Há muito o que esperar quando se está esperando um bebê. Os primeiros toques, a primeira mamada, os primeiros olhares. Até o momento do parto (e mesmo durante e depois dele), sobram dúvidas, receios e inseguranças, e a ansiedade nem sempre possibilita enxergar os tantos ombros amigos que existem para auxiliar nessa jornada entre a gestação e o momento de dar à luz.
A leitura é uma delas, e pode ajudar as mães a encontrarem o seu lugar neste novo mundo que se apresenta, afinal, não existe um jeito só de ser mãe, assim como não existe uma só maneira de nascer. E, claro, não há receitas, e sim possibilidades.
Seria mais simples, se as opções de livros também não fossem muitas. Pensando nisso, convidamos Kalu Gonçalves, doula, jornalista, fotógrafa e criadora do grupo de blogs sobre maternidade Vila Mamífera, para criar uma lista de leituras inspiradoras não só para o período da gestação, mas para o pós-parto também. No fim das contas, são livros que podem ser bons companheiros até quando a mãe sentir necessidade refletir sobre as questões da criação, no sentido mais amplo da palavra.
As descrições que acompanham as obras foram escritas pela Kalu especialmente para o Lunetas, e explicam os porquês de cada livro estar nesta seleção – que, como toda lista, deixa de fora uma porção de outros caminhos também possíveis.
São diferentes visões sobre o nascimento, sobre a essência da maternidade, o parto humanizado, e os tantos mistérios do puerpério, passando pelas técnicas milenares de relaxamento indiano. Leituras para a mulher e a família recém-nascida compartilharem seus medos e anseios diante da nova vida que chega.
1. “Parto Ativo”, de Janet Balaskas
“Há 11 anos, no fim da minha gestação, ganhei esse livro de uma amiga. Foi um dos poucos livros que li, mas aquele que virou a chave e me fez batalhar por meu parto natural. Com dicas das etapas do trabalho de parto, atividades corporais de preparação para o nascimento e relatos de parto emocionantes, pude reunir elementos para perceber que se continuasse com meu “médico do plano” terminaria numa cesárea desnecessária, sendo enganada com qualquer indicação mítica. O curioso é que na mais nova edição contribui com relatos e fotos do meu trabalho como doula.”
2. “Nascer Sorrindo”, de Frederick Leboyer
“Um livro poético que conta o nascimento pelo ponto de vista do bebê. Ele descreve as sensações de um parto respeitoso e outro bastante violento sendo o protagonista o bebê. Imaginar as dores e os desrespeitos sentidos toca a alma. Impossível não sentir as dores desse bebê que eu fui: arrancado em uma cesárea, separado da minha mãe. Impossível não desejar um nascimento ameno, sem esfregar, sem corte prematuro do cordão, com respeito ao tempo do nascer. Com esse bailar poético, pude dar um nascimento para que meu filho pudesse ‘Nascer Sorrindo'”.
3. “Parto Com Amor”, de Luciana Benatti e fotos do Marcelo Min
“Depois do nascimento do meu filho, em 2007, me tornei doula (2010). Como jornalista, criei um blog e, posteriormente, o Portal Vila Mamifera. Depois de acompanhar alguns nascimentos e fazer registros amadores, resolvi investir em fotografia. Comprei um equipamento profissional e coloquei meu olhar a serviço. Por isso, este livro é um clássico para mim. Ele traz relatos de nascimentos com fotos maravilhosas de diversos tipos e locais de partos, além de esclarecer termos e dúvidas fundamentais do universo do parto. Um livro bastante inspirador para quem quer escolher com amor como será seu parto.”
4. “Origens Mágicas , Vidas Encantadas – Um Guia Holístico para a Gravidez e o Nascimento”, de Deepak Chopra
“Sempre gostei deste casamento entre ciência e espiritualidade. Esse livro traz dicas de meditações, alimentação e consciência de cada etapa da gestação. Um livro que inspira a transformar a gravidez em uma jornada de profundo despertar espiritual. Foi o outro livro que li na gestação. Pratiquei as meditações que me ajudaram a fazer de minha gravidez um caminho de autoconhecimento. Com suas dicas, este médico indiano, Deepak Chopra, aponta caminhos para fazer da gestação um tempo rico de amor e de experiências positivas, condição ideal para gerar seres humanos mais fraternos, felizes e saudáveis.”
5. “O Camponês e a Parteira”, de Michel Odent
“Antes de encontrar minha vocação, meu chamado do coração, eu queria deixar um mundo melhor para meus filhos. Depois percebi que poderia trabalhar para deixar filhos melhores para esse mundo: seres mais conscientes que podem mudar o mundo, a começar pela forma de nascer, como diz o autor do livro, Michel Odent. Minha primeira formação é como jornalista ambiental, este livro mostra como os sistemas agrícolas tratam a terra com o mesmo desrespeito e intervencionismo como se vê no parto. O tratamento e a importância que se dá para a mulher e a terra são espelho da evolução ou não de uma sociedade. Aliás, recomendo todos os livros do Michel Odent.”
6. “Lobas e Grávidas” – Livia Penna Firme Rodrigues
“Meu livro de cabeceira desde a adolescência é o ‘Mulheres que correm com os Lobos’, de Clarissa Pinkola Estés. Quem não conhece recomendo que se jogue. O livro é uma pesquisa desta que é uma psicanalista Junguiana, atrás de histórias sobre os arquétipos da Mulher. Ela vai em busca das histórias antes de suas mudanças por questões religiosas ou comerciais e mergulha em conceitos junguianos para o resgate da nossa Mulher Selvagem. Esse livreto em questão traz a visão da mulher selvagem para o parto e a gestação. Uma leitura não muito profunda, mas que aponta os caminhos para fazer da gestação e do parto um resgate da essência.”
7. “O Bebê do Amanhã” de Thomas Verny e Pamela Weintraub
“Sempre fui apaixonada por neurociência. Muitas das escolhas que fiz para gestação, parto e criação com apego foram baseadas em estudos da neurociência. Esse livro é uma reunião de diversos estudos na área que comprovam principalmente o que instintivamente já sabemos: 1) a interação do bebê/criança e a mãe, que representa o ambiente da criança, é o fator mais forte para o desenvolvimento de uma personalidade saudável; 2) toda interação amorosa, positiva, carregada sobretudo de afeto vai permitir um maior desenvolvimento da criança. Desde a gestação, existem dois estados: crescimento ou proteção. Se o ambiente é harmônico e afetivo, a criança vai se desenvolver. Se o ambiente é agressivo, a criança usará a energia para sua proteção e não para desenvolvimento. 3) Essa interação começa bem antes do que podemos imaginar: desde o momento da concepção estamos contribuindo para a formação de um ser mais saudável e harmônico, se tivermos consciência. Verny e Weintraub se fundamentam nas modernas pesquisas da Neurociência. Um livro que comprova que gestar, parir e criar com apego é o fundamental para a construção de seres melhores para esse mundo.”
8. “Shantala”, de Frederick Leboyer
“Vou ter que repetir o autor porque esse é um dos meus preferidos sobre o pós-parto; Sempre gostei de massagem e me apaixonei por Shantala antes mesmo de pensar em ser mãe. Este é um livro histórico e por isso escolho para a lista. Frederick Leboyer, médico Francês de renome internacional, conheceu a Shantala, uma jovem mãe paralítica, em Calcutá, na Índia. Ele se encantou com a paciência e o amor que esta mãe dedicava a seus filhos durante a massagem que era realizada todos os dias. Ele fotografou e filmou a sequência completa desta técnica milenar e levou o conhecimento da arte desta massagem para o Ocidente na década de 70. Shantala, nome da jovem mãe indiana, fundiu-se com o nome da própria massagem. Hoje esta massagem para bebês com base na Ayurveda (ciência indiana que cuida da saúde e do bem estar) é conhecida em todo o Ocidente como Shantala. Esta massagem é mais que uma técnica, é uma arte de se massagear. Aprendemos que podemos transmitir amor e força às crianças por meio da linguagem primal do toque, e que nas primeiras semanas e meses após o nascimento o bebê pode usufruir dos inúmeros benefícios que a Shantala proporciona. Fiz Shantala no Miguel, que é uma criança de puro afeto. Aliás, até hoje ele gosta de uma deliciosa massagem. Quem não gosta?”
9. “Bésame Mucho”, do pediatra espanhol Carlos González
“Recomendo o autor que tem o dom de traduzir o óbvio e instintivo em palavras. Este livro é um deleite de amor, um caminho de amor, um exercício de amor. O conceito é da criação por apego, tão mal entendida por aí. Quem a pratica é considerado permissivo/radical. Gonzalez tem uma resposta ótima para defender a não violência ou os não tapinhas educativos: “Muita gente se sente atraída por essas posições indefinidas, (…) pois está muito difundida em nossa sociedade a ideia de que os extremos são ruins e a virtude está no meio. Mas não é assim, pelo menos não em todos os casos. A virtude está, muitas vezes, em um extremo. Alguns exemplos com os quais quero acreditar que meus leitores estarão de acordo: a polícia jamais deve torturar um preso, o marido jamais deve bater em sua esposa. Você acha que esses “jamais” são extremistas demais? Será que eu deveria adotar uma postura intermediária, mais conciliadora e compreensiva, como torturar um pouquinho ou bater na mulher só quando ela tiver sido infiel? De jeito nenhum. Pois bem, da mesma maneira não estou disposto a aceitar que “um tapinha na hora certa” seja nada menos que maus tratos, nem conheço nenhum motivo pelo qual se deva dar atenção às crianças de dia, mas não de noite“. Ele também desmistifica o conceito de ‘bebê ditador’ e defende que não se estraga uma criança por excesso de amor e carinho. Um livro de cabeceira para lembrar o que é instintivo.”
10. “Os primeiros anos da infância”, de Rudolf Steiner
“Quando conheci os conceitos deste filósofo, me apaixonei. Steiner foi um grande pensador que trouxe conceitos revolucionários para a Medicina (Antroposofia), a Agricultura (biodinâmica) e a Pedagogia (Waldorf). Meu filho estuda, desde os dois anos, em uma escola Waldorf. Steiner mostra como o meio, as brincadeiras e a música são importantes para o desenvolvimento da criança. Mas, sobretudo, ele nos desperta para a beleza da alma humana em formação, convidando para uma autoeducação que permitir que este ser a quem chamamos de filho(a) possa desenvolver a potencialidade máxima de sua alma.”
Kalu Gonçalves, 37 anos, é jornalista de formação. Desde 2007, mãe do Miguel, que despertou sua alma para sua real vocação. Criadora do Olhar Mamífero, é doula, fotógrafa, e já assistiu mais de 380 partos.