Praticar a comunicação não violenta com as crianças, ou seja, aquela que investe no diálogo, nas conexões e nos vínculos emocionais recíprocos, nem sempre é uma tarefa fácil.
Cada vez mais, é comum que pais e mães não encontrem o tempo desejado para ser tudo aquilo que os filhos precisam que eles sejam. Por isso, muitas vezes o momento da “birra” infantil acaba se tornando um verdadeiro palco de guerra.
É neste contexto que tem despontado, nos encontros entre pais e mães, e mesmo nas discussões sobre desenvolvimento infantil, um termo que muitas famílias ainda desconhecem, mas que pode auxiliar na tarefa de utilizar as emoções – tanto da criança quanto de quem cuida delas – a favor de uma educação fluida: a disciplina positiva.
Entender o que ele significa passa pela compreensão de que crianças são seres plenos – de desejos, de medos e inseguranças – como qualquer indivíduo adulto. E, também, pelo entendimento de que, para alcançar um relacionamento fluido e pacífico, precisamos levar em consideração três palavras essenciais: empatia, respeito e afeto.
Disciplina positiva: afinal, o que é isso?
Thiago Queiroz, idealizador do blog Paizinho, vírgula, utiliza o conceito nas palestras que ministra, com o intuito de ajudar os pais a colocarem a ideia em prática e compartilhar aprendizados. No dia 8 de abril (sábado), ele fará um encontro sobre o tema, em Campinas – clique aqui para saber mais.
O Lunetas aproveita o ensejo para conversar com ele sobre os desdobramentos práticos da disciplina positiva. Abaixo, ele explica, em 5 passos, como aplicar o conceito no dia a dia com as crianças:
- 1. Deixe as punições de lado
Lunetas – ‘Disciplina positiva’ é um conceito que você defende em suas palestras. Pode explicar o que é? Como ele se aplica no dia a dia?
Thiago Queiroz – Disciplina positiva é uma maneira de pensar a educação dos nossos filhos, tendo em mente que a empatia e o respeito são as maneiras mais eficazes a longo prazo para educá-los.
Na prática, abandonamos todas as ferramentas que convidam os nossos filhos a resistir, e utilizamos ferramentas que nos conectam e que convidam os nossos filhos à cooperação. Em outras palavras, deixamos castigos, punições e chantagens para trás e começamos a usar o diálogo, os acordos e a rotina a nosso favor.
- 2. Construa vínculos
Lunetas – Como conciliar o desejo de presença com a correria da rotina com os filhos?
Thiago Queiroz – Tudo se resume ao vínculo. Claro, para criarmos vínculo, precisamos estar presentes, e o tempo para isso é cada vez mais escasso. Mas precisamos usar esse tempo a nosso favor, e reduzir nossas distrações, como redes sociais e celulares, para estarmos realmente presente com os nossos filhos.
- 3. Desconstrua o modelo de autoridade
No desafio de educar os filhos, o que os pais podem fazer para evitar posturas imperativas e autoritárias?
Thiago Queiroz – A resposta a essa pergunta está dentro de nós, e não em nossos filhos. Muitas pessoas pensam que a disciplina positiva é um meio de tornar os nossos filhos obedientes, mas passa longe disso.
“Eu costumo dizer que a disciplina positiva é mais sobre nós do que sobre os nossos filhos, justamente porque nós precisamos, primeiro, desconstruir em nós esse modelo de autoridade”
Precisamos entender que uma relação de parceria é que vai trazer uma conexão mais profunda com os nossos filhos, e através dessa conexão, teremos mais cooperação deles no dia a dia.
- 4. Ofereça alternativas
Lunetas – Ao seu ver, que ordens e regras do dia a dia com as crianças podem ser recebidas pelos pequenos como violentas, mesmo que os pais não percebam?
Thiago Queiroz – Uma das coisas mais importantes dentro da disciplina positiva é a preocupação em saber como uma mensagem chegou aos nossos filhos. Por exemplo, se o seu filho está brincando na janela, e isso é algo muito perigoso, quando você grita com ele e o puxa pelo braço, por mais que você esteja fazendo isso porque o ama e não quer que ele se machuque, provavelmente não é essa a percepção que o seu filho tem da mesma ação.
Pequenas mudanças na maneira com que falamos com os nossos filhos podem fazer muita diferença: ao invés de gritarmos um “sai da janela agora”, podemos falar firmemente “a janela é perigosa, mas você pode brincar de pular no sofá, se quiser”. Nesse exemplo, estabelecemos limites firmes, mas damos alternativas aos nossos filhos.
- 5. Acolha o sentimento da criança
Lunetas – Em seu último vídeo sobre o tema, você cita a frase: “Disciplina é ajudar a criança a resolver um problema. Punição é fazer a criança sofrer por ter um problema”. Pode comentar sobre?
Thiago Queiroz – Sempre que os nossos filhos passam por algum problema, como por exemplo a famosa “birra” (que eu prefiro chamar de “crise emocional”), nós temos algumas opções: podemos gritar com eles, e ameaçar castigá-los caso não se calem imediatamente. Ou podemos empatizar e acolher aquele sentimento.
Tudo isso depende de como enxergamos a situação. Na primeira opção, não enxergamos que os nossos filhos estão, de fato, sofrendo com alguma coisa, e fazemos com que eles sofram por estarem sofrendo. Na segunda opção, entendemos que eles estão sofrendo, dizemos a eles que vemos e acolhemos esse sentimento, e isso não significa necessariamente “ceder” ao que eles estão pedindo.
“Na maioria das vezes, nossos filhos (e nós mesmos) só precisamos de uma palavra de empatia mesmo”
O fato de você dizer genuinamente “eu entendo, filho, você está muito triste porque você queria aquele brinquedo” não significa que você comprará aquele brinquedo só para calar a criança.