Quem passa poucos minutos ao lado de uma criança com um celular na mão sabe qual o resumo da brincadeira: apps infatis, “bum, bum”- arminhas de fogo tentando acertar algum alvo – e inumeráveis sugestões de produtos comerciais. Considerando o tipo de conteúdo oferecido às crianças pelas telas, quando o assunto é crianças e telas, quais os mitos e riscos dessa exposição? Será que estamos mesmo por dentro de tudo o que é dirigido a elas por esses programas?
Apps para crianças x publicidade infantil
De acordo com uma pesquisa publicada, em 2018, pela Universidade de Michigan (EUA), 95% dos apps para crianças apresentam publicidade infantil. O estudo aponta que mesmo aplicativos descritos como “educativos” mantêm a prática – manipuladora e disruptiva, segundo os pesquisadores – e os mais frequentes são os indicados para idade abaixo de cinco anos.
Os resultados da pesquisa sobre publicidade em apps para crianças apresentaram números mais precisos sobre a exposição: dos 135 aplicativos analisados, 129 (95%) continham pelo menos um tipo de publicidade. Estes incluíram o uso de conteúdos comerciais (42%); teasers inteiros de aplicativos (46%); anúncios publicitários interrompendo o jogo (por exemplo, pop-ups [35%] ou para desbloquear itens de jogo [16%]).
Além disso, continham compras no aplicativo (30%); pedidos para avaliar o aplicativo (28%) ou compartilhar em mídias sociais (14%); anúncios que distraem, como banners na tela (17%) ou anúncios ocultos com símbolos enganosos, como “$”, ou camuflados como itens de gameplay (7%).
Por um lado, é difícil blindar a criança de todos os efeitos negativos gerados pelo acesso às telas de tablets, celulares e mesmo televisão. Por outro, a tecnologia traz consigo potenciais educativos e de desenvolvimento. Considerando que os anúncios podem ser confusos para o senso crítico em construção das crianças, esse passou a ser um tema frequente abordado pelo Lunetas para orientar famílias, cuidadores e educadores.
Método de pesquisa
Para criar um livro de códigos de análise seguro, os pesquisadores da Universidade de Michigan (EUA) baixaram e reproduziram 39 aplicativos indicados para crianças de 12 meses a 5 anos. Para cada aplicativo, dois pesquisadores fizeram testes, tomando notas detalhadas sobre o design dos anúncios. Os códigos produzidos inicialmente foram aplicados nos 96 apps gratuitos e pagos mais baixados na categoria 5, na loja do Google Play. (Fonte: Jornal de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento)
Os pesquisadores também afirmam que a publicidade foi significativamente mais prevalente em aplicativos gratuitos (100% versus 88% dos aplicativos pagos), mas ocorreu em taxas semelhantes em aplicativos rotulados como “educacionais” em comparação com outras categorias. Isso sugere aos pais e cuidadores ter atenção ao baixar jogos e aplicativos, verificando não apenas as descrições apresentadas, mas também buscando fazer testes de avaliação junto com as crianças.
Leia mais
Direito das crianças
Publicidade em aplicativos infantis é ilegal e fere os direitos da criança.
O artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor estabelece que a publicidade para crianças menores de 12 anos é uma prática abusiva.
A Resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e Adolescentes reforça que é ilegal e abusivo direcionar publicidade ou “comunicação mercadológica” a essa faixa etária.
Acesse o site do Criança e Consumo para realizar denúncia de conteúdos abusivos. (Fonte: Laboratório de Educação)