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‘No Colo’ convida bebês a viverem experiência artística no museu

Foto de uma mulher em pé no museu segurando um bebê. Ambas estão olhando para um quadro cheio de texturas, formas e cores que está pendurado na parede.

Quem associa passeios culturais com bebês a chororô, distração, fraldas sujas e desconforto está convidado a conhecer o projeto “No Colo”, que tem recebido crianças de até 18 meses e suas famílias em atividades, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. “Por aqui temos visto olhos que brilham, mãos que descobrem, sorrisos, muita concentração, cara de curiosidade, ouvidos atentos e muita, muita harmonia coletiva e sintonia”, descreve a idealizadora do projeto e consultora em arte e educação, Diana Tubenchlak.

Ela explica que um dos pressupostos que orienta as ações do programa é a relação entre crianças, mães, pais e cuidadores, que têm a possibilidade de mediar as produções artísticas expostas e também aquelas que podem ser realizadas pelos próprios bebês. E para que esse diálogo tátil e visual aconteça, objetos como visores, tecidos, tintas, vestuários e outros estímulos são deixados à disposição das famílias, a partir de uma proposta diferente a cada encontro.

“É preciso entender que os bebês se comunicam com o mundo por meio de vários sentidos”, diz.

Istock

Famílias mediando a interação entre bebês e obras de arte

Por isso a multissensorialidade como outro pressuposto que busca expandir as percepções sensoriais dos participantes. Ao final das oficinas, as famílias podem detalhar e compartilhar suas impressões sobre o que foi sentido. “Convidamos bebês e suas famílias a viverem uma experiência artística”, destaca Diana.

Ação criadora

Experimentar a ação e descobrir pela participação: o dinamismo diante das exposições estimulado por Diana Tubenchlak ecoa de certa maneira as vozes do movimento neoconcreto na arte brasileira, uma ruptura que marcou os anos 1950 e buscou interromper a distância entre espectadores e obras de arte.

Mais uma inspiração para os encontros do programa “No Colo”, que incentiva a participação corporal, chamando o público para a ação criadora, assentada na crença de que as instituições culturais são espaços de potência pedagógica, capazes de proporcionar autonomia e descobertas.

Imagine só: refletir sobre os modos de viver e ocupar o litoral brasileiro diante de textos, pinturas, fotografias, móveis e canções. Em “Aprendendo com Dorival Caymmi – civilização praieira”, além dos materiais que compunham a exposição em cartaz, os bebês tiveram a oportunidade de fazer um percurso por elementos vindos da praia – areias, conchas e pedras. Enquanto isso, os adultos foram convidados a produzir “garrafinhas do mar”, que foram entregues às crianças.

Um dos fatores que garante essa movimentação, de acordo com Diana, é a acessibilidade, isto é, a garantia de aparelhos culturais preparados para acolher as famílias, desde a adaptação de espaços para estacionar carrinhos, trocadores, mas também, a formação de uma equipe de profissionais sensibilizados com os desafios da maternidade e da paternidade. “

Quando mulheres se sentem confortáveis para amamentar nesses locais, por exemplo, elas voltam ao instituto e se inscrevem em outras atividades oferecidas”, afirma.

Acessibilidade nos museus

De acordo com dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 2010, 93% da população brasileira nunca viu uma exposição de arte e 70% nunca entrou num museu. “E quem são as pessoas excluídas dos equipamentos culturais?”, indaga Diana. Essa resposta levou o Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Ohtake, a criar, em 2015, um programa de acessibilidade, com o objetivo de promover ações para democratizar o acesso às ofertas culturais.

Um museu para todos, sem exceção. A ideia incentiva, cada vez mais, a inclusão de públicos que não eram frequentadores do instituto: pessoas com diversos tipos de deficiência (auditiva, visual, intelectual, neuromotora e múltiplas), pessoas em situação de vulnerabilidade social, como idosos, jovens em medida socioeducativa, pessoas abrigadas, mulheres vítimas de violência doméstica e também famílias com filhos pequenos. Neste contexto nasceu as ações do programa No Colo, implementadas a partir de 2016.

Diana Tubenchlak conta mais sobre as vivências com as famílias no artigo “Bebês nas exposições de arte: encontros, experiências e compartilhamentos”, parte da publicação Mediações acessíveis: ciclo de encontros sobre acessibilidade em espaços de educação e cultura, produzida pelo Instituto Tomie Ohtake. O material discute, entre outros temas, estratégias de ampliação, diversificação e engajamento de públicos por parte dos museus, que vêm sofrendo transformação em relação ao seu perfil e papel na sociedade.

divulgação Instituto Tomie Ohtake

divulgação Instituto Tomie Ohtake

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divulgação Instituto Tomie Ohtake

Arte para bebês

Mas, o pontapé que inspirou Diana a mergulhar nos diálogos multissensoriais com os pequenos aconteceu anos antes, em 2007, quando a artista dinamarquesa Anna Marie Holm desenvolveu, no Brasil, o trabalho “Baby art: os primeiros passos com a arte”, se tornando um marco para pensar sobre o potencial da arte na primeira infância, com crianças de zero a três anos.

Criadora do conceito “arte para bebês”, ela sugere que bebês sejam artistas e experimentem texturas, formas, cores e sentimentos através da descoberta dos sentidos. Aqui, o importante é tanto a experiência do bebê, quanto o material físico, fruto dessa experiência.

“Os pequenos nos convidam a experimentar.
Eles têm a arte dentro de si.
Eles criam arte.
Eles nos dizem algo.
Algo que perdemos.
Algo atraente e sedutor.
Algo que reconhecemos.
E que não podemos explicar.
Tudo é muito maior.
Para as crianças pequenas existe uma conexão direta entre vida e obra.
Essas são coisas inseparáveis.”

(Trecho do livro “Baby-Art: os primeiros passos com a arte”, de Anna Marie Holm)

“No Colo” e o início da experiência cultural

Para que iniciativas dessa natureza possam reverberar, Diana Tubenchlak acredita que seja essencial a construção de pontes entre escolas e instituições culturais. “Arrisco dizer que a escola pode e deve ser uma promotora da vida cultural dos estudantes, seja por meio de visitas aos museus com as turmas, ações que convidem famílias, estudantes e professores a frequentarem esses locais ou pela formação continuada dos profissionais da Educação Infantil.”

Essa perspectiva é discutida pela educadora em “Um pé em cada canoa: professores de artes entre museus e escolas”, dissertação de mestrado em Artes Visuais, pela Unesp – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

Partindo da premissa de que a Educação Infantil é indissociável da arte, o projeto “No Colo” também desenvolve ações pensando na inserção de bebês até 18 meses em espaços de arte e cultura a partir da formação de professores de creches e escolas, educadores e outras pessoas interessadas pelo tema.  É o caso do curso “Arte para (ou com) crianças pequenas – Compartilhamento de experiências do No Colo”, que pensa como transportar a proposta pedagógica realizada dentro do museu para os ambientes cotidianos destes profissionais.

Diante dos retornos que Diana tem recebido tanto por parte das famílias, que se sentem confortáveis e encorajadas a levar os bebês ao museu, quanto por parte de professores e suas novas ações inspiradas em No Colo, o famoso imperativo “filho, para de fazer arte”, associado aos perigos e traquinagens dos pequenos, vai ganhando novos olhares. Ao contrário, incentivar, experimentar, brincar e produzir são palavras que passam a estimular outro “fazer arte”, fortalecendo essa experiência tão importante para a infância, num diálogo cheio de sensações e surpresas.

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