É comum pensar que, quando um adulto brinca com as crianças, a ação se resume a arrancar risadas, sentar com um joguinho ou interagir para distraí-la por alguns instantes. Mas será que é só isso mesmo? Segundo a psicóloga Fernanda Fúria, fundadora do Playground da Inovação – consultoria de Inovação em Psicologia e Educação -, essa é apenas uma das facetas do brincar na vida adulta, uma noção que vai muito além do que o senso comum acredita.
Fernanda Fúria atua há 25 anos como psicóloga, estudando a ciência do brincar e seus desdobramentos na fase adulta. Entre as descobertas dessa imersão, está a promoção de sensações que iluminam o cérebro, minimizam o stress e criam conexões emocionais entre as pessoas. Ela explora melhor o tema no vídeo “brincar na fase adulta”, publicado no dia 10 de fevereiro pelo nosso parceiro Criar e Crescer.
A experiência do brincar na vida adulta
Enquanto para o bebê o brincar pode se traduzir em uma experiência genuína de liberdade, como expressão daquilo que se deseja realizar, sem restrições, para os adultos, o olhar sobre a brincadeira se transforma sem perder a essência. “Existe uma linha de desenvolvimento entre o brincar no bebê e na fase adulta: o que se vive na infância vai sendo levado para a vida adulta, transformado, em forma de criatividade, de propósito de vida”, afirma Fernanda.
A psicóloga explica que o brincar adulto não está relacionado, necessariamente, a uma atividade específica, como pular corda ou jogar videogame com os filhos, mas a uma mentalidade e postura interna. Também tem a ver, segundo ela, com o lúdico, com a diversão e o engraçado, mas pode estar simplesmente ligado a uma atividade esportiva, um trabalho manual, viagens ou a uma coleção.
“É um exercício de maneiras de ser viver, que tem a ver com seus talentos (…) que te dá prazer”, diz.
Então, podemos abandonar a ideia de que adulto não saber brincar. “Brincar na fase adulta tem a ver com crianças, mas também com o que ele viveu na infância, o que a família entende por brincar e por questões geracionais”, afirma.
De acordo com a psicóloga, aspectos da sociedade e da família podem impedir o adulto de entrar em contato com aquilo que lhe dá prazer. Um exemplo: tem gente que não gosta das férias e quanto retoma a infância, percebe que era um período que os pais exigiam acordar cedo de qualquer maneira.
A importância de revisitar a infância
É por isso que, para Fernanda Fúria, pode até ser interessante a pesquisa dos adultos por roteiros prontos de brincadeiras e agendas com programações, mas, no fundo, a criança precisa de liberdade para decidir e busca interesse por parte do adulto. Com o cansaço e o acúmulo de tarefas do dia a dia, pode ficar ainda mais difícil proporcionar essa atenção desejada, mas o ideal, segundo ela, é que o brincar seja tratado cada vez com mais consciência e naturalidade. Então, por que não revisitar a infância e descobrir aquilo que te faz perder a noção das horas?
“O adulto mais sintonizado com isso, que vê ligação entre aquilo que fazia e brincava na infância e o que faz hoje, vai ser mais capaz de brincar com as crianças, porque somos preparados para isso, temos registros dentro da gente que são ativados pelas crianças”, defende. Essa consciência de si pode ajudar a ressignificar o papel dos adultos diante das brincadeiras dos pequenos, mas também favorecer a saúde mental dos membros da família.
*Fernanda Fúria é fundadora do Playground da Inovação- consultoria de Inovação em Psicologia e Educação. Psicóloga, mestre em Psicologia de Crianças e Adolescentes pela University College London (UCL) na Inglaterra. Professora de Pós-Graduação do Instituto Singularidades em São Paulo.
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