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‘Clara e o homem na janela’: o livro como mediador de uma amizade

Ilustração da personagem Clara, do livro "Clara e o homem na janela" correndo por um campo e segurando um livro de capa amarela

Chegamos devagarinho à história, primeiro sobrevoando um pacato vilarejo, aconchegante, bucólico. A sensação de paz e alegria predomina. A cada página, o leitor vai chegando mais perto de uma casa onde há vida pulsando: uma mulher lava roupas, enquanto uma menina brinca no quintal. A menina é Clara. 

Clara recebe um pedido de sua mãe para entregar uma encomenda a um calado senhor de uma certa casa grande. Como ele não sai de casa e não pode ver a luz, a cesta de roupas limpas deve ser deixada na soleira da porta. Apesar de seus sapatinhos vermelhos e da cesta que leva consigo, ela não é Chapeuzinho Vermelho.

Ao explorar as ilustrações, acompanhamos como a menina é tocada pela paisagem que percorre: a beleza do campo, a luz que há no dia, os pássaros pelo caminho, as flores. Em contraposição, há a expectativa de chegada a um lugar escuro e apartado: a casa do homem na janela. Por que ele vive em tão profundo silêncio e afastamento?

“Clara e o homem na janela” Com texto de Maria Teresa Andruetto e ilustrações de Martina Trach, o livro “Clara e o homem na janela” (Amelì) percorre idas e voltas da escuridão para a luz, caminhos semelhantes aos quais a vida exige que a gente atravesse para chegar a algum lugar. O encontro de Clara e o homem na janela, mediado pelos livros, nos ensina sobre a importância da interação com as pessoas e como isso pode transformar vidas. 

O senhor mora entre os livros, mas só esse fato pode não bastar, se as leituras não o levam para fora de si mesmo. É a partir das trocas que a transformação é possível. Ao oferecer um livro à Clara, inaugura-se uma amizade. A menina passa a visitá-lo mais e mais vezes, deixando roupas limpas e levando livros. Aos poucos, ela vai povoando esse homem de vida, com sua ingenuidade e astúcia de criança, o que será capaz de arrancar um homem de sua infelicidade.

Os livros, esse entreposto mágico entre Clara e o homem na janela, ao dizer das histórias reais ou inventadas de outras pessoas, ajudam o leitor a entender a própria história. Os livros nos ajudam a falar da vida, do que se viveu e não viveu, da coragem ou falta dela, dos desejos e do medo de vivê-los, oferecendo acolhimento para abandonar as pobres e covardes identidades construídas ao longo de toda uma vida de frustrações e sofrimentos.

* Texto escrito a partir do original publicado por Ana Carolina Carvalho, no site do Avisa Lá.

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