Livro de Ana Maria Machado é acusado de incitar o suicídio

Convidamos duas especialistas para refletir sobre a polêmica em torno do livro "O menino que espiava pra dentro"

Renata Penzani Publicado em 10.09.2018
A escritora Ana Maria Machado em fundo branco com grafismos coloridos

Resumo

De autoria de Ana Maria Machado, o livro infantil, de 1983, "O menino que espiava pra dentro", foi acusado por mães e pais de fazer apologia ao suicídio entre as crianças.

Um livro de literatura infantil publicado em 1983 se tornou assunto central de uma série de postagens nas redes sociais nos últimos dias, repercutindo até esta segunda-feira, 10. De autoria da escritora Ana Maria Machado – imortal da Academia Brasileira de Letras – o livro em questão se chama “O menino que espiava pra dentro”, e foi editado pela editora Global.

A motivação inicial da polêmica foi um texto cuja autoria especula-se que seja de uma mãe de Recife. O post original não foi divulgado, tampouco o nome da pessoa que supostamente teria iniciado a crítica. Seja como for, o fato é que, nos últimos dias, a internet foi tomada de manifestações contrárias ao livro e de represálias violentas à autora, suscitando uma reflexão fundamental que ultrapassa o âmbito da literatura: por que as pessoas estão com tanto medo? E do que afinal seria esse medo?

Antes de mais nada, leia a mensagem da forma como foi compartilhada:

“Meu filho acabou de me perguntar se era verdade que se ele engasgasse com uma maçã e ficasse sem respirar, ele conseguiria ir até o encontro do seu mundo da imaginação… Eu de imediato falei que não e expliquei que ele correria grande perigo e provavelmente morreria sem ar, deixando todos que o amam muito tristes.
E perguntei: Mas porque você está me perguntando isso, filho? Ele me disse que o menino do livro que estava lendo tem um amiguinho imaginário que mandou ele fazer isso, ou seja, que se que ele engasgasse com uma maçã, ele acabaria com todos os seus problemas! Faço um apelo aos pais, que conversem, monitorem e protejam seus filhos dessas estimulações perigosas que estão por toda parte…”

Tanto nos comentários de cada postagem quanto no site da autora e na página da própria editora, crescem a cada dia as manifestações de repúdio ao livro, mesmo por parte daqueles que declaradamente não o leram.

No Facebook, pessoas passaram a compartilhar o post como se fossem de sua própria autoria – o texto foi escrito em primeira pessoa, daí a confusão -, gerando um investida coletiva à obra. A acusação dos que replicaram a mensagem é que o livro de Ana Maria faz apologia ao suicídio.

Breve panorama do suicídio no mundo

Esta segunda-feira, 10 de setembro, é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, uma data de conscientização criada em 2003 pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o suicídio é um grave problema de saúde pública, responsável por uma morte a cada 40 segundos no mundo. De acordo com a instituição, apenas 28 países relatam possuir uma estratégia nacional de combate a essa questão.

Embora a relação entre distúrbios suicidas e mentais (em particular, depressão e abuso de álcool) esteja bem estabelecida em países de alta renda, vários suicídios ocorrem de forma impulsiva em momento de crise, com um colapso na capacidade de lidar com os estresses da vida – tais como problemas financeiros, términos de relacionamento ou dores crônicas e doenças”, afirma a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), no site oficial nas Nações Unidas.

Sinopse de “O menino que espiava pra dentro”

O livro conta a história de Lucas, um menino com a maior facilidade de sonhar, de imaginar. Mesmo prestando muita atenção em tudo, tudo também é motivo para ele se distrair e entrar em um outro universo – mágico, longínquo, distante. Inventa um amigo, Talento ou Tamanco ou Tatá, anda sobre ondas, come a maçã do sono profundo, mora em conchas, voa pelos ares, vê automóveis-leões, bosques de caramelos… Não dava para espiar mais nada, para ver nada, nem na frente nem atrás. Só aquele breu profundo. Ele, de um lado. Do outro, o mundo. De repente um beijo, um abraço, os olhos se abrindo, a luz brilhando no espaço. – Você é uma princesa? A mãe riu… Uma narrativa que resgata na criança a fantasia, a liberdade, o encantamento, a possibilidade de brincar em outros reinos, em outras épocas, de serem outros seres.

