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Conheça 5 iniciativas de crianças e jovens contra a LGBTfobia

Uma menina negra rabisca com giz um arco-íris no chão.

Enquanto pessoas de todas as idades, incluindo jovens e crianças, continuam lutando pelo direito de serem e existirem, discutir orientação sexual e identidade de gênero ainda é tabu para muitas famílias. 

Algumas escolas cumprem com o objetivo central de formar cidadãos mais participativos e presentes dentro das discussões sociais. Essa preocupação impulsiona a juventude a reconhecer-se enquanto protagonista de sua própria história, e a idealizar um mundo de mais respeito e igualdade para todas as pessoas.

No entanto, este mundo possível e colorido continua inserido em um contexto cruel: em 2019, um relatório do Grupo Gay da Bahia mostrou que a cada 26 horas um LGBTQI+ é assassinado ou se suicida vítima da LGBTfobia, o que confirma o Brasil como campeão mundial de crimes contra essa população.

Em resposta às violências, muitos jovens tomam atitudes para que tal estatística não se torne realidade dentro do meio em que vivem, e assim nascem projetos que os colocam à frente da narrativa subvertendo e assumindo o papel de transformadores sociais. 

Iniciativas de alunos que lutam contra a LGBTfobia

O formato podcast continua conquistando muitos admiradores e ganhando espaço como meio de comunicação. Pensando nisso, jovens da Escola Estadual Monteiro Lobato, de Sertanópolis (PR), desenvolveram um podcast para divulgar os avanços e conquistas do movimento LGBTQI+ ao longo da história.

Dividido em 12 capítulos, sendo que oito já estão disponíveis nas plataformas digitais, o projeto “Mar(She)-se” tem como objetivo desmistificar conceitos e promover atividades didáticas no contexto escolar e em outras esferas da sociedade sobre questões de sexualidade e gênero.

O projeto foi um dos premiados pelo Criativos da Escola, programa que estimula e encoraja estudantes a transformarem suas realidades, reconhecendo-os como protagonistas de suas próprias histórias de mudança.

Tomados pelo desejo de informar a comunidade escolar sobre a urgência de combater a LGBTfobia, alunos da Escola Estadual Monsenhor Miguel de Santa Maria Mochón, no Rio de Janeiro, criaram o projeto “Quebrando o Tabu”, com o objetivo de promover mais respeito e acolhimento entre os alunos.

As pautas eram definidas pelos integrantes do projeto, que se reuniam semanalmente. Dessas reuniões nasciam ideias de cenas, debates, estudos, entre outras intervenções capazes de despertar empatia e amor. O projeto fez tanto sucesso que a própria escola o adotou. Josi Rubim, ex-estudante do colégio e uma das criadoras do projeto, conta que o “Quebrando o Tabu” continua sendo trabalhado com muita abrangência, principalmente nas aulas de redação e leitura. 

De tanto sofrer agressões, ameaças e preconceitos contra sua orientação sexual dentro e fora da sala de aula, a estudante Jéssica Monteiro dos Santos, 17, já tinha sido obrigada a mudar de escola, mas os problemas ainda assim persistiram.

Além dos estudos formais, Jéssica também era aluna do Centro Educacional Marista Irmã Eunice Benato, em Curitiba (PR), onde participava de atividades extracurriculares de formação profissional. Ali, a estudante foi amplamente acolhida pelos seus colegas do 1º ano do Ensino Médio que, comovidos com o seu sofrimento, criaram um projeto para acabar com a discriminação.

Assim surgiu o “Sem Vergonha”, outro projeto premiado pelo Criativos da Escola: um grupo responsável por debater, dentro do ambiente escolar, assuntos sobre sexualidade, gênero e respeito às diferenças, de maneira leve, descontraída e necessária. O projeto deu tão certo que sensibilizou até mesmo algumas pessoas que antes oprimiam a estudante.

Quem nunca ouviu de uma pessoa mais velha frases do tipo “você não sabe o que está dizendo pois é só uma criança?”. Um adulto que pensa não ter nada a aprender com as gerações mais jovens corre grande risco de estacionar no tempo e se enganar completamente.

Pensando em conquistar seus próprios lugares de fala, os estudantes dos 7º e 8º anos do Colégio Municipal Professora Didi Andrade, de Itabira (MG),  provaram que suas opiniões importam (e muito!) a partir da criação do projeto Fora da Bolha”, também premiado pelo Criativos da Escola.

Os alunos promoveram rodas de conversa, construindo histórias a partir de depoimentos dados de forma anônima, que eram interpretados em vídeos e compartilhados em um canal de YouTube. Os depoimentos foram uma forma de expressar suas opiniões e denunciar práticas de bullying e preconceitos que sofriam.

Divulgação: Criativos da Escola

A partir dos temas de cada episódio, os professores abordaram reflexões levantadas pelos estudantes em sala de aula

“Cada vídeo é uma mistura de várias histórias, porque não queríamos interpretar o caso de um só aluno para que ele não fosse reconhecido. [Os relatos] mexem muito com o emocional da gente”, explica uma das estudantes, citando os vídeos que abordam racismo, abuso, violência doméstica, machismo e também LGBTfobia.

Conhecido por suas ações voltadas à diversidade, o Colégio Educacional Asa Norte (CEAN), de Brasília (DF), ganhou a fama de ser uma escola “aberta”. O trabalho da escola é tão sério, que até chegou a ser considerado por algumas pessoas como o único lugar seguro para a liberdade de expressão e aceitação da própria sexualidade.

Apesar da fama, a escola nem sempre foi assim. As coisas começaram a se transformar em 2013, com a chegada de Bruno, um aluno do 3º ano que já havia mudado de escola três vezes devido aos ataques que sofria de colegas por sua orientação sexual. O fato voltou a se repetir no Cean, quando o garoto, mais uma vez, ouviu ofensas dentro da escola.

A história chegou até a diretora Graça de Paula Machado, através do relato de alguns integrantes do grêmio estudantil que presenciaram a cena. Na época, ela escolheu mediar a confusão de forma pacífica, mas a ação foi considerada pequena pelos estudantes que estavam inconformados com o acontecimento. Então, organizados em grupos, os jovens exigiram que outras ações fossem tomadas a fim de abordar o tema e evitar que Bruno e outros colegas sofressem mais violências. A partir desse fato, um novo cenário de respeito e liberdade era apresentado ao colégio.

Com o apoio da direção, os alunos realizaram uma pequena mobilização e um debate, que contou com convidados da Universidade de Brasília (UnB). A ação abriu os olhos da equipe gestora e a diretora decidiu abraçar o tema, desenvolvendo o pensamento dos funcionários e professores, e transformando a sala de aula em um espaço de acolhimento. Desde então, o colégio tenta ser referência em como pautar assuntos sobre a diversidade em sala de aula.

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