Tantas e tantas vezes ouvimos dicas de como agir para não ceder aos apelos emocionais de nossos filhos e a não levar a sério tudo que eles dizem, afinal, eles são apenas crianças. O que defendemos no Mamusca é que ouvir a criança, nada tem a ver com resistir às suas supostas chantagens, para depois fazer o que a criança pediu.
Muito pelo contrário, falamos, basicamente, de respeitar o que as crianças sentem.
Assim como nós, adultos, as crianças não podem evitar sentir o que sentem. Elas podem aprender a reconhecer seus sentimentos para conseguir aprimorar, aos poucos, seu autocontrole. Mas, para isso, precisam da ajuda dos adultos: pais, professores, tios, avós, etc..
Ouvir, no sentido que defendemos aqui, significa tornar-se aliados delas, colocando-se no lugar delas cada vez que demonstrarem algum tipo de desconforto emocional ou estiverem muito irritados e com raiva.
Minimizar as situações de estresse ou desconsiderar qualquer sentimento não nos parece uma boa estratégia. Isso quer dizer que apesar de ser bem difícil ver seu filho angustiado com alguma questão, frases do tipo: “isso não é motivo para chorar” ou “não há motivo para sofrer por isso”, por exemplo, podem fazer com que ele sinta que ninguém o entende e, consequentemente, fazê-lo sofrer ainda mais. Se ele sofre, há, sim, um motivo. Não são os mesmos que os seus, mas eles existem para ele.
É difícil mesmo. Nem sempre falaremos a coisa certa, na hora certa. Mas esse é um exercício contínuo.
Para nos colocar no lugar deles, precisamos, antes de mais nada, reconhecer as nossas angústias como adultos. Por que o choro me causa tanta pena ou tanta raiva?
É totalmente compreensível que você fique irritado muitas vezes. Mas, se encararmos tudo isso com mais um desejo dele, algo que ele deseja que aconteça muito e, pensássemos nas diferenças entre desejar, querer, precisar e ter, cada vez que isso acontece, pode ser uma grande saída. Desejar é sempre possível.
Muitas vezes, simplesmente acolher o sentimento, reconhecendo como verdadeiro. Não ignorando, nem subestimando. Algo como “entendo porque está triste. Você queria muito que [uma determinada coisa acontecesse]”.
É desse “ouvir” atento que falamos. Da sensibilidade de reconhecer os sentimentos das crianças para que elas se sintam verdadeiramente compreendidas.
Se assim fosse, provavelmente mudaríamos o discurso de que os adultos que ouvem as crianças, costumam ceder aos seus desejos. É exatamente o oposto. Adultos que respeitam os sentimentos das crianças constroem relações seguras, pessoas confiantes e mais conscientes. Tente! Não há nada a perder e muito a ganhar.