Crianças e adolescentes ainda não foram incluídos no calendário de imunização contra a covid-19, devido à falta de estudos que comprovem a segurança da vacina em seu organismo. Mas, testes preliminares feitos com esse público, em diversas partes do mundo, têm mostrado resultados positivos.
É o caso de estudos clínicos iniciais com a Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac Biotech, que aplicou duas doses médias ou baixas da vacina ou um placebo em mais de 500 pessoas de 3 a 17 anos. Segundo resultados preliminares divulgados esta semana, a vacina contra covid-19 é eficaz e segura na imunização dessa faixa etária, sendo capaz de provocar reações imunológicas em crianças e adolescentes.
A Coronavac é o imunizante atualmente mais aplicado no Brasil, sendo fabricado pelo Instituto Butantan, em São Paulo. Porém, testes locais em crianças e adolescentes ainda não estão previstos, de acordo com o instituto.
Segundo os pesquisadores chineses, os níveis de anticorpos desencadeados pela vacina Coronavac em crianças foram maiores do que aqueles vistos em testes clínicos anteriores em adultos entre 18 e 59 anos e em pessoas idosas. Para a faixa etária de 3 a 11 anos, a dose menor conseguiu induzir reações de anticorpos favoráveis, e a dose média funcionou bem nos jovens de 12 a 17 anos. Além disso, a maioria das reações adversas foi branda. Apenas duas crianças que receberam a dose menor da imunizante tiveram febre alta e foram categorizadas como grau três. É também estudada a terceira dose da vacina.
Considerada vantajosa por ser dose única e conservada em temperatura de geladeira comum, a vacina da Janssen, filial da Johnson & Johnson, contra a covid-19 será testada em crianças e jovens no país a partir de maio. O recrutamento por centros de pesquisa já começou. Enquanto isso, espera-se pela aprovação de pedido de uso emergencial da Anvisa.
Para o infectologista pediátrico Márcio Moreira, do hospital Albert Einstein, os resultados positivos dos testes da vacina na população pediátrica não surpreendem, porque ela já se mostrou bastante eficiente e segura em outros grupos testados anteriormente. Além disso, o tempo de estudo no público infantil deve ser menor, porque há questões que já foram respondidas sobre o efeito da vacina no público adulto. “Certamente até o final do ano teremos respostas positivas”, acredita o especialista. “Mas, antes de mais nada, o que precisamos no Brasil é vacinar mais rapidamente os grupos prioritários e de maior risco.”
Por que testar e imunizar as crianças?
Ampliar a população imunizada ajudaria a conter a disseminação do coronavírus e suas novas variantes. Nesse sentido, crianças e adolescentes devem ser incluídas nos grupos de vacinação tão logo os testes comprovem sua eficácia, levando em conta que a faixa etária entre zero e 14 anos representa um quarto da população mundial.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), houve queda na proporção de mortes e hospitalizações do público infantil no Brasil, bem como redução das taxas de letalidade por covid-19 de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos em comparação a 2020.
Diante do avanço lento da vacinação nos grupos prioritários da população brasileira, é bem provável que crianças e adolescentes ainda demorem bastante para serem imunizados. O portal Monitora Covid-19, da Fiocruz, estima que, mantido o ritmo atual de vacinação, o Brasil só conseguirá vacinar toda sua população em 2024.
Aqui no país, está sendo feito um estudo de caso em Serrana (SP), município com pouco mais de 45 mil habitantes, para avaliar a imunidade coletiva. Após a vacinação de toda a população adulta, será observado o comportamento do vírus na cidade e se ocorrerão infecções pelo coronavírus em crianças.
“A imunidade de rebanho deve ser adquirida quando há vacinação em massa. No caso de Serrana, como o município é pequeno, é possível vacinar mais rapidamente os adultos, o que deve gerar uma mudança significativa. Trata-se de um estudo piloto, com resultados ainda não divulgados e muitas variáveis (porque as pessoas circulam de uma cidade a outra, então não é possível isolar o município), mas a expectativa de excluir o vírus de circulação é boa”, comenta o doutor Márcio Moreira.
Outros testes em andamento com crianças e adolescentes
Cerca de 60% dos nove milhões de israelenses já foram vacinados contra a covid-19 com ao menos uma dose. Porém, a vacina aplicada no país, a da Pfizer/BioNTech, não é recomendada para a faixa etária abaixo dos 16 anos de idade e havia receio de que isso dificultasse a obtenção da imunidade coletiva ainda que as crianças sejam, de modo geral, menos suscetíveis à transmissão do coronavírus. Ainda assim, o país, considerado o mais avançado quanto à imunização de sua população, vacinou em torno de 600 crianças e adolescentes de 12 a 16 anos com alguma doença preexistente. Até agora, não foi registrado nenhum efeito colateral significativo da vacina nesse público.
No Reino Unido, o Instituto Nacional de Pesquisas em Saúde iniciou em fevereiro estudos para avaliar o desempenho da vacina Oxford/AstraZeneca em voluntários de 6 a 17 anos.
Nos Estados Unidos, representantes da Pfizer devem confirmar nos próximos meses a segurança da vacina para adolescentes e, até o fim do ano, terão resultados também sobre o uso da vacina em crianças mais novas. Caso os resultados dos testes clínicos já em curso sejam positivos, crianças e adolescentes do país poderão começar a ser vacinados em setembro, quando começa o ano escolar por lá.