Criar e educar filhos é um desafio diário para os pais e cuidadores. É (também) sobre isso que falamos no Lunetas. Na busca pela perfeição, apesar de já saberem que ela não existe, os pais desejam que seus filhos sejam crianças – e posteriormente adultos – responsáveis, educados, de bom caráter, amorosos e, principalmente, felizes. Entretanto, não há regras para que isso aconteça, mas sim exemplos e estudos que comprovam que estabelecer um vínculo afetivo seguro entre as crianças e seus cuidadores é essencial, ou seja, o apego.
O estudo da criação com apego existe há mais de 60 anos e é desenvolvido por pesquisadores de psicologia e desenvolvimento infantil. Estas pesquisas revelam que o bebê nasce com necessidades básicas a serem atendidas – como a proteção e a proximidade – para que ele tenha um bom desenvolvimento e crescimento. Ou seja, o apego é uma questão de sobrevivência para os bebês.
A criação com apego não impõe regras, mas, sim, transmite orientações fundadas em investigações sérias e conhecidas por serem eficazes em auxiliar crianças a desenvolverem ligações seguras. Ela parte do princípio de que o vínculo criado com a criança através do carinho, cuidado e atenção influencia no desenvolvimento psicológico infantil.
Segundo o Attachment Parenting International (API), “o desenvolvimento emocional, físico e neurológico da criança é amplificado quando as necessidades básicas são atendidas consistentemente e apropriadamente.
Essas necessidades básicas da criança podem ser resumidas a proximidade, proteção e previsibilidade
A criação de vínculos emocionais fortes e saudáveis entre pais e filhos é de extrema importância. Para Branca Lapolla Mendonça, psicóloga infantil da Casa Curumim, conforme o bebê se sente seguro, ele também se prepara para se separar de seu cuidador, geralmente a mãe, nos primeiros anos de vida. “Primeiro se dá a segurança e depois acontece a separação. A criança que tem um bom apego é capaz de se separar dos pais futuramente”, diz.
A segurança emocional inicial acarreta na formação de indivíduos autoconfiantes e empáticos, ou seja, com bom amadurecimento de suas emoções. A psicóloga infantil diz que a criação com apego ajuda as crianças a se desenvolverem de maneira mais otimista e a se adaptarem mais facilmente ao mundo.
“O bom vínculo faz com que a criança se sinta mais segura e tenha boas relações sociais”
Porém, segundo a psicóloga, além do vínculo, os pais também não devem deixar de dar limites aos filhos. “A criança tem pensamento mágico, vive no mundo da fantasia, e esses limites dão à ela o contato com a realidade, fazem com que ela possa aprender e se desenvolver. Além do colo, carinho e cuidado, os limites e a rotina fazem com que a criança se sinta segura no mundo”, explica.
Quando se fala em criação com apego, oito princípios básicos são citados. Entretanto, eles não devem ser encarados como um conjunto de imposições a serem cumpridas, mas sim como ferramentas de auxílio. Não há fórmulas de criação perfeita, mesmo porque cada família tem suas particularidades.
Os oito princípios da criação com apego foram criados pela Attachment Parenting International, com o intuito de transmitir aos pais orientações baseadas em investigações sérias e conhecidas por serem eficazes em ajudar os pequenos a se desenvolverem com segurança. Estas ferramentas devem ser avaliadas pelos pais e escolhidas de acordo com a necessidade e a realidade de cada família.
Estes princípios vão além dos famosos “não deixar o bebê chorar por muito tempo”, “atender com atenção as necessidades da criança”, e “deixar que o bebê durma com os pais na cama”. Confira abaixo uma breve explicação dos oito princípios básicos da criação com apego e entenda onde é possível adaptá-las à rotina familiar.
Os 8 princípios da criação com apego
1 – Se preparar para a gestação, nascimento e criação
É o começo de tudo. Este princípio não trata apenas de buscar um parto natural, mas de estudar filosofias de criação, se preparar física e emocionalmente para a gestação, nascimento e criação da criança. Ele é o primeiro passo na criação de um vínculo forte com os filhos.
2 – Alimentar com amor e respeito
A amamentação satisfaz as necessidades nutricionais e emocionais da criança. Porém, este principio não se trata apenas de amamentar os filhos, mas também de oferecer alimentação consciente às crianças.
3 – Responder com sensibilidade
Este princípio é a alma da criação com apego, pois saber atender prontamente as necessidades do bebê é base de um vínculo seguro. É aqui que entram as dicas de não deixar o bebê chorar por muito tempo; compreender que bebê precisa de colo e contato físico para se sentirem seguros; entender que o choro do bebê não é birra, é a forma dele se comunicar e não deve ser ignorado; saber agir com conforto durante explosões de raiva da criança, e não com punição; entre outros.
4 – Usar contato afetivo
O contato afetivo estimula os hormônios de crescimento do bebê, melhora o desenvolvimento intelectual e motor, e ainda ajuda a regular a temperatura do corpo, batimentos cardíacos e padrões de sono. Amamentação, banho com carinho, massagens, abraços e aconchegos garantem no estreitamento do vínculo com a criança.
5 – Garantir sono seguro, física e emocionalmente
Apesar de algumas pressões para que o bebê durma a noite inteira, este princípio explica aos pais que isso não é uma regra e que não acontece por questão de sobrevivência. É aqui também que se fala que deixar o bebê chorar indeterminadamente consiste em negligenciar suas necessidades e prejudicar seu desenvolvimento e um apego seguro, já que toda criança tem que perceber que pode contar com os cuidados dos pais. Neste princípio também entra o conceito da cama compartilhada, que quando praticada por pais informados, pode ser segura e benéfica.
6 – Dar cuidado consistente e amoroso
Bebês têm necessidade da presença física de um cuidador amável, consistente e receptivo. Se o bebê recebe cuidado com amor desde o início da vida, ele constrói um vínculo de apego saudável com seus cuidadores, geralmente os pais.
7 – Praticar a disciplina positiva
A disciplina positiva envolve o uso de técnicas como prevenção, distração, e substituição para guiar gentilmente os filhos para longe do perigo. Este princípio mostra que se deve tratar os filhos como se gostaria de ser tratado. Segundo essa abordagem, disciplinas controladoras ou manipuladoras comprometem a confiança entre pais e filhos e prejudicam os vínculos.
8 – Manter equilíbrio entre vida pessoal e familiar
As necessidades de toda a família são importantes e devem ser atendidas sempre que possível, pois, quando em equilíbrio, os membros da família são mais capazes de ser emocionalmente compreensíveis.
Por Larissa Domingos