O Lunetas convidou duas especialistas do livro e da leitura para refletir sobre o assunto. Afinal, o que significa um livro infantil ser atacado publicamente ao lado da palavra “Alerta”? O que o caso traz à tona em relação à mediação de leitura e a autonomia das crianças?

Cristiane Rogerio é jornalista, autora de “Carmela Caramelo” (editora Cortez), e coordenadora da pós-graduação “O livro para a infância: textos, imagens, materialidades“, d’A Casa Tombada, em São Paulo; Denise Guilherme é Mestre em Educação e pesquisadora de literatura infantojuvenil, autora do nosso parceiro editorial A Taba.

Abaixo, elas compartilham sua visão sobre o tema:

Lunetas – Do seu ponto de vista como profissional do livro e da leitura para a infância, o que este caso traz à tona?

Cristiane Rogerio – Em primeiro lugar, me vêm à mente duas coisas, e ao mesmo tempo: primeiro, de onde vem esta questão? Qual é o medo de quem espalhou isso – uma vez que não sabemos quem começou, porque não há uma pessoa assinando pelo que entendi -, como podemos acolher e entender de onde surge esta atitude radical de exibir o comentário sobre o livro como um “alerta”. Por que isso vem agora se o livro é de 1983? Está relacionado com os assustadores números de suicídios entre os jovens? Pelos dados da OMS, o suicídio é a terceira causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.

O segundo ponto: por que atacamos antes de apurar? Por que tanta gente está xingando a autora sem pensar que ela não teve a intenção – considerando, claro, que o livro tem algo que alguém poderia achar perigoso. E é só a partir daí que podemos pensar nas questões, vamos dizer, do viver com a literatura e que afastaria o ataque: será que o livro foi mal-interpretado? Será que a frase mais propagada na internet não está fora de contexto?

“Pensando nisso, vemos como estamos numa sociedade que não está pronta ainda para refletir primeiro e agir depois”

E isso vemos nas mais diversas situações: da mulher espancada até a morte na cidade do Guarujá (suspeita de fazer mal a crianças de lá, o que se provou depois não ser verdade) a dizer que uma autora tão experiente e dedicada aos textos para crianças e jovens tenha criado uma história que seja uma apologia ao suicídio.

O livro para a infância e a educação das crianças não está fora deste contexto geral e, de outras maneiras, isso vem acontecendo ao longo dos tempos. O que difere hoje é esse impulso de comunidade, que está muito ligado, infelizmente, a ideias radicais, fundamentalistas ou até fascistas. E, pode parecer contraditório, mas também por isso devemos refletir sobre o imbróglio a partir de nosso contexto hoje, com discussões que não existiam antes também porque avançamos em muitas questões.

Denise Guilherme – Esse caso, com tantos outros antes dele, revela o quanto ainda precisamos caminhar na formação de leitores e na construção de diálogos possíveis em nosso país.

Não só porque julga-se a obra a partir de um fragmento retirado de seu contexto, tirando qualquer possibilidade de compreensão do mesmo a partir do enredo da história, como expõe a fragilidade dos adultos em lidar com as questões trazidas pelas crianças sobre a vida e seus mistérios.
A dinâmica das redes sociais favorece a profusão do medo e de sentenças sobre todos os assuntos. Todo mundo se sente autorizado a acreditar que sua visão sobre os fatos é a única possível.

“Falta espaço para a escuta atenta, interessada que possibilita que enxerguemos o mundo não só pelas nossas lentes”

Além disso, muitos dos pais que enxergam tantos monstros nos livros infantis são os mesmos que deixam seus filhos expostos aos desenhos, novelas, noticiários, canais do YouTube e jogos – com conteúdos totalmente inadequados e que, diferentemente dos textos literários, não apresentam um potencial de fruição e apelo à construção de mundos simbólicos.

Lunetas – A interpretação do menino trouxe um “novo” caminho para a história? Pode comentar esse aspecto da autonomia de leitura da criança?

Cristiane Rogerio – Sem dúvida, pela repercussão entre a comunidade do livro, leitura e literatura e entre as famílias, a interpretação deste livro jamais será a mesma. Como jornalista sabemos que a notícia pode ir perdendo força, mas nunca mais se apaga. Sobre a autonomia de leitura da criança, tudo é possível.

