Junto com os avanços tecnológicos e transformações consequentes, o século 21 também abriu as cortinas para novas formações familiares, mais diversas e plurais, assim como papeis e relações sociais. Nesse novo contexto, a paternidade, e o papel dos homens em cuidar dos filhos, algo cada vez mais discutido, apresenta aos homens o desafio de construírem novas masculinidades e desconstruírem o machismo.
Em texto publicado em seu Facebook, o pai, escritor e palestrante Marcos Piangers, pai de Anita e Aurora, e autor do livro “Papai é Pop” fez um comovente relato sobre suas escolhas de vida e o espaço que os filhos ocupam nela. Veja o post na íntegra abaixo.
Os dilemas e apontamentos feitos por Marcos são compartilhados por muitos pais, que assim como ele, desejam cuidar ativamente da criação dos filhos e também encontram desafios e obstáculos para tal.
Confira a entrevista!
Lunetas – Qual foi o maior aprendizado que a paternidade trouxe para sua vida?
Marcos Piangers – São vários. Ficamos mais pacientes. É um aprendizado constante. Aprendo a ser mais paciente, gentil, humano, empático. Eu aprendi muito sobre equidade de gênero com as minhas filhas. Entendi que o futuro do mundo precisa ser mais equilibrado. Refleti sobre questões feministas. Aprendi a valorizar o meu tempo. O tempo é muito importante. O maior desafio é não ser uma geração de pais que só diz sim. Sair de uma geração de pais antiga, que só pagava contas, para ser mais participativo. Temos que construir seres humanos mais gentis e educados. Não adianta ser só amor e nada de limite. Limite também é amor.
Como você aborda e ensina a igualdade de gênero na criação das suas filhas?
MP – Não sou eu que ensino, eu aprendo. Eu sou homem e estou lá para aprender. Quando minha mulher engravidou ela teve muitos impactos na vida profissional e social. A questão é que eu durante muito tempo não vi isso. Então não sou eu que ensino, eu aprendo muito com minhas filhas, minha mulher e minha mãe. Tem vários recadinhos que a sociedade passa que falam que o homem não precisa participar. Elas percebem isso e me falam o tempo todo.
Qual é a importância das redes de apoio para cuidar de uma criança?
MP – Lá em casa a gente não tem vovó por perto e não tem uma rede grande. Eu e a Ana que nos ajudamos nesses cuidados. Meu esforço é para que a gente consiga dividir todas as questões, para que a Ana consiga ser realizada em todas as esferas. Morar perto de sogra é muito bom, quem faz piada com a sogra não sabe o que está falando.
Existe um ditado que diz que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. De que maneiras você diria que as pessoas, governo e famílias, podem participar do cuidado das crianças do país?
MP – Eu acho que o pai presente, a mãe presente ou pessoas presentes na criação dos filhos, é o essencial e o mais importante para formar um cidadão completo. Se a escola contribui, maravilha. Se a comunidade contribui, maravilha. A sensação de aldeia é construída com o esforço do pai e da mãe para formar uma rede que ajude a criança a ser mais empática com o mundo. Vivemos um período que vamos muito mais aprender com nossos filhos do que o contrário.
Você acredita que o machismo afeta a paternidade? Como?
MP – O tempo todo. Eu troco fralda e escuto que sou “mulherzinha”, eu lavo louça e escuto que sou “pau mandado”. São coisas que os homens são treinados para ironizar, diminuir. Eu troco fralda porque é importante, é um ponto de conexão e afetividade com meus filhos. Eu dou banho, janto, coloco pra dormir porque é importante, porque eu gosto. Não porque sou pau mandado e mulherzinha. Desconstruir esses mitos é trabalhoso, mas é importante. O machismo nos afasta dessa atividade mágica que é cuidar dos filhos.
MP – Como pai, que valores/mensagens/ensinamentos você quer deixar para suas filhas?
Só espero de verdade que elas sejam mais respeitosas com as outras pessoas e empáticas. que elas entendam que são muito sortudas por uma série de questões, por terem nascido nessa família. E que elas entendam que tem muita gente que passa muitas dificuldades, e que quanto mais equilibrarmos essas coisas mais maneiro será para todo mundo. Espero que elas cresçam cada vez mais humanas, mais gentis.