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Maternidade e trabalho: ‘sou melhor profissional por ser mãe’

Mulher está segurando um bebê enquanto olha para um celular

Cerca de quatro em cada dez mulheres chefiam famílias no Brasil. Elas também respondem por mais de 46% da população economicamente ativa no país, segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De fato, as mulheres estão cada vez mais relevantes no mercado de trabalho. Apesar disso, a desigualdade de gênero ainda é uma realidade, há preconceitos e estereótipos a serem combatidos e novas práticas corporativas e olhares acolhedores às mulheres e à maternidade ainda devem ser construídos e multiplicados.

Para saber o que mudou no universo do trabalho em empresas e da maternidade de 20 anos para cá e o que ainda precisa evoluir, conheça Josie Romero, mãe de duas filhas e executiva da Natura, empresa associada ao Movimento Mulher 360. Ela traz um relato pessoal cheio de empoderamento.

Acompanhe a conversa!

Lunetas: Como aconteceu a maternidade na sua vida?
Josie Romero: Toda a minha carreira foi construída em paralelo à maternidade. Nunca foi uma escolha entre uma e outra. Desde o começo, eu sabia que queria uma vida profissional legal, mas não queria abrir mão da maternidade. E consegui. Parei, tive a licença, voltei a trabalhar. Contando agora, parece que foi simples, mas vou usar uma analogia para explicar: eu tive dois partos normais e dizem que, depois de um tempo, você esquece a dor. Eu não lembro mesmo, e toda história que eu conto é muito mais positiva. Mas, nem tudo são flores. Há momentos que serão muito difíceis: você viaja e deixa o filho doente em casa, e depois descobre que você sofre mais que a criança.

“Há um avanço da sociedade, essa complementariedade dos papéis. É uma evolução enorme, mas ainda não é suficiente” – Josie Romero (Arquivo Pessoal)

Como foi a voltar para o trabalho depois da licença?
JR: Eu montei uma rede de apoio com pessoas de confiança. O meu marido conseguia ter uma agenda complementar à minha, e a gente se dividia. Desde os primeiros momentos, ele, como pai, assumiu os cuidados das crianças, e isso foi muito importante.

Há mais de 20 anos, você teve sua primeira filha. Como foi ser uma mãe que trabalha naquela época?
JR:
Eu sinto que há 20 anos eu era a pioneira. Tanto pela profissão (minha área é operações e logística, uma área historicamente ocupada por homens), quanto pelo fato de eu conseguir levar as coisas – trabalho e maternidade – em paralelo.

O que você acha que mudou em relação ao mercado de trabalho e à maternidade?
JR: Hoje, o debate é muito mais aberto, e há uma preocupação em dar para a mulher profissional espaço para que ela não precise fazer uma escolha. Nesses anos, eu vi muitas mulheres desistindo da carreira, falando que não queriam ser promovidas ou mudar de área, porque não conseguiam levar a carreira em paralelo à maternidade.

Hoje eu vejo mulheres e homens ajudando outras mulheres. Eu tenho exemplos de mulheres que trabalham comigo que são mães, e eu dou o maior apoio.

Na minha equipe, eu tenho que entender que os pais precisam ir à reunião da escola, levar os filhos ao médico, têm obrigações de cuidado. Isso era um tabu antigamente.

Como as empresas estão olhando para os pais e a paternidade?
JR: Eu vejo as empresas dando um espaço maior. O que interessa é a entrega, e para os homens também. Na Natura, há licença paternidade de 40 dias, que são bem naqueles em que a mãe sofre mais. Se eu tivesse essa opção, teria sido bem melhor.

“Toda vez que eu vejo uma excelente profissional que é mãe, eu vejo um pai presente ao lado. As empresas precisam dar aos homens espaço para que eles sejam pais e participem”

Há um avanço da sociedade, mas ainda não é suficiente. Existem empresas onde isso está muito longe, mas algumas estão fazendo esse movimento.

O que você aprendeu com a maternidade?
JR: Aprendi a lidar com a frustração, com diferenças. Filho é uma escola. Você educa e imagina que será um caminho, e ele segue outro totalmente diferente. Hoje sou muito mais preparada para a flexibilidade, para discutir com a nova geração. Consigo acolher os novos profissionais que são tão importantes. Eu trago para o ambiente de trabalho a inteligência emocional que minhas filhas me ensinaram.

Leia nosso especial sobre maternidades diversas

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