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Projeto ‘Relatos de parto’ reúne histórias de nascimentos

É comum ouvirmos que o momento do parto está ligado a dor e ao sofrimento, mas essa não é a única perspectiva possível. O Lunetas sempre publica relatos de parto que contemplem diferentes experiências, sempre respeitando que cabe a mãe escolher qual será a forma mais confortável para viver esse momento.

Recentemente, a tenista Serena Williams fez um post em suas redes sociais reforçando que “todas as mulheres merecem ter gravidez e parto saudáveis”, independente de cor ou classe social. Em seu caso,  o pós-parto teve algumas complicações e ela relatou não ter recebido o atendimento que precisou no hospital. “Mas essa foi a minha experiência”, reforçou Serena.

E em dezembro de 2017, divulgamos a história de uma mulher que optou por ter seu filho em casa, apenas com a assistência do marido. O banheiro de seu lar foi onde ela se sentiu melhorar para dar á luz. E, após o nascimento, ela compartilhou sua vivência nas redes sociais para incentivar outras mulheres. “Nossos corpos realmente são incríveis! Se você tem medo ou pensa que não pode fazer o mesmo, você pode! Não tenha medo, nossos corpos foram feitos para isso.”

Normalmente, o registro deste momento fico na responsabilidade da pessoa que acompanha o processo completo. Mas pensando em possibilitar que mulheres e famílias tenham registros inesquecíveis e, também, reforçar o quanto este momento pode ser potente, o ‘Coletivo Buriti – Fotografia de parto humanizado‘  deu origem ao projeto ‘Relatos de parto – Histórias e imagens de nascimentos‘.

Leila Beltrão, fotógrafa, cinegrafista e publicitária, é uma das integrantes do grupo. Desde o nascimento de sua filha, em 2013, ela se dedica a fotografia de parto humanizado. Em 2016, Leila expôs seu trabalho no Salão de Arte Contemporânea, no Carrossel Du Louvre, em Paris, onde também lançou o livro “Parto Humanizado: Um olhar artístico sobre o poder do feminino, com fotografias e relatos de parto.”

O site já reúne 14 histórias, que são escritas pelas mães em primeira pessoa. Conheça duas delas.

No hospital e com cuidado

Após ter sofrido violência obstétrica em sua primeira gestação, Luciana Carla Ferreira sofreu uma hemorragia e, por conta disso, não poderia ter seu segundo filho fora de um hospital. Mesmo assim, ela tomou todas as medidas necessárias para que, desta vez, a experiência fosse tranquila, saudável e positiva.

Ela e seu companheiro, André, cuidaram de tudo: a mãe de Luciana ficou tomando conta da filha mais velha, Giulia, e outros familiares estavam a postos para ajudá-la. A equipe que a assistiu era composta por uma médica, Dra. Andrea Campos, uma doula, Janie e uma obstetriz, Priscila. Quando chegou a hora, seu companheiro e o time de profissionais estavam ao lado dela.

“A Janie foi muito importante neste momento. Ao meu lado, sussurrava no meu ouvido que eu iria conseguir, que meu bebê estava chegando. Me deu água, secou meu suor, usou o leque para abanar, segurou minha mão. Colocou uma música suave e um perfume que me lembro, sala toda tinha aquele cheiro”, contou.

Luciana disse que o melhor momento foi quando Andrea disse que o bebê estava coroando. “Mais uma força e Kalel chegou.

“Peguei meu bebê no colo. Um choro de alivio e dever cumprido. Meu filho estava ali, nos meus braços, saudável, bem. Toda a equipe em silêncio contemplando este momento. Eu e o André nos abraçamos com nosso filho. Choramos juntos. André cortou o cordão umbilical quando parou de pulsar totalmente. Nascemos no parto da Giulia e renascemos no parto do Kalel.

Todo o procedimento feito em nosso filho foi enquanto eu amamentava. Ele ficou no meu peito mais de 1h mamando, me olhando. Olhando o pai. Fizemos apenas os procedimentos necessários: pesar, medir.  André acompanhou o bebê o tempo todo, ele ficou com o pai e foram para o quarto. Eu cheguei logo em seguida. Não fui picada, não tive acesso. Nada, absolutamente nada. Era um parto! Apenas um parto”.

Em casa e em família

A história de Mariana Morini tem algumas semelhanças com a experiência da Luciana. Ela também teve seu primeiro filho em um hospital e também se sentiu violentada.

“Meu primeiro filho, Pietro, nasceu de um parto vaginal, em um hospital, com algumas intervenções. Intervenções que suportei, aceitei e calei. Mas a separação entre meu filho e eu, logo depois de ter chegado ao mundo, eu jamais aceitei. Doeu demais não poder ter ficado com ele em meus braços por mais tempo, admirando e conhecendo aquele serzinho tão meu. Calei-me mais uma vez e chorei. Esperei pelo nosso próximo momento. Ferida fechada, cicatriz para sempre aqui”.

Quando ela engravidou pela segunda vez, decidiu que sua casa seria o melhor lugar para que receber o próximo bebê, Giulia. E isso aconteceu não ao lado do pequeno, Pietro.

“Ali morreu uma Mariana e renasceu uma nova mulher. Ali renasceu um pai, renasceu um irmão e nasceu Giulia. Uma família inteira transformada pelo amor. Todo parto deveria ser assim – inundado de respeito e amor e com os desejos da mulher sempre em primeiro plano. Informada e empoderada, fui para a luta e pari lindamente no aconchego do meu lar, ao lado das pessoas que mais amo nessa vida. Matei muitos fantasmas naquele momento. Morri e renasci, Morremos e renascemos”.

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