Ilustrações de Fernando Zenshô

A avó poeta com seu braço mágico conduz os netos em aventuras no mar

Ilustrações de Fernando Zenshô

O braço tem o superpoder de espalhar alegria por onde quer que passe

Ilustrações de Fernando Zenshô

Os profissionais que salvaram a poeta Roseana Murray são também

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Roseana Murray faz adversidade virar poesia em ‘O braço mágico’

Ilustração em aquarela do livro O braço mágico, de Roseana Murray. Fundo azul e pinturas de crianças em roda.

Depois de ser atacada por três cães enquanto caminhava em Saquarema (RJ), em abril deste ano, Roseana Murray recorreu à poesia como forma de cura. Em entrevista ao Lunetas, a autora conta sobre a ideia do livro “O braço mágico” (Estrela Cultural), que surgiu ainda no hospital onde foi socorrida. “Busco beleza em tudo, mas claro que não há nada de belo em perder o braço. Então, para que pudesse suportar essa perda, criei um braço mágico e isso me salvou.”

“Os poetas fazem qualquer coisa virar poesia, mesmo a mais terrível adversidade”

Ao buscar dentro de si poesia para tentar ressignificar o acidente que quase tirou sua vida, Roseana cria então um ambiente onírico por onde transita entre duendes, fadas, piqueniques recheados de gulodices, e passeios de balão e tapete mágico.

Tudo isso na companhia dos netos, que se tornaram personagens nesta aventura com a avó poeta que tem um braço com superpoderes. “Luis, menino músico, tocava guitarra para a avó. Gabi, garota arteira, fazia camisas coloridas para ela. Era a maneira de eles dizerem que a amavam.”

“Quando oferecemos amor do
fundo do coração, ele cresce,
fica imenso, depois explode
para espalhar suas sementes
pelo Universo.”
Trecho do livro “O braço mágico”

“O braço mágico”, Roseana Murray e Fernando Zenshô (Estrela Cultural)

Dedicada a familiares, amigos e aos profissionais do hospital, esta história entre avó e seus netos conta como um braço com superpoderes é capaz de espalhar amor. Além disso, pode alegrar quem está triste e promover aventuras no céu, na terra e no mar. Assim, Roseana Murray transforma o braço que perdeu em ato poético, para seguir se espantando com as belezas da vida. Por fim, espera também que o braço mágico leve os leitores até seus próprios corações.

Já as aquarelas de Fernando Zenshô simulam um sonho e representam o renascimento da avó. Após o acidente, ela passa a ter duas datas de nascimento e, portanto, duas festas de aniversário. Para o ilustrador, a aquarela reflete a nossa falta de controle sobre os acontecimentos. “É da natureza dessa técnica que as formas se misturem e isso traduz a essência da história, envolta em magia. A vida coloca um acidente no caminho e a poeta o ressignifica”, diz.

O peso da chave da poesia

A capacidade de ver poesia em tudo resultou em outro livro pós-acidente. “A morte sobre o corpo”, com ilustrações de Jidduks, foi escrito para o público adulto. Como ela reafirma na abertura da obra, “colocar a minha dor em poesia me fez muito bem”.

Dessa forma, os poemas narram as dores – físicas e emocionais – causadas pela ausência do braço. Mas também contam sobre os aprendizados que estão em curso, como reaprender a escrever, agora com a mão esquerda: “Viro criança outra vez. Rabisco palavras, risco o tempo, a casa da infância existe, equilibrada no balanço da memória.”

“A Morte sobre meu corpo
não conseguiu me levar.
Talvez pesasse muito
a minha chave da poesia,
a que carrego sempre
no pescoço.
Talvez um anjo
tenha soprado na sua cara.
Fiquei ali, na rua, abraçada
com as pedras
até que viessem me buscar.”
Poema de “A morte sobre o corpo”

“A morte sobre o corpo”, Roseana Murray e Jidduks

Após viver uma experiência de quase morte, a poeta compartilha neste livro sua jornada de transformação e cura através da poesia. Assim, a coletânea destinada a adultos reflete sobre o poder do amor e da arte para transcender a dor. Roseana dedica a obra aos profissionais do Hospital Estadual Alberto Torres, onde foi socorrida.

‘A infância é o tempo da poesia’

Com mais de 100 livros publicados, a literatura foi sempre companheira de Roseana Murray desde a infância e também refúgio. “Muito pequena, numa casa triste de imigrantes judeus poloneses que vieram antes da guerra, eu já me escondia dentro dos livros para fugir daquela atmosfera”, conta em seu e-book “Livros e leitores”, com ilustrações de Elvira Vigna. “Assim que aprendi a ler, me mudei para o Sítio do pica-pau amarelo. Fui com as minhas bagagens. Todos os dias caminhava até a casa de uma amiga que tinha a coleção inteira e, sentada numa poltrona, lia sem parar até o fim da tarde.”

“Descobri que já havia uma fortaleza dentro de mim. Uma fortaleza feita de livros.” Roseana Murray, em “Livros e leitores”

Para a avó poeta, os netos “acordam a minha alma de criança”. Essa cumplicidade rende memórias afetivas e, no caso da família Murray, se tornam livros. Em “O braço mágico”, “avós e netos se encontram no país do mais puro amor”, diz a poeta. Mas Luis e Gabi também vivem aventuras em dois e-books independentes, “O galinheiro arco-íris” e “Crianças e bichos”, e no livro ‘Lá vem o Luis’ (Leya).

Portanto, é nessa busca pelo espanto da vida que Roseana se fez poeta das crianças, como disse uma de suas leitoras. Para ela, a infância é o tempo da poesia. “Ao virarmos adultos e perdemos o assombro, a poesia desvira e não entendemos mais nada. Porque a falta de lógica da vida é poesia e, se quisermos controlar tudo, morremos asfixiados.”

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