Neste dia 27 de julho, é comemorado no Brasil o Dia do Pediatra. Para celebrar a data o Lunetas conversou com o pediatra especializado em neonatologia Carlos Eduardo Correa, que todos chamam de Cacá. O profissional que resolveu seguir uma linha diferente de atuação em consultório, voltada para a humanização na pediatria no Espaço Nascente em Perdizes, zona oeste de São Paulo.
Logo na entrada do Espaço vê se que não é lugar comum, é preciso que tire os sapatos, sinal que as crianças são as mais importantes por ali. No dia da entrevista o bebê José circulava livremente pela recepção e ainda podia mamar, enquanto sua mãe, a fonoaudióloga Andrea Santos resolvia algumas coisas no computador.
Depois de namorar com muitas áreas da Medicina, Cacá se apaixonou por pediatria neonatal. “Eu comecei a trabalhar na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de um hospital público em 1990, num momento da história em que a família era muito excluída dos cuidados do recém-nascido e só podia vê-lo nos horários de visita.”
As experiências no atendimento
Aos poucos, Cacá foi ajudando a mudar essa cultura no hospital com informações de outras experiências que valorizavam o contato da mãe com o bebê. A virada na sua carreira foi quando ele teve contato com a técnica de aconselhamento em aleitamento materno, que implica no profissional escutar, compreender e oferecer ajuda às mães que estão amamentando, fortalecendo-as para lidar com pressões, promovendo sua autoconfiança e autoestima e preparando- as para a tomada de decisões.
“O choro do bebê também é uma grande questão. Muitas vezes, é por não saber lidar com o choro que a família é levada a oferecer chupeta, a mamadeira”
Por causa do tempo curto para orientar as mulheres a lidar com o choro do bebê (em média 48 horas pós-parto), Cacá implantou o formato de consultas em grupo no hospital.
Novos rumos na carreira
A segunda virada na vida do médico foi quando, depois de mais de 10 anos trabalhando em um hospital público em na cidade de Cotia, em São Paulo, Carlos não teve seu contrato renovado. “Não sabia o que fazer, fiquei desempregado da noite para o dia”. Para ajudar o amigo, o obstetra Jorge Kuhn o convidou para atender os bebês dos partos que acompanhava. As consultas pós-parto aconteciam na própria casa do Cacá, que hoje se tornou o Espaço Nascente.
Cacá relembra que migrar do serviço público para o privado de maneira repentina não foi fácil. “Foi uma época de transformação pessoal muito grande, tive muitas dificuldades, fiquei muito deprimido. Mas foi o acaso que me pôs nessa posição em que eu pude explorar muito mais a individualidade das famílias e aprimorar muito minha maneira de pensar e de trabalhar. Para a minha surpresa, eu aprendi mais do que ensinei. Vinham mães que estudavam e traziam muitas informações para as consultas. Muitas coisas que eu sei hoje eu ouvi pela primeira vez com elas.”
Então a humanização na pediatria é isso?
“Hoje em dia, eu sou muito famoso por não responder perguntas, eu não faço uma consulta diretiva. O movimento de humanização em pediatria é isso, é procura dialogar, e eu me permito ouvir”.
Há de se concordar que todas as famílias recém formadas são bombardeadas com informações como a hora certa de dormir e comer, do peso certo para a idade.
“O que eu defendo é que tudo pode. Pode pôr no berço, pode pôr no moisés, pode mamar em qualquer posição. Se você tem um bebê que chora muito e pede colo de madrugada, não é mais fácil se ele estiver perto de você? Cada família vai entendendo o que é melhor para ela, não existe modelo”, defende.
Por isso, o que o pediatra tenta em seu consultório é sugerir recursos para o conforto da família e do recém-nascidos. “O pai colocar criança no colo ou tomar banho de chuveiro pode ser muito gostoso.”
Tudo isso demora porque é necessário desconstruir muitas coisas. Outro mito difícil de desconstruir é de que bebê no colo fica manhoso e mal acostumado.
“Você não está fazendo mal para seu filho se entende que funciona bem para sua família. E pode ser que seja diferente para outras famílias”, argumenta.
“É fundamental auxiliar os pais nas escolhas que farão da forma como querem construir sua família. Cada um terá que abrir mão do modelo que conhece, para juntos construírem sua própria família. Sem imposições e sim sugestões de modelos adequados ao que acreditem ser o correto. E o fortalecimento dos pais para enfrentar toda a cobrança social que é feita”, finaliza.
Leia mais