“A criança tem autonomia e capacidade de fabular sobre qualquer assunto’

Sobre este caso específico, é impossível opinar pois, como disse antes, não sabemos sequer se esse diálogo realmente aconteceu. E, se aconteceu, faz parte.

“O livro publicado é do leitor, sujeito a qualquer interpretação. O mais bonito de desenvolver sempre a capacidade de leitura literária é justamente compartilhar interpretações”

O menino pode ter falado e a mãe tem direito e legitimidade, diante deste diálogo específico, de ficar assustada. Mas e o depois? É aí que muda tudo: reler o livro, conversar com a criança, conversar com professores, outros pais. Várias atitudes podem ser tomadas antes de propagar algo acusatório. Até procurar a editora, a autora. Vamos fazer um exercício de imaginar: e se ninguém tivesse reagido de forma feroz? Nem as mães e nem os que protestaram contra? O que teria acontecido? Que tipo de conversa teria acontecido?

Denise Guilherme – As crianças aprendem com e apesar dos adultos. Para criar uma criança, é preciso uma aldeia – diz um ditado. E muitas vezes, essa aldeia é formada pelas próprias crianças.
Se pararmos para observar a infância e escutarmos as coisas incríveis que dizem sobre si mesmos e sobre o mundo, veremos que, talvez, eles precisam dos adultos muito menos do que pensamos. Eles não são o futuro. São o agora.

Os adultos precisam acreditar na inteligência das crianças. Elas são capazes, sim, de ler e compreender textos com nossa ajuda. Elas podem, sim, ter chegar a descobertas que ainda não fizemos. Elas podem ir muito além. Não quero dizer com isso que devemos deixá-los sozinhos à sua própria sorte.

“Mesmo na história de Ana Maria Machado, é o próprio menino quem chega à conclusão de que só o mundo da imaginação não dá conta da experiência da vida”

Não é sua mãe que lhe diz isso. Ler junto, estar junto, brincar junto, aprender junto, viver junto. É isso que elas pedem. E não ler por, brincar por, aprender por ou viver por elas.

O que podemos fazer como adultos – e, para mim, essa é uma das coisas mais lindas da infância – é aproveitarmos essa chance que as crianças nos oferecem de vermos o mundo novamente pela primeira vez.

“A leitura de bons textos literários é um ótimo recurso para aproximar adultos e crianças”

Vivemos em uma sociedade que valoriza a perfeição, a juventude e alegria eternas. Nesse cenário, tudo o que é mau, feio ou monstruoso deve ficar escondido. O que fazer então como nossa própria feiúra? Com os comportamentos e desejos que não podemos expressar?

Lunetas – Qual é afinal o papel da família e dos professores/educadores no cotidiano de leitura da criança?

Cristiane Rogerio – Acredito que das maiores belezas do livro “para a infância”, “infantojuvenil”, “para crianças e jovens” está o acolhimento dos sentimentos das pessoas de todas as idades. Este encontros entre gerações e entre os diferentes. A chance fabulosa de ler junto, de discutir junto, de se dar vez a interpretar de forma diferente sem que isso vire uma briga.

Tanto a família quanto os professores podem estar nessa empreitada juntos. Convidando a criança a ser protagonista na leitura, assim como eles são. Com bastante prática e muitas oportunidades, adultos e crianças vão aprendendo a conviver com a arte e se relacionar com ela de forma questionadora, permitindo que converse com sentimentos, cause estranhamentos, acolha dúvidas, dê esperanças.

“A literatura, mesmo tendo um papel tão forte na educação, precisa encontrar seu papel de arte, do imponderável, da poesia, da metáfora”

E, a partir disso – e só a partir disso – esse leitor de qualquer idade vai pode criar seus próprios critérios, sempre a partir da reflexão. Ninguém precisa gostar de todos os (mesmos) livros, mas eles são um meio de mostrar este vínculo entre quem já está no mundo há um tempo (os adultos) e quem está chegando (as crianças). Uma forma de diálogo e um caminho de nos conhecermos melhor.

Denise Guilherme – O papel dos pais e professores deveria ser o de leitores. Ou seja, de se colocar no lugar daqueles que, assim como as crianças, estão construindo uma das muitas possíveis leituras sobre uma determinada obra.

