Associar a criança pequena com fragilidade, passividade ou dependência parece ser algo já bastante arraigado na nossa sociedade.
Faz parte de uma grande parte de adultos acreditar que temos que ensinar absolutamente tudo para os bebês. Não só ensinar, mas também prever, determinar e proteger aquele ser humano aparentemente tão dependente. Sim! Eles dependem dos adultos para muitas coisas.
Mas, será que eles são tão passivos assim? Será que precisamos ensinar como se sentar, comer, dormir, andar, falar, etc.? Será que faz sentido pensarmos o tempo todo em oferecer algo aos bebês a partir do nosso ponto de vista? Será que sabemos mesmo o que eles querem e precisam?
O conceito de criança ativa, competente, cheia de iniciativas, com desejos e interesses próprios desde seu nascimento, ainda parece distante de grande parte das práticas que temos observado no cuidado e na educação dos bebês e crianças pequenas.
Defendemos que não há necessidade de intervir ou controlar o ambiente o tempo todo, pegando objetos e oferecendo ao bebê algo para ele se distrair, com o que para nós, adultos, parece superinteressante.
A observação de seus movimentos pode ser algo encantador e fascinante e, certamente, nos mostrará os caminhos e as possíveis intervenções. Mas, tantas vezes, em meio a tantos outros afazeres, não damos tempo suficiente para essas observações.
Interrompemos seu brincar, seu movimento, fazendo em nome deles, por eles. Atitudes que acabam impedindo que o bebê construa sua autonomia e que consiga exercitar suas escolhas, começando, gradativamente, a reconhecer suas necessidades emocionais.
Respeitar o bebê em suas singularidades, vontades e desejos significa também e, especialmente, um olhar cuidadoso nos momentos dos cuidados corporais, como as trocas de fraldas, sono, alimentação, banho, etc. São exatamente nestes momentos que conseguimos nos conectar com os bebês e crianças pequenas de modo privilegiado.
Partimos do princípio que os bebês e crianças pequenas são pessoas que tem uma clara influência sobre os acontecimentos de sua vida.
Os bebês estabelecem relações entre as coisas e têm, sim, seus interesses próprios. Nosso papel como adultos, então, é garantir, além de atividades diversificadas, interessantes e motivadoras, respeito pela construção da autonomia do bebê, estabelecendo uma relação de segurança afetiva.
Sendo assim, enquanto os bebês e as crianças exploram os objetos e brincam, podemos nos exercitar para:
- Manter uma observação atenta, com certo distanciamento, para deixar com que os bebês e crianças pequenas explorem por eles mesmos o que mais lhes chamarem atenção;
- Permanecer no campo de visão deles, olhando com encorajamento, quando eles buscarem o contato visual;
- Tentar se manter em silêncio na maior parte do tempo, para não interromper ou atrapalhar seu fluxo de brincadeira;
- Permanecer conectado e disponível emocionalmente.
Só assim, quando a relação adulto-criança for de confiança mútua e não de dependência exagerada é que conseguiremos ouvi-los, entender sua demanda e reconhecer suas reais necessidades.
Em poucas palavras: a troca de olhares, os gestos do adulto com a criança, deve ser realizado de maneira respeitosa àquele ser que, ainda não conseguindo se expressar com palavras, diz muitas coisas a alguém realmente interessado em escutá-lo.