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O que revela o principal índice de qualidade da educação no país?

Imagem de uma menina negra, ela está sentada em sua carteira dentro de uma sala de aula lendo em seu caderno.

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o principal indicador de qualidade da educação brasileira, mostra que o Brasil avançou em todas as etapas de ensino, mas a meta proposta para 2019 foi cumprida apenas pelos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano), indicando que a aprendizagem tende a cair à medida que o aluno avança na escola. 

Além disso, menos municípios alcançaram a meta do ensino fundamental em 2019 em comparação a 2017: de 70% a 62% nos primeiros anos e de 38,5% a 23% nos anos finais. Esses dados não foram disponibilizados para o ensino médio.

O que é o Ideb?
Criado em 2007 e divulgado a cada dois anos, o Ideb avalia o conhecimento e a qualidade do aprendizado dos alunos em português e em matemática, em uma escala de zero a 10, e considera as taxas de reprovação em cada localidade. Para isso, estabelece metas para a melhoria do ensino no Brasil a partir da taxa de rendimento escolar (aprovação) e das médias de desempenho nos exames aplicados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Principais resultados do Ideb 2019

O Ceará se destacou com a maior porcentagem (98,9%) de municípios que alcançaram a meta para as escolas públicas municipais, seguido por Alagoas (92,1%). Espírito Santo, Goiás e Pernambuco também melhoraram o desempenho no Ideb 2019. 

Andressa Pellanda, coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, acredita que mesmo sem receberem mais recursos por aluno em relação a outras redes, “são escolas que tiveram intervenções estatais e também de atores privados na ânsia de torná-las ‘modelos’”.

  • Ensino fundamental (do 1º ao 5º ano): passou de 5,8, em 2017, para 5,9, em 2019. Foi a única etapa de ensino que conseguiu superar, mais uma vez, a meta nacional de 5,7 estipulada pelo Ministério da Educação (MEC).
  • Ensino fundamental (do 6º ao 9º ano): avançou de 4,7 para 4,9, mas ficou abaixo da meta fixada para a etapa, 5,2.
  • Ensino médio: passou de 3,8 para 4,2, ficando também abaixo da meta, que era 5. 

As desigualdades da educação no país

Apesar do crescimento no índice de avaliação, apresentadas pelo Ideb 2019, os números ainda evidenciam que o país tem uma série de diferenças educacionais se analisados os dados regionais, estaduais e municipais. 

Amapá, Amazonas, Maranhão, Pará, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins tiveram menos da metade dos municípios alcançando a meta esperada. Já a região Sudeste ainda concentra a maior parte de Estados e municípios com o índice mais alto. 

Desafios para uma educação de qualidade

Segundo Andressa Pellanda, as redes com melhores financiamentos por aluno são aquelas que têm maiores chances de pontuar no Ideb, pelas condições adequadas de ensino-aprendizagem. Ela acrescenta que o “novo Fundeb deve colaborar para melhorias na qualidade da educação, reduzindo as desigualdades regionais e sociais”.

Isso estaria relacionado ao fato de aumentar o valor por aluno, responsabilizar mais o governo federal no financiamento da educação, melhorar a distribuição do recurso sem desestruturar as redes e, especialmente, incorporar o Custo Aluno-Qualidade (CAQ) como parâmetro que alia financiamento à qualidade.

Conforme proposto pelo Plano Nacional de Educação de 2014, estados, municípios e escolas deverão melhorar seus índices e contribuir para que o Brasil chegue à meta de Ideb 6 em 2022, na primeira fase do ensino fundamental. Isso significaria alcançar o patamar educacional da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). 

O principal desafio evidenciado pelo Ideb 2019, confirmando um dado histórico de que os anos iniciais do fundamental conseguem melhores índices do que o ensino médio, é replicar a melhoria da aprendizagem e da aprovação nos primeiros anos de ensino para as demais etapas, de modo que o aluno possa manter, em todos os estágios, o aprendizado e a aprovação em níveis estáveis e até progredir.

Para Andressa, essa “diferença” de um período para outro, se deve ao fato de o caso do Fundamental I ser “uma progressão contínua e que, em certo ponto, entra no nível de alcance da meta. Isso com certeza é resultado de políticas redistributivas e de financiamento, como o Fundeb.”

Apesar dessa meta, e considerando o contexto atual de pandemia, Andressa comenta que o foco agora não deve ser melhorar os índices da educação, especialmente índices frágeis como o Ideb que não resume, sozinho, a qualidade de ensino”, defende. Ao invés disso, ela sugere atenção aos “direitos humanos, sendo educação um deles, a partir de políticas inclusivas, intersetoriais e interseccionais, que garantam financiamento e combate às discriminações”.

“Só assim teremos impacto em índices a médio ou longo prazos, ao passo que garantiremos resiliência e sustentabilidade”

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