É muito comum que em situações de mediação – especialmente nas escolas – as crianças estejam acostumadas a responder aquilo que acreditam que o outro gostaria de ouvir. E isso acontece em muitos diálogos da vida cotidiana.
Raramente exercitamos uma escuta interessada, verdadeiramente curiosa sobre o ponto de vista do outro.  Acredito que esse é o grande desafio de pais e educadores diante do livro. Estabelecer uma mediação horizontal. Ler junto, apresentar suas observações, ouvir o outro, compreender como pensou, buscar no texto pistas que sustentem suas posições.

Repercussão

A discussão tomou grandes proporções, chegando a grupos de outras redes sociais. No Google Books, por exemplo, diversas mensagens acusam o livro de incitar as crianças a praticar o suicídio, além de proferir ataques pessoais a Ana Maria Machado.”Que Deus tenha misericórdia dessa autora. Esse livro apresenta uma maneira inescrupulosa de como uma criança pode provocar um suicídio. Que o MEC reveja e retire esse livro de circulação”, diz um dos comentários.

Por outro lado, dezenas de páginas e coletivos de incentivo ao livro infantil manifestaram apoio à autora, como a Fundação Nacional do Livro Infanrtil e Juvenil (FNLIJ).

“A FNLIJ endossa, com ênfase, a declaração da Global Editora sobre o livro “O menino que espiava pra dentro”, de Ana Maria Machado. Ana Maria é uma de nossas maiores autoras, vencedora do Prêmio Hans Christian Andersen do IBBY e do Prêmio Ibero-Americano de Literatura Infantil e Juvenil da Fundação SM e referência na literatura para crianças e jovens no Brasil e no mundo”, diz a postagem.

A amplitude do caso também motivou um grupo de blogs que difundem a literatura infantil e juvenil a se unir para criar um manifesto de apoio à escritora e à importância do livro para a infância. A idealizadora da carta foi a professora e poeta Isabella Zappa, autora do Na Corda Bamba. Os blogs participantes do movimento foram Mergulho literário, Bamboleio, Conversa de quintal, Blog do Livrinho, Tempolendo, Sobre isso e aquilo, Mãe que lê, Conta outra vez, Casa da Rosinha, Ler o mundo, Leiturarte, Kids in doors, A cigarra e a formiga, Sementinha literária e Mar de Histórias. Leia o texto na íntegra abaixo:

Carta de Apoio a Ana Maria Machado e à Literatura

Em virtude dos recentes posts e mensagens que alegam incitação ao suicídio no livro infantil “O menino que espiava pra dentro”, da consagrada autora Ana Maria Machado, e também por outros casos semelhantes que vêm acontecendo ultimamente, nós, incentivadoras digitais, amentes e estudiosas da Literatura Infantil e Juvenil, gostaríamos de falar sobre o assunto.

Em primeiro lugar, acreditamos que uma obra literária não pode se lida ou interpretada a partir de um fragmento descontextualizado. É necessário compreender o texto por inteiro e com isso a mensagem completa do autor. Uma descontextualização dessas pode gerar ruídos que denunciam a formação de leitores deficitária deste país, mostrando como a literatura é mal interpretada, infelizmente.

O livro narra a história de um menino cheio de imaginação, que ama explorar seu mundo interior. Numa intertextualidade com contos de fadas clássicos, ele brinca de ser um “Belo adormecido” ou “Branco de neve”, querendo ficar um tempo mais lonjgo no mundo da imaginação. Assim, usa o mesmo recurso da história da Branca de Neve contada pelos Irmãos Grimm originalmente: engasga com uma maçã e vai para o mundo da imaginação, para depois “desengasgar” e voltar ao mundo “real”. Reparem que a autora refere-se à versão mais antiga e anterior à da Disney, em que a personagem engole uma maçã envenenada e é acordada por um príncipe.

É importante frisar dois pontos:

1) No fim do livro, ele é acordado pela mãe. Fica claro que a aventura foi um sonho do menino, e não um caminho real para chegar ao mundo da imaginação.

2) Mesmo com as maravilhas do seu mundo interior, no fim, a aventura não dá certo, pois tudo fica escuro, já que ele não tinha mais o mundo exterior para alimentá-lo. Quando ele acorda do sonho, portanto, percebe o valor de viver a vida para além da imaginação.

“O menino que espiava pra dentro” foi publicado em 1983, e não estamos cientes de qualquer relato de criança que tenha se inspirado na obra para cometer qualquer ato contra a própria vida.

