A youtuber Helen Ramos, autora do canal Hel Mother, é conhecida na internet e no nicho de discussões sobre o assunto como “a mãe que fala as verdades e que desromantiza a maternidade”. Porém, a quem recai a responsabilidade sobre libertar as mulheres dos estereótipos de uma mãe perfeita e que sempre dá conta de tudo? Sobre as próprias mulheres.
Para problematizar essa questão e trazer uma reflexão sobre a real importância de acabar com os rótulos e com as falsas imagens pretensamente ideais do que é ser mãe, Hel publicou um vídeo em que aborda o tema do ponto de vista de quem problematiza.
“Eu percebi que estavam começando a levar essa discussão para um lado muito leve. Já estão romantizando a resromantização, vejam só”, critica
No vídeo, ela conta sua trajetória como mãe, desde a descoberta da gravidez, e aponta em suas vivências pessoais a relação com o machismo intrínseco ao sistema patriarcal, ressaltando o quanto ainda falta para que a sociedade enxergue a maternidade de uma forma séria, responsável e empática.
“Eu escolhi ser mãe em função de uma imagem propagada pela mídia e pela minha família. Eu escolhi ser uma mãe que não existe”, ela diz, em relação ao seu contexto de mãe solo
“Eu percebi que estava desempenhando um papel que não era pré-determinado. Quando eu virei mãe, eu entendi o que era machismo de verdade, sempre que alguém me perguntava ‘cadê o seu namorado?’, ‘cadê o pai do seu filho?’. Aí sim eu entendi o que era o patriarcado”, relembra.
Para evidenciar o real peso que recai sobre as mulheres que escolhem exercer papéis de mãe que não aparecem na mídia e nem das propagandas de fralda, ela conta sobre os preconceitos de diversas naturezas que viveu, como a exclusão dos círculos sociais, o alerta constante de amigos e familiares de que ela precisava ser mais vaidosa para encontrar alguém, quem sabe um futuro pai para o seu filho? Com isso, Helen traz à tona uma reflexão crucial: quem foi que nos embutiu esse ideal do que é ser mãe? Para além do abandono paterno – que é uma realidade, sim, e precisa ser problematizada sob diversos âmbitos -, é preciso discutir também a capacidade de a mulher de exercer plenamente a função de mãe solo sem precisar ficar presa a um ideal socialmente aceito e historicamente construído de maternidade e família.
“Eu não sabia que as mães se sentiam tão sós. E isso também é culpa do patriarcado. É culpa dessa sociedade que pega uma mãe, que antes era incluída em todos os meios, e a exclui completamente”
“Ninguém quer uma mãe militando por seus direitos, ninguém quer uma mãe que duvida da política ou que ocupa o mercado de trabalho”, problematiza, sobre a dificuldade de continuar vivendo em sociedade da mesma maneira após a maternidade.
Afinal, porque tantas mulheres se sentem limitadas a esses e tantos outros estereótipos impostos? Por que ainda não existe uma consciência compartilhada por homens e mulheres de diferentes gerações de que a responsabilidade por uma criança não é somente da mãe, mas também do pai, da família, da comunidade, o Estado e das políticas públicas de governo? E que esse direito pela escolha de exercer a maternidade da melhor maneira naquele contexto individual de vida pode e deve existir independentemente da escolha de cada mulher?
“Por que tem ser segredo falar sobre as dificuldades de ser mãe? Pra muita gente, falar sobre isso é igual a não amar seu filho. Se não falamos que estamos felizes, que é o maior amor do mundo, é porque somos bruxas e mães ruins”
“Eu amo meu filho mais do que tudo nessa vida, mas odeio ser mãe nessa nossa sociedade, essa mãe que o patriarcado impôs para nós. O machismo faz com que a maternidade seja uma coisa opressora”
Assista ao vídeo na íntegra: