A busca incessante por padrões de beleza é um tema cada vez mais necessário de ser pautado. Adolescentes e adultos dedicam horas por dia para conseguir um corpo definido e índices de gordura abaixo do normal. Tais padrões, muitas vezes são inalcançáveis e podem aprisionar quem os busca. Entre as mulheres grávidas isso também pode acontecer.
Você já ouviu falar em pregorexia? De acordo com especialistas é um termo usado para definir a gestante com algum tipo de transtorno alimentar, especialmente, a anorexia e bulimia. Novo, o termo é pouco conhecido e ainda não faz parte do vocabulário médico. Ele vem da junção de pregnant (“grávida”, em inglês) com anorexia.
A pregorexia acomete a mulher que não consegue perceber o seu corpo aumentando em razão da gestação. De acordo com a psicóloga perinatal Luciana Rocha, a mulher com anorexia “busca, incansavelmente, a manutenção de um corpo baseado no estereótipo da beleza de um corpo não grávido, usando, como justificativa a busca por saúde e condicionamento físico”.
Esta mulher se entrega à dietas, extremamente, restritivas e hipocalórias – no quadro que se assemelha à anorexia – e hipercalóricas, seguido por comportamentos compulsivos compensativos( vômito ou uso de laxantes) – no quadro que se assemelha à bulimia. Além de se submeter ao excesso de atividade física.
“Se a mulher já teve algum transtorno alimentar durante a vida ou é muito preocupada com o corpo, há um risco aumentado para desenvolver a pregorexia”, completou o ginecologista e obstetra Domingos Mantelli.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, estima-se que os transtornos alimentares atinjam 3% das gestantes. De acordo com psicóloga Irema Barbosa Magalhães “alguns estudos já mostraram que, nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 10% das grávidas sofrem de algum transtorno alimentar não identificado”.
Grávidas saradas e a busca pelo corpo perfeito
No mundo atual, as grávidas e mulheres recém paridas “saradas” têm se tornado cada vez mais populares e estampado as manchetes dos sites de femininos e de maternidade. Para refletir e debater o impacto disso tudo na vida das mulheres mães, conversamos com psicóloga perinatal Luciana Rocha, especialista em conflitos maternos pré, durante e pós gestação. Ela elaborou pensamentos que podem amparar as mulheres mães nessa busca em estar bem consigo mesma.
Confira alguns trechos da entrevista
- Lunetas: No mundo atual, as grávidas “saradas” têm se tornado cada vez mais populares e estampado as manchetes dos sites de maternidade. Por que isso acontece e qual o impacto disso na vida das mulheres mães?
Tanto as grávidas saradas, quanto as mães no pós-parto imediato saradas têm aparecido cada vez mais e se tornado populares. Infelizmente. A maternidade provoca, inevitavelmente, uma desconstrução do eu conhecido até então. A identidade da mulher está em processo de reconstrução com a chegado do filho. Despedir-se do ser conhecido para acolher um novo eu pode ser um processo extremamente doloroso para muitas mulheres. A imagem corporal é um dos aspectos que formam a nossa identidade.
Lutar para manter ou recuperar a forma física pode ser uma tentativa, desesperada, de manter íntegra algum aspecto dessa identidade conhecida.
A maternidade é hoje apenas mais um papel assumido pela mulher. Um papel para o qual ela acaba se preocupando e se preparando apenas quando está prestes a desenvolvê-lo. A sensação de perda da autonomia, da individualidade, do eu conhecido provoca reações que tendem a afastar a mulher da integralidade do desenvolvimento desse papel materno.
Não somos preparados, em nossa sociedade, para lidar com as perdas, em nenhum sentido. E a maternidade é um convite, forçado muitas vezes, para que vivamos perdas constantes em vida! É o tão famoso luto puerperal. Em virtude disso, acredito que todas essas mulheres que mostram como continuam lindas, felizes, plenas e realizadas, apesar da maternidade, provocam os sentimentos das mães. Seja por ódio, por não conseguirem manter-se assim; seja por identificação ou por necessidade, de manter algum resquício da identidade construída antes do advento da maternidade.
- Lunetas: Na sua opinião, como a mídia e publicidade contribuem para o aparecimentos destes transtornos e o que fazer para uma cobertura melhor do tema da maternidade tanto no jornalismo quanto na publicidade?
Quando reforçamos a imagem de um padrão de gestante, puérpera ou mãe, reforçamos a imagem da mulher mãe perfeita. Aquela mulher super disposta, muito bem arrumada, sorridente, animada representa apenas uma parte momentânea da gestante ou da maternidade. O todo é muito mais cansativo do que brilhante. Não precisamos negar os aspectos positivos e gratificantes do ser mãe. Mas também não podemos ignorar o que acontece nos outros momentos. Tudo faz parte do ser mãe, desde a gestação. Não concordo com quem define a maternidade apenas como um conto de fadas, nem com quem quer ressaltar apenas as mazelas do ser mãe, denominando como maternidade real ou o ‘lado b” da maternidade. Em meu ponto de vista, a maternidade acontece entre esses dois extremos. E é isso que precisamos ressaltar. Vivemos uma fantasia de que uma mulher gestante só pode ganhar 8kg durante toda a gestação, enquanto, a saúde é mais importante do que o peso realmente ganho. E é nisso que precisamos focar. Uma mulher que ganhou 16kgs é tão bonita quanto a que ficou no ganho considerado normal. A mulher que sente enjoos ou está indisposta no final da gravidez pode ser tão bonita e tão boa mãe quanto a que vai para a academia todos os dias. Precisamos, urgentemente, rever nossos padrões de beleza, em todos os setores, inclusive, na gestação, pós-parto, maternidade. Isso serve para o jornalismo, a publicidade, as blogueiras. Precisamos aprender que “nenhuma verdade é absoluta”, por isso, precisamos aceitar as variações que corroboram para a saúde mental das mulheres e suas famílias.
- Lunetas: como se blindar dessas mensagens neste momento tão frágil da vida das mulheres?
Conectando com mulheres que estão passando pelo mesmo momento de vida que elas e que tenham uma realidade parecida.
Reconhecendo a necessidade de preparar-se para a maternidade da mesma forma e com a mesma intensidade que se prepara para o enxoval do bebê.
Reconhecendo suas fragilidades e potencialidades. Fortalecendo sua rede de apoio. Buscando ajuda para construir sua nova identidade, agora como mãe. O pré-natal psicológico, os grupos de apoio e as rodas de gestantes são excelentes para toda essa reconstrução.
Existe realmente um peso ideal para ganhar na gravidez?
Mantelli responde: “Não existe um peso ideal para ganhar na gestação, o ganho de peso recomendável é de oito a doze quilos, por isso é muito variável. Tem mulheres muitas vezes, que iniciam a gestação acima do peso, fazem acompanhamento nutricional adequado e terminam a gestação com menos peso do que iniciaram e um bebê com o peso apropriado. Por tanto, tudo isso deve ser acompanhado junto ao seu obstetra e nutricionista”.