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Lábio leporino e fissuras faciais: famílias trocam apoio online

Fissuras faciais: foto de uma mulher com bebê com lábio leporino abraçado ao ombro.

As redes sociais se tornaram grandes ferramentas para lutar em prol de uma causa ou reunir informações sobre determinado assunto. É assim também com a página no Facebook “As fissuradas”. O canal é uma rede de apoio que une famílias do Brasil e do mundo. Em comum, as fissuras faciais, como a labiopalatina em suas vidas.

Luiza Pannuzio: “Você não vê uma capa de revista com um bebê fissurado, ou na televisão programas que tratem de assuntos variados falando sobre o tema”.

O que são as fissuras faciais?

O lábio fissurado e a fenda palatina são aberturas no lábio e palato (céu da boca). Podem ser causadas por diversos fatores e ocorre por má formação na etapa inicial do desenvolvimento do embrião. Hoje, a Organização Mundial da Saúde aponta cerca de 300 mil casos de brasileiros com fissuras labiopalatinas — uma a cada 650 crianças nascidas no Brasil.

As consequências das fissuras na vida de uma criança vão além da estética; podem causar problemas auditivos, infecções crônicas, má nutrição, má formação da dentição e dificuldades no desenvolvimento da fala. Muitas crianças abandonam a escola e necessitam de acompanhamento psicológico. Na fase adulta, podem haver dificuldades de se relacionar e de conseguir emprego.

O Lunetas conversou com Luiza Pannuzio, fundadora da rede “As fissuradas” e mãe do Bento, que nasceu com fissura.

Entrevista com Luiza Pannuzio

Lunetas – Como foi para você descobrir que teria um bebê com fissura facial, como foi o caminho que percorreu até agora e como ele está hoje?

Luiza Pannuzio – Descobri que Bento nasceria com as fissuras 20 dias antes dele nascer. Fiquei em choque. Lembro que não queria que ele saísse de dentro da minha barriga. O que é normal. Não tenho medo nem vergonha de falar disso. Eu estava com medo. E também um tanto frustrada. Quando grávida, ficamos sempre imaginando nosso bebê lindo e perfeito, ninguém quer passar por isso. Cirurgias de correção. Quantas? Não há médico no mundo que possa te garantir com quantas cirurgias seu filho ficará bom. Duas? Três? E o que é ficar bom? Estamos falando de gente. De uma gente que está dentro da gente. Uma gente nossa. Pronto, é a equação do desespero.

Então, ao saber, entrei no Google e minha aflição triplicou. Bento nasceu faz 2 anos e meio e não havia uma informação sequer na internet que me acalmasse. Fizemos uma primeira cirurgia assim que ele nasceu. O que não foi bom para ele nem para mim. É uma cirurgia nada recomendável, mas não sabíamos. Enfim, superado esta primeira cirurgia, já fizemos outras duas. Todas particulares. Em bons hospitais, tivemos o melhor atendimento. O que é raro não é mesmo? Eu sei que a grande maioria das pessoas não podem pagar e é por isso este meu movimento. Bento me ensinou a respeitar o tempo e ver a vida com bons olhos.

E qual sua avaliação sobre o tratamento que é oferecido no Brasil?

LP – Existe um bom tratamento oferecido no SUS (Sistema Único de Saúde), porém a procura é enorme e mesmo um centro grande não é capaz de suprir toda carência. “As fissuradas” acreditam na capacitação de centros menores para que em suas regiões possam prestar cuidados à população sem que esta tenha que se deslocar para o tratamento para este centro maior, que fica no município de Bauru, em São Paulo e é da USP (Universidade de São Paulo). No Brasil, não falamos abertamente sobre fissuras.

O preconceito começa dentro de casa. É normal que a família, tentando proteger seus filhos os preservem antes de fazerem as primeiras cirurgias reparadoras. Mas eu, como mãe de um fissurado, acho que é mais importante estabelecermos uma troca, um diálogo, fotos e tudo mais que possa interessar para as mães que já tiveram e para as que estão para ter um bebê com fissuras. Esta foi a minha maior angústia, não ter o conhecimento. Também acredito que falando sobre o assunto quebraremos tabus, esclarecemos ao público o que é, como se trata, onde e o que mais quiserem saber.

O que você diria para a família que acabou de ficar sabendo da fissura em seus bebês?

LP – Calma. É um drama e não uma tragédia. Ouvi isso quando estava com Bento ainda na barriga e sempre me lembro desta frase. Enquanto o bebê está na barriga fica a angústia pra saber qual a extensão dessa má formação. Depois que o bebê nasce, aí sim, temos livros, médicos, centros de tratamento, temos ombros pra dar apoio. É importante ter a consciência de que o tratamento é longo e que não se resolve com uma cirurgia. O tratamento de uma criança fissurada segue até pelo menos 16 anos.

Operação Sorriso

A Operação Sorriso é uma organização não governamental dedicada a reunir médicos voluntários para operar gratuitamente crianças nascidas com lábio leporino e fenda palatina. Para isso, cirurgiões plásticos, pediatras e uma série de profissionais trabalham em conjunto com as Secretarias de Saúde e os serviços atuantes nas cidades por onde passa.

Bruno Hoffman, nasceu com lábio leporino e fenda palatina

A cirurgia é relativamente rápida, uma cirurgia no lábio demora em torno de 45 minutos e, na manhã após a cirurgia, o paciente pode retornar para casa. “Como executivo, voluntário, atual presidente da Operação Sorriso e pai de uma criança que nasceu com fissura, sei exatamente o que significa você devolver o sorriso a uma criança. Dar a ela, em apenas 45 minutos, o direito de ter sua autoestima e sonhos renovados. Muda uma vida inteira.”, afirma Túlio Prazin, presidente da ONG.

Acompanhamento multiprofissional

O doutor Diógenes L. Rocha, cirurgião plástico, professor da Universidade de São Paulo e voluntário da Operação Sorriso diz que os centros de tratamento de fissurados existentes no Brasil não são suficientes por causa do número de fissurados, da extensão do país e consequentes dificuldades de locomoção e de acesso aos locais para tratamento e das condições sócio econômicas da maioria população.

Como o tratamento não se restringe ao fechamento cirúrgico da fenda, demandando acompanhamento longo e constante de cirurgião plástico, fonoaudiólogo, ortodontista e demais profissionais o ideal é que o tratamento seja feito na região em que o paciente more.

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