O Garimpo Miúdo fez uma seleção de livros que podem ajudar naqueles momentos em que a esperança brinca de esconde-esconde, quando o otimismo parece faltar.
“Para nossa sorte, a literatura também infere na realidade, no sentido de que a suspende para depois transformá-la. Voltamos de um livro de ficção mais cientes de que este é só um dos mundos, de que há outros possíveis, de que a possibilidade não acaba enquanto houver um horizonte para mirar”, diz a autora Renata Penzani.
Com uma certeza quase inconveniente nestes tempos incertos, uma singela e incompleta (ainda bem!) lista de livros para falar sobre otimismo e esperança sem nem usar essas palavras.
Como acontece quase sempre nos livros de Shaun Tan, os personagens aqui não têm nome – porque não precisam ter. São tão universais que um nome os limitaria em um tempo-espaço. “A árvore vermelha” conta a história de um dia na vida de todo mundo. Aqueles em que perdemos a capacidade de enxergar além e ficamos esmagados em nosso próprio senso de injustiça. Nada de interessante dá as caras no horizonte, tudo vai mal, ninguém entende, nada tem sentido. Neste momento, o leitor levanta a cabeça – eu levantei! – e interrompe a leitura para pensar “É isso! Exatamente isso”. Este livro é feito desses pequenos e preciosos momentos em que leitor e obra se conectam. “Este livro me entende”. Quase não há narração aqui, mas não falta história. Um personagem perdido, rumando sozinho pela rua em busca ainda não sabe de quê. Até que de repente… Não se pode passar desse ponto sem estragar todo o encanto do livro. “A árvore vermelha” é um livro para conhecer de perto, ler e reler, apreciar as ilustrações, encantar-se com a revelação como se fosse a primeira vez. E quem sabe, com sorte, surpreender-se com uma coisa qualquer fora das páginas do livro, e no fim descobrir que o mundo não é assim nem tão máquina nem tão surda.
Se você é daqueles que de vez em quando vê o mundo de cabeça pra baixo, este é o seu livro no mundo! “Se ele soubesse o que fazer da vida, nada disso teria acontecido”, diz a contracapa. Depois de ler a história, é inevitável pensar “Ufa! Ainda bem que ele não sabia!”. Caso contrário, nada disso teria acontecido. E o “isso”, aqui, é tanta coisa! “Tudo depende de como você as coisas” (“The Phantom Tolbooth”), de Norton Juster, é um clássico universal da literatura infantojuvenil , de 1961. Para alegria dos brasileiros, ele chegou ao Brasil em 1999 pela Companhia das Letras. A história é sobre Milo, um garotinho entediado que nunca ficava satisfeito em lugar nenhum. Se estava na escola, queria ir pra casa, Se estava em casa, a cabeça estava longe. Nada pra ele era verdadeiramente interessante. Até que um dia ele é pego de surpresa por uma imensa caixa de papelão em seu quarto. Um presente misterioso: uma cabine de pedágio. Mas para quê um garotinho entediado precisa de uma cabine de pedágio? Esse é só o começo de uma história que passa pelos lugares e personagens mais disparatados, como uma família em que todos nascem suspensos no ar, “com a cabeça exatamente na altura que terão quando forem adultos”, e vão crescendo de cima para baixo: quanto mais velho se é, mais perto do chão. Parece estranho, mas tudo depende de como você as coisas. Tem a senhora Dúvida Atroz, a Desculpa Esfarrapada, a Doce Rima, a Razão Pura. Todos sempre prontos para mostrar a Milo o outro lado das coisas, o avesso da lógica, o inverso do lugar-comum.
Um livro sobre a importância de estar presente no presente. Que quer saber como você amanheceu hoje, e te lembrar que amanhã pode ser diferente. Afinal, se o problema maior de um dia pode ser uma baita dor de cabeça, amanhã já vai ter virado memória. “Hoje”, da escritora italiana Eva Montanari, conta a história de uma garotinha chamada Niki. Um dia – que pode ser hoje, amanhã ou ontem -, Niki está se sentindo como se sentirão em algum momento todos os outros seres humanos que andam pelo mundo: triste. A manhã vem cheia de desesperança, chateação, barulho. E Niki quer saber: “o que cabe dentro de um dia?”. Publicado em 2014 pela editora Jujuba, “Hoje” vem para dimensionar o leitor sobre o tamanho de um mísero dia em uma vida em que se tem tantos. Ao mesmo tempo, aponta para a importância de reconhecer a potência do aqui e do agora, de antever neles as expectativas que ninguém percebeu ainda. De ter a inconveniência necessária de acreditar no futuro, mesmo que ele seja só o dia de amanhã.
Leia a lista completa no Garimpo Miúdo.