“Mesmo que o livro abordasse um tema tão delicado ( o que não acontece), afirmar que ele uma apologia ao suicídio é o mesmo que dizer que os contos das Mil e Uma Noites estimulam a violência”

Com esse ponto, ressaltamos a importância de o adulto acompanhar as leituras feitas pela criança e o grande valor da mediação de leitura e do diálogo. A literatura em sua essência não se propõe a ter finalidade educativa, obras literárias não devem ser compreendidas como obras didáticas. Em um livro de histórias (note bem: não nos referimos a didáticos ou paradidáticos), a narrativa impera e não há intenção de se ensinar qualquer coisa que seja. Bons livros nos levam a boas reflexões.

Contudo, se mesmo assim a família considerar o texto arriscado, não há problemas, basta não o incluir em seu acervo. Mas é necessário abrir-se para a possibilidade de outras pessoas interpretarem de maneira diferente. Outras famílias podem achar, por exemplo, que o livro fala sobre a beleza do mundo da imaginação que pode ser encontrada dentro de cada um, num equilíbrio imprescindível entre o mundo interior e o exterior.

De onde vem o medo?

A fim de contextualizar o cenário em que a polêmica surgiu, é preciso lembrar a onda de pavor que pais, cuidadores e professores têm vivenciado nos últimos meses, com a divulgação recorrente de jogos e desafios de violência física e emocional envolvendo crianças e adolescentes, incluindo automutilação e até tirar a própria vida.

Casos como os da Baleia Azul, que divulgamos no Lunetas, podem ocasionar um reforço do medo que os familiares já possam vir a ter da exposição dos pequenos à realidade. Somado a isto, está o poder da internet e das redes sociais de propagar fake news e acentuar o pânico generalizado, sem checagem de veracidade.

“Este é só mais um, dentre tantos outros exemplos, que revelam não só o total desconhecimento do caráter simbólico e artístico dos textos literários, como o poder das redes sociais em espalhar o medo e em proferir sentenças”, defende Denise Guilherme, em texto sobre o tema publicado n’A Taba.

Em entrevista ao blog Página Cinco, do Uol, Ana Maria Machado afirmou estar consternada com a avalanche de ódio que recebeu.

“É tão absurdo que a gente não sabe como reagir”. A autora fez uma menção direta ao pais, referindo-se à importância do cuidado ativo e da leitura compartilhada entre adultos e crianças como um ponto positivo que o caso suscita.

“É uma época de denúncias levianas e de irresponsabilidade, que está fazendo muito mal ao país como um todo. Vivemos um momento em que há uma perigosa mistura de ódios, intolerância, fanatismo e superficialidade”, afirmou Ana Maria ao jornalista Rodrigo Casarin.

Em nota oficial à imprensa e aos leitores publicada no Facebook, a editora Global manifesta seu apoio à Ana Maria Machado. Leia na íntegra abaixo:

“A Global Editora tem recebido algumas manifestações sobre a obra O menino que espiava pra dentro, de Ana Maria Machado. As mensagens acusam o livro de incitar o suicídio entre as crianças. Precisamente, trata-se do texto da página 23, em que o menino come uma maçã para ingressar no mundo dos sonhos – um processo poético para a criança entrar no mundo da imaginação.

Esclarecemos que as referências à maçã e ao fuso são alusões às histórias da Branca de Neve ou da Bela Adormecida e constituem parte integrante do universo da história, sustentando o argumento de que imaginar pode ser muito bom, mas a realidade externa se impõe. Conversar com os outros (como a mãe) é fundamental, e a afetividade que nos faz felizes está ligada a seres vivos e reais.

O livro foi publicado em 1983 e até o momento não havia despertado nada de negativo nessa área. Inclusive, trata-se de uma obra adotada em diversas escolas brasileiras.

Ana Maria Machado é considerada pela crítica como uma das mais versáteis e completas escritoras brasileiras contemporâneas, com mais de 100 livros publicados no Brasil e em mais de 17 países, somando mais de 20 milhões de exemplares vendidos. O seu carinho e cuidado com a educação de nossas crianças e a formação de leitores sempre foi sua prioridade. Portanto, em momento algum, escreveria algo que pudesse prejudicá-las.

Todo o nosso apoio e carinho à Ana Maria Machado.

Equipe Global Editora”

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