O trabalho da jornalista, educadora e artista plástica franco-brasileira Marie Ange Bordas é conhecido por sua imersão junto às diversas infâncias – quilombolas, ribeirinhas, indígenas, entre outras. Em 2016, ela lançou o livro infantil “Manual das crianças do Baixo Amazonas”, e é autora do Tecendo Sabres, projeto com três anos de atuação em diversos cantos do país.
Agora, o novo trabalho da autora propõe um retrato da infância em situação de refúgio. O livro infantil “Dois meninos de Kakuma“, recém-publicado pela editora Pulo do Gato, é fruto do trabalho que ela desenvolveu com jovens no campo de refugiados de Kakuma, fundado em 1992, no Quênia, na África Oriental. Atualmente, o local abriga cerca de 200 mil pessoas, e é considerado um dos maiores centros de refúgio do mundo.
Geedi e Deng são amigos inseparáveis. Geedi é somali e Deng é sudanês. Companheiros de vida e sonhos, inquietações e dúvidas sobre o futuro, os dois vivem em Kakuma, um dos maiores campos de refugiados do mundo. Geedi tem 12 anos e não imagina como é a vida fora desse enorme campo em que vive com a mãe e a irmã. Deng chegou sozinho a Kakuma, ainda menino, fugindo da guerra que devastava seu país.Os dois assistem aos adultos de diferentes nacionalidades sobreviverem na esperança de voltarem para a sua pátria ou serem acolhidos por algum país onde possam reconstruir suas vidas. E se perguntam o tempo todo: Por que estamos aqui? Por que estes conflitos nunca acabam? Qual futuro nos aguarda?
Com um trabalho que se estende da escrita para a antropologia, Marie Ange Bordas fez de sua experiência no lugar uma história ficcional que narra para os pequenos leitores como é o dia a dia de milhares de crianças que não têm outra escolha a não ser viver longe de sua terra natal. O livro é composto por diversas fotoilustrações e fotografias da autora.
Textos e imagens levam o leitor a conhecer um tema urgente da atualidade: as gerações de crianças que nascem e se tornam adultas em campos de refugiados.
Segundo o último levantado realizado pelo Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), divulgado em agosto deste ano, há aproximadamente 4 milhões de crianças em situação de refúgio em todo o mundo que não frequentam a escola, dentre os 25,4 milhões de pessoas nesta condição em âmbito global. A ONU aponta que o número de refugiados no mundo atualmente é o maior já registrado na História.
Marie Ange Bordas
As fotoilustrações do livro retratam o dia a dia das crianças que vivem em Kakuma, e sensibiliza o leitor para a condição urgente da infância em refúgio.
Lançamento
O lançamento de “Dois Meninos de Kamuma” será neste domingo, 23 de setembro, das 15h às 18h, na Livraria Martins Pontes da Avenida Paulista. A entrada é gratuita. No evento, Marie vai compartilhar com o público o processo de criação da obra, e apresentar os vídeos que produziu em Kakuma.
“Em tempos de intolerância e superficialidade, depois de muito hesitar, topei este desafio de dar visibilidade (e pensar criticamente sobre) a este assunto tão urgente: a realidade de milhões de pessoas vivendo em situações “permanentemente provisórias” em campos de refugiados”, diz a autora.
“Elas não são ‘vítimas’ de guerras isoladas, mas sim do mesmo sistema de exclusão perverso que massacra o cotidiano da maior parte do planeta”
“Que ele possa chegar a leitores que nunca pensaram na existência de milhares e milhares de crianças que vivem em campos de refúgio prolongados, sem expectativas de mudar suas existências”, defende a editora, em texto de apresentação da obra.