“Gente, tô muito nervoso”, “Ai, desculpa tô muito nervosa” foram algumas das expressões mais ouvidas nesta terça-feira, 4 de dezembro, no teatro Carlos Câmara, em Fortaleza, no Ceará. Eram jovens premiados na edição de 2018 do Criativos da Escola, ação que encoraja crianças e jovens a transformarem suas realidades, reconhecendo-os como protagonistas de suas próprias histórias de mudança.
Na verdade, nem dava para sentir este nervosismo. O que foi possível sentir cada vez que subiam ao palco, foi a força de transformação que os jovens podem ter se amparados por seus educadores e comunidades.
Um dicionário ilustrado criado por um grupo de meninos indígenas, um aplicativo que ajuda mulheres a identificarem violência doméstica, um banco comunitário, jovens privados de liberdade numa produtora de audiovisual. Foram 11 projetos premiados selecionados entre as 1654 ações inscritas na edição deste ano.
Há iniciativas de de diversos sotaques e cantos no Brasil: Campo Bom (RS) a Palmas (TO), de Brasilândia (MS) a Senador Pompeu (CE), de São Paulo (SP) a Canindé de São Francisco (SE), do Rio de Janeiro (RJ) a Vila Rica (MT), de Pindoretama (CE) a Sumaré (SP) passando por São Miguel das Matas (BA).
Depois de escolhidos por uma turma de avaliadores, os projetos vencedores foram anunciados e esta semana foi a vez de se conhecerem. O encontro aconteceu em Fortaleza (CE) e foi cheio de atividades, incluindo, piscina, praia e criação de uma performance facilitada pela Coletiva Ocupação. (Uma curiosidade: o Ceará é o estado que mais premiou projetos no Criativos”). “Foi uma experiência extracorpórea”, definiu uma das estudante
“Teve gente que sentiu o frio de voar de avião pela primeira vez, teve gente que saiu da sua cidade pela primeira vez. Foram muitas coisas feitas pela primeira vez”, lembrou o jornalista André Gravatá, que apresentou a cerimônia.
-No Instagram do Criativos da Escola tem um pouquinho de como foi vivência entre os jovens e os educadores. Clique aqui para ver.
-No Instagram do Lunetas tem a cobertura de toda a cerimônia. Clique aqui para acompanhar.
Histórias que não podem ficar escondidas
No contexto de privação de liberdade, como se constrói a identidade de meninos e meninas? A partir destas inquietações é que dois educadores realizaram uma oficina de fotografia e provocaram os jovens a eles próprios construírem um processo de resgate de sua individualidade.
Alunas que são moradoras de uma comunidade rural agrícola perceberam o problema causado pela falta de água. Ao mesmo tempo, na escola, as estudantes ouviam com frequência reclamações dos colegas tanto sobre a dificuldade de respirar com o tempo seco da região, quanto pela falta de hortaliças frescas para comer na merenda escolar. A água está quase filtrada o suficiente para o consumo!
O município de Pindoretama não tem indústria nem empresa de grande porte. Quando as pessoas precisam tirar dinheiro no banco, precisam ir para a cidade vizinha, pois o único banco de Pindoretama não oferece esse serviço. Foi nesse contexto que os jovens se perguntaram: o que fazer para contribuir com a economia do município?
Um grupo de três alunas não se sentia contemplado com os conteúdos expostos em sala de aula sobre cultura africana e afro-brasileira. Práticas racistas continuavam acontecendo, principalmente a partir de “piadas” sobre seus cabelos. Para resolver o problema, as estudantes se mobilizaram para pesquisar o fenômeno e buscar soluções por meio de estudo e de ações concretas dentro e fora da escola.
Alunas sentiam na pele a naturalização de uma realidade que exclui as mulheres e que torna quase impossível que tenham as mesmas condições de vida que os homens. A vasta quantidade de casos de violência, a hiper sexualização do corpo feminino nos meios de comunicação e o fato desses assuntos não serem trabalhados no ensino médio motivaram as estudantes a criar um projeto que discutisse sobre a igualdade entre homens e mulheres.
A criação de canais de expressão e espaços de protagonismo eram demandas antigas dos alunos. Na mesma proporção eram as barreiras encontradas. Coletivamente, os estudantes decidiram criar uma alternativa para se comunicarem e darem vazão aos problemas vivenciados no contexto da sua comunidade.
Por estar distante cerca de 45 quilômetros do centro urbano, os próprios moradores decidiram se aventurar na construção de uma escola – que é multiseriada – e lutam para a sua manutenção que, ano a ano, sofre ameaças. Dialogando com essa realidade, a coordenadora da escola provocou os estudantes: o que vocês podem fazer para valorizar esta conquista das famílias de vocês?
Depressão, ansiedade, automutilação, solidão e tentativas de suicídio compõe uma triste realidade dos jovens e que sensibilizou um grupo de nove alunas do ensino médio. A partir da campanha de prevenção ao suicídio Setembro Amarelo, surgiu, então, a ideia de realizar ações estruturadas para um melhor atendimento aos seus colegas que precisam de ajuda durante todos os meses do ano.
Apesar de serem a maioria da população, as mulheres estão pouco representadas na ciência. Foi a partir de uma observação da professora sobre a falta de visibilidade do trabalho de mulheres nas ciências que as alunas decidiram mudar este cenário.
No início de 2017, foram noticiadas diversas tentativas de suicídio de crianças e jovens que utilizaram o jogo “Baleia Azul”. O aplicativo de celular, que foi criado na Rússia e se espalhou pelo mundo, propõe 50 desafios aos participantes, relacionados a práticas depressivas e auto-depreciativas. Preocupadas com seus colegas, três alunas decidiram se unir para pensar em alternativas que contribuíssem com a melhoria da autoestima e evitasse o isolamento social dos estudantes.
Alunos do povo indígena Ofaié enfrentam diferentes obstáculos ao estudar na escola. Após uma professora perguntar, em sala, sobre a língua de sua etnia, os estudantes nativos citaram algumas palavras das línguas Ofaié e Guarani – etnia que divide o território com os Ofaié. Foi rompida a invisibilidade até então dominante. Os colegas não indígenas quiseram aprender mais palavras e surgiu uma proposta: os estudantes poderiam contribuir para a sobrevivência da história e da língua de seu povo.
Sentir, Imaginar, Fazer e Compartilhar
Para que tudo isso seja possível é importante que existam educadores que acreditem nos alunos e os verbos sentir, fazer, imaginar e compartilhar podem inspirar estes professores.
Se você quer começar um projeto de transformação na sua escola, o Criativos disponibiliza um material de apoio ao educador. Ele sugere uma abordagem de trabalho baseada em quatro passos diversas atividades que podem ser adaptadas à sua prática.
Baixe aqui.
O Desafio é uma iniciativa do Instituto Alana e faz parte do Movimento Global Design For Change. Este ano, foram inscritos 1654 projetos enviados de todos os estados do Brasil. “É por isso, que o Alana aposta no Criativos. É que acreditamos em uma educação que acontece na diversidade e para a diversidade”, reforçou a diretora executiva do Instituto Alana, Carolina Pasquali.