quando ele tinha seis anos, revelou em sua última entrevista. “O mistério do coelho pensante”, seu primeiro livro infantil, passou mais de uma década guardado na gaveta antes de ser publicado, em 1967. Os livros infantis da autora de “A hora da estrela” nasceram para dar vida às histórias que ela contava para os meninos em casa, e têm em comum o amor da escritora pelos bichos.

Conhecida por visitar a complexidade da existência e dos sentimentos humanos, Clarice experimenta em seus textos considerados infantis uma simplicidade do dizer, que nem por isso deixa de lado sua complexidade essencial. Questionada se é mais fácil escrever para adultos ou crianças, ela afirma encontrar nas crianças um interlocutor mais sensível à leveza da vida.

“Quando me comunico com a criança, é fácil, porque sou muito maternal”

“Quando eu me comunico com o adulto, na verdade estou me comunicando com o mais secreto de mim mesma, aí é difícil. O adulto é triste e solitário, mas a criança tem a fantasia. Ela é solta e feliz”.

Não à toa, seus livros escritos para esse público, ainda pouco conhecidos, têm um tom fortemente marcado pelo diálogo e pelo desejo de se comunicar com o mistério do mundo, sempre a partir de uma perspectiva curiosa e disposta a interrogações difíceis.

“Nos livros para crianças, não se nega o sofrimento inevitável de todos que estão vivos, mas procura-se aplacá-lo com a criação de um espaço aconchegante de diálogo, em que as crianças são atendidas em suas necessidades afetivas e emocionais. Tudo isso por meio da voz dessa narradora maternal que conversa com o seu interlocutor ao longo das narrativas”, explica Mell Brites, editora da Companhia das Letrinhas, mestre em literatura brasileira e autora da dissertação “As infâncias de Clarice Lispector“.

Conheça a seguir os cinco livros infantis de Clarice Lispector

Publicadas originalmente entre a década de 1960 e 1980, as cinco obras de literatura infantil da autora ganharam novas reedições pela editora Rocco, com projeto gráfico próprio e ilustrações assinadas por artistas como Odilon Moraes e Kammal João. O projeto de reedição inclui também um box temático contendo somente os livros infantis.

1. “O mistério do coelho pensante” (1967)

A obra conta a história de Joãozinho, um coelho branco muito esperto. De tanto farejar ideias com seu focinho inquieto, Joãozinho inventou uma que iria dar o que falar: fugir da casinhola de grade de ferro sempre que esquecessem a sua comida. A estratégia deu certo e Joãozinho nunca mais ficou sem cenouras. Mas o problema é que ele tomou gosto pela liberdade e sempre encontrava um jeito de escapar, deixando a garotada da vizinhança intrigada. Afinal, como podia um coelho tão gordinho passar pelas grades apertadas da casinhola?

2. “A mulher que matou os peixes” (1968)

Como na edição original, a nova edição traz a dedicatória que a autora fez aos filhos – Pedro e Paulo – e aos netos que ela ainda não tinha. E é justamente a ilustradora Mariana Valente, neta de Clarice, que agora assina as ilustrações e o projeto gráfico. Usando técnicas de colagem que são a marca de seu trabalho, Mariana dá vida a uma Clarice multifacetada e multicolorida. O resultado é uma obra de inesquecível ternura, renovada pelo traço ao mesmo tempo ousado e carinhoso de sua neta.

3. “Doze lendas brasileiras – Como nasceram as estrelas” (1977)

Para cada mês do ano, Clarice revela uma lenda ou um conto que retrata cenários e tradições característicos da cultura brasileira. A história que dá nome ao título conta como, em uma aldeia, travessos curumins deram origem a “gordas estrelas brilhantes”. Entre índios e personagens do folclore nacional, como a sereia Iara, o Curupira e o Saci-Pererê, as fábulas terminam com um aprendizado. Apesar disso, em uma delas, Clarice alerta: “Será que a moral desta história é que o bem sempre vence? Bom, nós todos sabemos que nem sempre. Mas o melhor é a gente ir-se arranjando como pode e dar um jeito de ser bom e ficar com a consciência calminha.”

4. “Quase de verdade” (1978)

Lançado postumamente, esse título é narrado, ou melhor, “latido”, por Ulisses – uma homenagem da escritora ao seu cachorro vira-lata. Com belas ilustrações de Carla Irusta, o livro apresenta a história de uma figueira invejosa que traça um plano para obrigar as galinhas a colocarem ovos continuamente. Com toques de metalinguagem e um forte conteúdo político, abordado de forma lúdica e bem-humorada, a autora provoca os pequenos com “uma história que até parece de mentira e até parece de verdade”.

5. “A vida íntima de Laura” (1999)

Com ilustrações do premiado Odilon Moraes, o livro conta a história de Laura, a galinha que mais bota ovos em todo o galinheiro, mas que tem o pescoço mais feio do mundo e é burra de dar dó. Compondo uma “personalidade” cheia de nuances para sua personagem, Clarice diverte os pequenos sem subestimar sua inteligência e perspicácia.

* As resenhas de cada livro são de autoria da editora Rocco.

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