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‘Alma de Batera’ ensina rock’n’roll para crianças com deficiência

Félix tem sete anos, Uriel tem seis e Gabriela, doze. Além da pouca idade e do sorriso solto, os pequenos têm em comum as necessidades físicas, emocionais e cognitivas com as quais têm que lidar desde que nasceram. Os dois meninos têm Síndrome de Down e a menina foi diagnosticada no espectro autista.

Para a sorte deles, outra particularidade os une: estão cercados de pessoas que cuidam de suas diferenças com afeto e respeito. Eles são alunos do Instituto Alma de Batera, projeto de inclusão social que utiliza a musicalização para potencializar habilidades e multiplicar as oportunidades de convívio.

Idealizado pelo músico e pedagogo Paul Lafontaine, há nove anos o projeto oferece aulas de bateria para pessoas com deficiência com professores voluntários e sensíveis à causa da inclusão. O objetivo? Mais do que promover o protagonismo de indivíduos frequentemente excluídos da sociedade, os exercícios favorecem o desenvolvimento global do aluno, incentivando seus potenciais e habilidades. Por trás de tudo isso, está a motivação principal: acolher aqueles que sonham em estudar música, mas não encontram professores capacitados para lidar com sua deficiência.

A longo prazo, o resultado é uma mudança significativa no modo como as pessoas enxergam a diferença, a partir de uma reflexão diária e gradual sobre o que é considerado imperfeito. No curto prazo, a iniciativa simboliza a importância de perceber pessoas com necessidades específicas em sua individualidade, aspirações e desejos.

“Nossa metodologia é baseada no afeto e no respeito às diferenças. Consideramos que cada um de nós, além de únicos, somos fonte inesgotável de sensibilidade e potencialidade artística. Temos a convicção de que podemos ajudar a construir um mundo onde a deficiência possa ser vista com naturalidade e acima de tudo com poder de realização. Neste ritmo, queremos proporcionar a realização de sonhos, utilizando a música como ferramenta de inclusão.”, explica o site do projeto.

Como funciona e como participar?

Diferentemente de um curso regular de bateria, as oficinas do Alma de Batera são guiadas pela sensibilidade de cada aluno, e os exercícios não seguem técnicas rígidas. Aqui, a prioridade é respeito o ritmo de aprendizado de cada um.

As oficinas englobam até cinco alunos por aula e acontecem uma vez por semana. Uma vez por mês, contam com a participação de um músico convidado. No site, do projeto, é possível acessar os depoimentos de profissionais que já passaram por lá, como João Barone, d’ Os Paralamas do Sucesso. “Não é uma via de mão única, é um aprendizado  onde os dois lados saem ganhando“, diz o rapper Emicida.

Para participar, basta procurar o projeto, que funciona na Rua João Teizen Sobrinho, 162, no Jardim Santa Helena, zona de sul de São Paulo. Para se candidatar como voluntário, não é necessário ser profissional, e amadores – também no sentido de amar – são muito bem-vindos.

Conversamos com o criador da ideia para entender melhor como tudo isso acontece na prática. Confira:

Paul Lafontaine – Não somente para as crianças. As oficinas são direcionadas para todas as idades e para qualquer tipo de deficiência. Acreditamos que a música é importante para qualquer fase da vida e independentemente da idade, ela precisa estar presente. Já tivemos alunos bem novos, com seis, sete anos, e percebemos que a paixão pela música desperta cedo na vida de cada um deles, e já tivemos também alunos com mais idade, acima de 50 anos.

“São várias idades, mas o mais importante é a paixão que cada um tem pela música e pela bateria”

Paul Lafontaine – Temos bastante interesse do público feminino, e essa procura por elas só vem aumentando. Elas são super bem-vindas nas nossas aulas! O que realmente conta na hora de participar das oficinas é a vontade e a paixão pelo instrumento, não é uma questão de gênero ou condição.

O aprendiz de baterista Uriel, 6, com o idealizador do projeto, Paul Lafontaine.

Paul Lafontaine – Acreditamos aqui no Alma de Batera que para ser voluntário basta ter boa vontade e dedicação. Precisamos de voluntários em diversas áreas, não somente para as aulas de bateria ou somente bateristas profissionais. Interessados que querem ajudar de alguma forma, independente de serem músicos ou não, entrem em contato com o nosso Instituto.

Paul Lafontaine – A forma como respeitamos nossos alunos, a abordagem utilizada e a forma como são direcionadas as nossas aulas são percebidos por todos os envolvidos.

“Na prática, os alunos nos demonstram cada vez mais a paixão pela bateria e os pais/responsáveis dizem que a aula de bateria mudou a vida deles”

Temos um aluno, por exemplo, com seis anos, que já tem até bateria em casa e que criou a regularidade de se sentar todos os dias para tocar. As apresentações públicas que fazemos todos os anos, são também na prática, uma forma de realizar os sonhos de cada aluno e com isso, fazer deles, protagonistas de suas histórias.

Paul Lafontaine – É extremamente importante estimular esse contato logo na infância, pois com as aulas de música e com o desenvolvimento do lado artístico do aluno, muitas descobertas acontecem durante o processo de aprendizagem. Além de aprender os exercícios e de superar as dificuldades da prática do instrumento, o aluno irá descobrir que tem uma poderosa ferramenta para se expressar e de interagir com o mundo.

Uriel, 6, e Gabriela, 12, curtindo uma aula.

Paul Lafontaine – A bateria já é considerada um instrumento difícil e a maioria das pessoas não se arrisca a experimentar tocar. A questão do preconceito em relação à condição ou à deficiência de uma pessoa e como são julgados incapazes, infelizmente é uma realidade.

Quando juntamos esses dois lados – a bateria e pessoas com deficiência – parece ser uma ideia inconcebível. Está aí o preconceito! Mas isso se torna algo irrelevante quando vemos nossos alunos tocando o instrumento com o coração e a forma como eles superam qualquer condição com muita paixão e dedicação.

Preconceitos existem para serem quebrados, e isso acontece muito no Alma de Batera. Nas aulas, potencializamos as qualidades e minimizamos qualquer preconceito que a sociedade tem em relação às limitações de cada um deles.

Paul Lafontaine – Toda forma de ajuda financeira é bem-vinda. Atualmente estamos em busca de patrocínio através das leis de incentivo para nos mantermos financeiramente e recebemos também doações. Nos próximos meses, iremos lançar também nossa loja de produtos no e-commerce para reverter dinheiro ao Instituto.

Ficou interessado em contribuir ou participar? Faça uma visita ou escreva para o e-mail contato@almadebatera.org.br. Conheça o site do Alma de Batera.

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