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Alfabetização: o que é preciso para a criança dominar a escrita?

Menino concentrado em um jogo brinca montando as letras do alfabeto. A foto é em preto e branco.

De repente, vira-se uma chave: a criança que só reconhecia as letras do alfabeto, meses atrás, passa a unir sílabas e decodificar palavras. Em passeios pela rua, em casa, diante de cardápios e letreiros de lojas, começa a ler em voz alta todas as palavras que encontra. A alfabetização é uma etapa fundamental no seu desenvolvimento e um momento muito marcante na vida dos pais e, por isso mesmo, capaz de gerar muita ansiedade.

O que é exatamente a alfabetização?

Cristina Nogueira, coordenadora do curso de Pedagogia do Instituto Singularidades, esclarece: “A alfabetização pode ser definida como o domínio da técnica da escrita, quando a criança entende a relação entre letra e som e começa a escrever com autonomia, próximo ao padrão e de acordo com as normas ortográficas”.

Claro que, antes desse momento, há uma etapa mais ampla, que envolve trabalhar aspectos relacionados à formação da leitura e da escrita, ainda que não se exponha a criança diretamente à alfabetização. A Irmã Patrícia Ferreira de Morais, coordenadora geral da Educação Infantil e do Fundamental I do Colégio Santa Marcelina, em São Paulo, conta que, ali, esse é um movimento praticado desde que os pequenos ingressam na escola.

“Com dois anos, os alunos são inseridos em um universo de letramento. Têm atividades de estimulação e de leitura de mundo. Assim, com imagens e símbolos, vamos preparando a criança”

Panorama do letramento no Brasil
É importante pontuar que, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, o Brasil ainda tem 11 milhões de analfabetos – em 2016, essa taxa era de 12,9 milhões. Mais da metade dos analfabetos tem mais de 60 anos.

De acordo com a psicóloga e pedagoga Betty Monteiro, é importante que o processo formal de alfabetização comece a partir dos sete anos de idade. Para ela, trata-se de um marco que precisa ser respeitado, pois, nessa idade, o sistema nervoso já está amadurecido e as células nervosas estão mielinizadas, ou seja, com uma camada que as amadurece e as deixa prontas para absorver essas informações.

Além disso, para dominar a escrita, é preciso trabalhar, com a criança, a coordenação motora fina, a noção de tempo e de espaço, o saber se reconhecer e reconhecer o outro, conseguir decodificar símbolos, ter boa percepção visual e capacidade de discriminar sons.

“Antigamente, chamávamos isso de prontidão para a alfabetização, um requisito básico. Mas a criança deve estar pronta e há um momento anterior a isso”, explica.

“A Educação Infantil tem um papel fundamental, por ser um período preparatório físico, sensorial, emocional e psicomotor”

Como a alfabetização acontece?

Escolas de linhas pedagógicas variadas introduzem as crianças ao processo de alfabetização de formas diferentes, mas, a partir da Lei do Ensino Fundamental (2006) – que ampliou essa etapa de ensino para nove anos de duração com matrícula de crianças de seis anos de idade -, a orientação passou a ser a de alfabetizar os alunos somente nesta fase. Esse processo se inicia no primeiro ano e se estende aos próximos.

Um documento do Ministério da Educação diz: “O Ensino Fundamental de nove anos ampliou o tempo dos anos iniciais, de quatro para cinco anos, para dar à criança um período mais longo para as aprendizagens próprias desta fase, inclusive da alfabetização”.

Cristina Nogueira explica que há muitas discussões no meio da educação sobre a antecipação da alfabetização e uma eventual determinação para que o processo se encerre no segundo ano.

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A alfabetização não é só reconhecer letras e sons, mas também saber utilizá-los em um contexto.

No entanto, de acordo com a especialista, mais importante do que antecipar, é garantir que a criança curse uma Educação Infantil em que consiga “se apropriar de atitudes e comportamentos que envolvam a leitura e a escrita mesmo que ela não saiba escrever convencionalmente. Assim, já começará a construir conceitos importantes para depois usar a autonomia para ler e escrever”.

Outro ponto importante é que, desde os anos 1980, com pesquisas como a desenvolvida pela psicolinguista argentina Emilia Ferreiro, pesquisadora da escrita de crianças não alfabetizadas, a alfabetização passou a ser compreendida como um processo que vai além da apropriação do sistema de escrita e leitura.

“Passa não só por conhecer letras e sons e por conhecer o sistema do Português, mas por reconhecer e saber usar a leitura e a escrita em diferentes contextos”, explica Cristina

Assim, entende-se que a criança pensa sobre a forma como escreve, vai criando hipóteses alfabéticas e construindo as palavras e os significados.

No trabalho que o Instituto Singularidades desenvolve de formação de professores, tem-se uma perspectiva de que os participantes conheçam diferentes teorias e métodos de alfabetização, entendendo que a criança é ativa na construção do próprio conhecimento, mas sabendo fazer as intervenções certas para que o aluno avance no seu processo.

Cristina esclarece: “A criança não se alfabetiza sozinha. O adulto precisa ter bom conhecimento para fazer as perguntas e usar os materiais que ajudarão o aluno a se apropriar da escrita”.

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