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Aquisição da fala: 4 dúvidas sobre as primeiras palavras do bebê

Aquisição da fala: uma bebê negra, de laço branco na cabeça, egro parece estar gritando

A palavra é uma das formas mais sofisticadas de comunicação e alcançá-la exige tempo. Assim como damos o primeiro passo, experimentamos o gosto do alimento pela primeira vez e abrimos aquele sorriso de principiante registrado na memória das nossas mães e pais, a primeira palavra também é lembrada como um marco importante do desenvolvimento. Mas até que ela seja dita, há um caminho cheio de etapas e estímulos para o aprimoramento da linguagem do bebê.

Conforme explica a coordenadora do departamento de Linguagem da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, Ana Cristina Montenegro, muitos elementos influenciam na aquisição da fala, denominados fatores biopsicossociais. “Consideramos desde fatores biológicos ou questões genéticas e hereditárias, o ambiente afetivo e psicológico, assim como o contexto social em que se vive”, explica. Ela reforça que a palavra é mais uma habilidade de comunicação, mas todas as linguagens anteriores apresentadas pelo bebê merecem atenção.

Com tantas informações para as famílias neste início de vida, surgem dúvidas em relação a melhor maneira de acompanhar o processo de aquisição da fala. “As crianças apresentam diferentes perfis de desenvolvimento de acordo com os estímulos que recebem”, afirma a fonoaudióloga Christiane Caruzzo Benevides, que trabalha há vinte anos com foco em terapia e crianças especiais. Segundo ela, a interação é uma das fontes de sucesso do bom desenvolvimento da linguagem verbal.

As duas profissionais ajudaram o Lunetas a responder cinco perguntas sobre aquisição da fala.

1 Quando o bebê começa a falar?

Cada criança é uma. O mais importante, segundo elas, é que o bebê receba sempre muitos estímulos para auxiliá-lo no processo de desenvolvimento da linguagem e, consequentemente, da fala. Em geral, entre três e cinco meses, eles começam a balbuciar, ou seja, emitir os primeiros sons. As consonantes bilabilais – aquelas que têm os sons formados pelo encontro dos lábios – aparecem primeiro: /p/, /b/, /m/. Por volta de um ano até um ano e seis meses a fala começa a ser articulada. É quando os sons começam a ganhar concretude por meio das palavras.“Há crianças que iniciam essa fala a partir dos dez meses, mas o mais comum é esperar que até um ano de idade surjam as primeiras referências como “dá”, “qué”, “não”, “tchau”. Antes dessa etapa, há outras formas importantes de comunicação não verbal por meio de gestos e expressões faciais que merecem a mesma atenção. Alguns exemplos são sorrir, se deitar, começar a apontar, dar tchau e mandar beijos”, descreve Ana Montenegro.

2 O que a família pode fazer para ajudar o desenvolvimento da fala?

Segundo Christiane Caruzzo, a família é um fator fundamental, pois a criança precisa se sentir amada e acolhida. A criança que recebe mais estímulos com propósito, desenvolve melhor a fala. Por isso é importante conversar com o bebê desde o nascimento, estabelecendo muitas interações. As fonoaudiólogas dão algumas sugestões de estímulos à fala:-Contar histórias, ler e mostrar figuras; -Utilizar a teatralidade ao falar para chamar a atenção; -Usar onomatopeias, imitando o som dos animais; -Brincar, rechear o dia de atividades lúdicas; -Cantar para que a criança vá absorvendo ritmos, melodias e fonemas; -Nomear as partes do corpo na hora do banho: “Vamos larvar o pé?”; -Narrar passeios e descrever cenários, antecipando aquilo que vai acontecer: “Vamos na feira e depois vamos almoçar na casa da vovó”; -Nos passeios, se a criança reparar em algo diferente, nomear o que ela viu: “Olha o caminhão passando.”; -Falar corretamente, sem usar diminutivos. Mas se a criança fala “pepeta” e não “chupeta”, não corrigir ou reprimir.Isso não é um manual. Todas as sugestões podem ser manifestadas naturalmente conforme o tempo que cada família disponibiliza no dia. Essencial é recordar que a criança já expressa linguagens anteriores a fala, seja apontando para pessoas ou objetos, sorrindo ou fazendo caretas. Essas iniciativas não devem ser ignoradas. Pelo contrário, os adultos podem ajudar a dar sentido àquilo que crianças estão sentindo. Se a criança chora, é possível fazer perguntas: “Você está com fome?” “Você está com sono?” Christiane Caruzzo aconselha: “Procure falar e dar sentido às ações até que crianças comecem a organizar e formular as emoções a partir das próprias palavras.”

3 Qual o papel da creche ou pré-escola nesse processo?

Para famílias que trabalham fora de casa e que não disponibilizam de tanto tempo para interações, as creches e escolas têm um papel essencial. Ana Montenegro relata que em várias configurações de família, crianças não se sentem estimuladas a falar, seja por conviver apenas com adultos ou pelo fato de não se sentirem desafiadas, já que pais e mães geralmente sabem o que elas desejam quando manifestam alguns sinais. Nesse sentido, a escola é um ambiente coletivo que fornece estímulo tanto do ponto de vista da fala como do aspecto motor. Na escola a criança precisa conviver com seus pares, dividir a atenção do professor, se fazer entender. Ela aconselha que haja fonoaudiólogos dentro das escolas e creches para dar orientações e assessoria. Dessa forma, é possível aproveitar questões pedagógicas e estímulos auditivos para trabalhar a consciência fonológica com foco na alfabetização.

4 Qual é o impacto de tablets e celulares no processo de aquisição da fala?

As especialistas avaliam esses aparelhos a partir do aspecto biopsicossocial do desenvolvimento. A orientação parte do pressuposto de que crianças precisam de interação, troca e afetividade. Portanto, se elas não estão interagindo com a frequência que deveriam, podem apresentar atrasos na fala. “O contato ocular e a troca de turno durante a interação são muito importantes. Ou seja, a interlocução: um fala e o outro espera, o outro fala e o primeiro espera. Tablets e celulares não permitem isso”, atenta Ana Montenegro. Além disso, a fonoaudióloga Christiane Caruzzo opina que a rapidez com que informações se apresentam às crianças por meio desses aparelhos podem impactar o desenvolvimento de outras habilidades como a paciência e a capacidade de lidar com frustrações.

 

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